Na Missa de Envio celebrada em
Lisboa na Festa da. Transfiguração, o Papa disse aos jovens que "gostaria
de poder fixar nos olhos a cada um de vós e dizer: não tenhas medo! Mas
anuncio-vos algo muito mais belo: o próprio Jesus agora olha para vós, Ele que
vos conhece e lê no vosso íntimo; olha para o vosso coração, sorri e repete que
Ele Vos ama sempre e infinitamente."
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Na manhã
deste domingo, 6 de agosto, o Papa Francisco presidiu a celebração da Santa
Missa para a Jornada Mundial da Juventude no Parque Tejo, em Lisboa. Eis sua
homilia preparada, sem as alterações e acréscimos:
"As
palavras do Apóstolo Pedro no Monte da Transfiguração são as mesmas que, depois
destes dias intensos, queremos fazer nossas: «Senhor, é bom estarmos aqui!» (Mt 17,
4). Foi bom o que experimentámos com Jesus, o que vivemos juntos e como
rezámos. Mas, depois destes dias de graça, perguntamo-nos: Que levamos connosco
quando regressarmos ao vale da vida quotidiana?
A partir do
Evangelho que ouvimos, quero responder a esta pergunta com três verbos: resplandecer, ouvir, não
temer.
Resplandecer. Jesus
transfigura-Se e – diz o texto – «o seu rosto resplandeceu como
o sol» (Mt 17, 2). Recentemente tinha anunciado a sua paixão e
morte de cruz, quebrando assim a imagem em voga dum Messias poderoso e mundano,
e dececionando as expectativas dos discípulos. Agora e precisamente para os
ajudar a acolher o amoroso projeto de Deus, que chega à glória pelo caminho da
cruz, Jesus toma consigo três deles – Pedro, Tiago e João – condu-los ao alto
dum monte e transfigura-Se: o seu rosto torna-se resplandecente e as suas
vestes cândidas. Este «banho de luz» prepara-os para a noite que terão de
atravessar; esta abertura luminosa ajudá-los-á a suportar a dificuldade das
horas mais escuras, ou seja, as do Getsémani e do Calvário.
Amigos,
também nós precisamos de alguns lampejos de luz para enfrentar a escuridão da
noite, os desafios da vida, os medos que nos inquietam, a escuridão que muitas
vezes vemos ao nosso redor. O Evangelho revela-nos que esta luz tem um nome.
Sim! Esta luz, que veio iluminar o mundo, é Jesus (cf. Jo 1,
9). Ele é a luz que nunca se põe e brilha mesmo durante a noite. Vêm-me ao
pensamento as palavras do sacerdote Esdras, que encontramos na Sagrada
Escritura e que também nós podemos repetir depois destes dias passados em
conjunto: «O nosso Deus quis fazer brilhar os nossos olhos» (Esd 9,
8). Iluminados por Cristo, também nós somos «transfigurados»: os nossos olhos e
os nossos rostos podem resplandecer com uma luz nova. Irmãos e irmãs, é isto
que a Igreja e o mundo esperam de vós: que sejais jovens luminosos, que levam a
luz do Evangelho a todos os lugares e acendem clarões de esperança nas trevas
do nosso tempo!
Quero
dizer-vos uma coisa: não nos tornamos luminosos quando nos colocamos sob os
holofotes, quando exibimos uma imagem perfeita e nos sentimos fortes e
bem-sucedidos. Mas resplandecemos quando, acolhendo Jesus, aprendemos a amar
como Ele, porque esta é a verdadeira beleza que resplandece: uma vida que
arrisca por amor. Um filósofo escreveu que a beleza da mensagem revolucionária
de Cristo consiste em «encontrar amável mesmo o objeto não amável» (S.
Kierkegaard, Gli atti dell’amore, Milão 1983, 579), ou seja, amar o
próximo como é: não apenas quando está em sintonia connosco, mas também quando
nos é antipático e apresenta aspetos de que não gostamos. Com a luz de Jesus,
isto é possível! Vós, jovens, podeis amar assim e derrubar certos muros, certos
preconceitos, levando ao mundo a luz do amor que salva. Que possais resplandecer
sempre deste amor, resplandecer de Jesus, «luz do mundo» (Jo 8,
12)!
O segundo
verbo é ouvir. No monte, uma nuvem luminosa cobre os discípulos e a
voz do Pai indica que Jesus é o Filho amado. O mandamento que o Pai dá é
simples e direto: «Escutai-O» (Mt 17, 5). Está tudo aqui: tudo
aquilo que se deve fazer na vida cristã, está nesta palavra, a última que o Pai
pronuncia no Evangelho de Mateus: escutai-O. Ouvir Jesus, conversar
com Ele, ler a sua Palavra e pô-la em prática, segui-Lo… porque Ele tem para
nós palavras de vida eterna, porque Ele revela que Deus é Pai e amor, porque
nos tornamos também nós, graças ao seu Espírito, filhos amados. É isto que
precisamos na vida: não é fama, sucesso, dinheiro, mas saber que não estamos
sozinhos, que temos sempre Alguém ao nosso lado, que começamos e terminamos o
dia com a certeza do abraço do Senhor. Precisamos de O ouvir, para acreditar
que somos amados e acompanhados por um amor que nunca falha. E lembremo-nos
disto: pôr-se à escuta do Senhor, permanecendo abertos às suas surpresas,
torna-nos pessoas capazes também de nos escutarmos uns aos outros, de escutar a
realidade que nos rodeia, as outras culturas, a voz sofredora dos pobres e dos
mais frágeis, o grito da Terra ferida e maltratada. Como é bom escutar Jesus,
escutarmo-nos mutuamente e crescermos no diálogo, num mundo onde tantos viajam
fechados na própria solidão, pensando em si mesmos.
Resplandecer,
ouvir e, por fim, não temer. São as últimas palavras que Jesus
pronuncia no monte para animar os discípulos assustados: «Levantai-vos e não
tenhais medo» (Mt 17, 7). Agora que tiveram uma antevisão da glória
pascal, que foram imersos na luz divina e ouviram a voz do Pai, os discípulos
podem descer do monte e enfrentar os desafios que os esperam no vale. O mesmo
se passa connosco: se guardarmos a luz de Jesus e as suas palavras, podemos
caminhar dia a dia na vida com o coração livre do medo.
A vós,
jovens, que cultivais sonhos grandes mas frequentemente ofuscados pelo medo de
não os ver realizados; a vós, jovens, que às vezes pensais que não ides
conseguir; a vós, jovens, tentados neste tempo a desanimar, a julgar-vos
inadequados ou a esconder a vossa dor disfarçando-a com um sorriso; a vós,
jovens, que quereis mudar o mundo e lutais pela justiça e a paz; a vós, jovens,
que investis o melhor da vosso esforço e imaginação ficando porém com a
sensação de que não bastam; a vós, jovens, de quem a Igreja e o mundo têm
necessidade como a terra da chuva; a vós, jovens, que sois o presente e o
futuro… precisamente a vós, jovens, é que Jesus diz: «Não tenhais medo».
Ressoam
mais vivas do que nunca as palavras que São João Paulo II pronunciou durante
uma JMJ: «Na realidade, é Jesus quem buscais quando sonhais a felicidade; é Ele
quem vos espera, quando nada do que encontrais vos satisfaz; Ele é a beleza que
tanto vos atrai; é Ele quem vos provoca com aquela sede de radicalidade que não
vos deixa ceder a compromissos; é Ele quem vos impele a depor as máscaras que
tornam a vida falsa; é Ele quem vos lê no coração as decisões mais verdadeiras
que outros quereriam sufocar. É Jesus quem suscita em vós o desejo de fazer da
vossa vida algo de grande. (...) Não tenhais medo de vos entregar a Ele» (Vigília
de oração, Roma 19/VIII/2000).
Queridos jovens, gostaria de
poder fixar nos olhos a cada um de vós e dizer: não tenhas medo! Mas
anuncio-vos algo muito mais belo: o próprio Jesus agora olha para vós, Ele que
vos conhece e lê no vosso íntimo; olha para o vosso coração, sorri e repete que
Ele Vos ama sempre e infinitamente. Sempre e infinitamente. Ide então e levai a
todos o sorriso luminoso de Deus! Ide e testemunhai a alegria da fé, a
esperança que vos aquece o coração, o amor que colocais em tudo. Resplandecei
da luz de Cristo. Escutai-O para vos tornardes também vós a luz do mundo. E não
tenhais medo, porque o Senhor ama-vos e caminha ao vosso lado. Com Ele a vida
ressurge sempre."
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