O Santo Padre presidiu o
Consistório Ordinário Público para três beatos: além do carmelita holandês
Titus Brandsma, morto em Dachau, serão também canonizadas a religiosa francesa
Maria Rivier e a religiosa italiana Maria de Jesus.
Salvatore
Cernuzio/Mariangela Jaguraba – Vatican News
O
Papa Francisco presidiu a Hora Terça e o Consistório Ordinário Público para a
votação de algumas Causas de Canonização, na manhã desta sexta-feira (04/03),
na Sala do Consistório, no Vaticano.
"Rezarei por
você". O carmelita Titus
Brandsma pronunciou estas três palavras, as últimas de sua vida, à
enfermeira que, por ordem das autoridades nazistas do campo de concentração de
Dachau, aplicou nele uma injeção letal. Um perdão, manifestado pelo religioso,
professor e jornalista, em seus últimos instantes de vida, na conclusão de uma
vida de santidade traduzida em coragem e determinação durante os anos sombrios
da invasão nazista.
Santidade que agora é reconhecida pela Igreja, que o canonizará
em 15 de maio próximo, junto com duas religiosas, a francesa Maria
Rivier e a italiana Maria
de Jesus , numa grande cerimônia, na Praça São Pedro, que também elevará à
honra dos altares sete beatos, cuja canonização foi decretada pelo Papa no
Consistório de 3 de maio de 2021, sem fixar uma data por causa da pandemia. A
cerimônia foi então marcada para maio. Dentre os beatos está também Charles
De Foucauld , religioso francês e explorador do Saara e da cultura tuaregue,
ponte de diálogo entre as religiões.
Dez novos
santos em 15 de maio
Em 15 de maio, serão dez os
novos santos proclamados pelo Papa Francisco. No início da cerimônia desta
sexta-feira (04/03), o prefeito da Congregação das Causas dos Santos, cardeal
Marcello Semeraro, leu os nomes e apresentou um breve perfil dos três beatos,
"irmãos e irmãs que acolheram a luz de Deus em seus corações e a
transmitiram ao mundo, cada um de acordo com sua própria tonalidade".
"Os milagres a eles atribuídos e reconhecidos pelo Papa", acrescentou
o cardeal, "são um sinal de que o povo de Deus não só admirou o seu
martírio ou o exercício heroico de suas virtudes, mas também reconheceu sua
proximidade a Deus a ponto de confiar na intercessão deles".
Brandsma, professor e jornalista contra o nazismo
"Homem manso, mas determinado", Brandsma, natural da
Holanda, onde a devoção a ele é profunda e difundida, em virtude do papel de
assistente eclesiástico dos jornalistas católicos, assim nomeado pelos bispos
holandeses, em 1935, utilizou a rede de jornais católicos para defender a
liberdade de informação e a dignidade de cada pessoa e condenar as ideologias
nazistas, das quais criticou duramente a abordagem anti-humana. Os seus
corajosos escritos tornaram-se um ponto de referência para a resistência moral
e cultural do povo holandês, mas entraram em choque com o Reich, que temia
"aquele professor maligno", como dizia a manchete do jornal
berlinense Fridericus ,
que decidiu silenciá-lo.
O pretexto foi a carta circular Brandsma enviada, em 31 de
dezembro de 1941, a todos os jornais católicos, exortando-os a não publicar
anúncios do Movimento Nacional Socialista que exaltava a "raça". Caso
contrário, dizia, "eles não deverão mais ser considerados católicos e não
deverão e não poderão contar com os leitores e assinantes católicos".
Padre Tito foi preso, em janeiro de 1942, como um perigoso subversivo e levado
para Amersfoort, um "campo de trânsito" à espera da deportação. Os
detalhes de seus dias de prisão são conhecidos graças a um diário e algumas
cartas enviadas aos superiores, confrades, familiares e amigos. Nelas, o
carmelita descreveu o espaço pequeno de sua cela, os maus-tratos, sem expressar
tristeza ou reclamações. Embora impossibilitado de receber a comunhão, ele
dizia sentir-se em casa na prisão, porque Deus estava ao seu lado.
Morte em Dachau
Ele manteve a mesma serenidade até sua morte ocorrida, em
Dachau, através de uma injeção de veneno. A enfermeira que o injetou o ácido
fênico relatou seus últimos momentos de vida, durante o interrogatório do
processo de canonização: "Ele pegou minha mão e disse: 'Pobre jovem que
você é, eu rezarei por você!" A viagem terrena de Brandsma concluiu-se, em
26 de julho de 1942, aos 61 anos. Em 3 de setembro de 1985, João Paulo II o
proclamou beato e mártir da fé. Agora, com Francisco, ele se tornará santo. O
milagre atribuído à sua intercessão foi a cura de um sacerdote carmelita de um
"melanoma metastático dos linfonodos", em 2004, em Palm Beach (EUA).
Maria
Rivier, uma vida dedicada à educação
Com Brandsma, será canonizada a francesa Maria Rivier. Sua
santidade foi cultivada desde o tempo em que criança, que sofria de uma doença
que a impedia de andar, prometeu à Virgem Maria que, se fosse curada, dedicaria
sua vida à educação das crianças. Ela foi curada e aos 18 anos abriu uma escola
para crianças em sua cidade natal. Na época da Revolução Francesa, tão hostil à
religião católica e suas instituições, seu carisma fundador floresceu: a jovem
fundou a Congregação das Irmãs da Apresentação de Maria. As irmãs se dedicaram
não somente à formação religiosa e educação das jovens, mas também a um
verdadeiro apostolado para o despertar da fé e da prática religiosa nas
paróquias onde as pessoas se reuniam todos os domingos, explicando a doutrina e
convidando-as à oração. Maria Rivier morreu em 3 de fevereiro de 1738 e foi
beatificada por João Paulo II, em 1982. O milagre atribuído à sua intercessão
diz respeito à recuperação vital, em 2013, de um menino de Meru, no Quênia, que
nasceu não obstante a "ausência prolongada de atividade cardíaca,
respiratória e neurológica".
Maria de Jesus, a "senhora" a serviço dos pobres e dos
pequenos
Maria de Jesus, fundadora das Irmãs Capuchinhas da Imaculada de
Lourdes, nasceu em Palermo sob o nome de Carolina Santocanale, em uma família
rica. Na casa de seus avós em Monreale, ela viu a necessidade de seu povo por
assistência e educação. Então, abandonou a ideia de uma vida de clausura, que
cultivava desde menina, e se colocou a serviço da população, que a chamava de
"senhora", mas que admirava sua humildade. Ela abraçou a
espiritualidade franciscana e tornou-se terciária. Reuniu outras jovens que queriam
passar a vida ajudando o próximo. Estabeleceu-se na cidade de Cinisi, onde, no
oratório, abriu um jardim de infância, um educandário e uma oficina de costura.
Trabalhou até o último de seus dias e morreu ao final de um dia cansativo, em
1923. O milagre de sua canonização diz respeito a duas gravidezes levadas a
termo, entre 2016 e 2017, por uma mulher siciliana que sofria de uma doença
grave que havia causado sua infertilidade.
Nove cardeais elevados à Ordem dos Persbíteros
No final do Consistório, seguiu-se a elevação de nove
cardeais da Ordem dos Diáconos à Ordem dos Presbíteros. Eles são os cardeais
Manuel Monteiro de Castro, (Diaconia de Domenico di Guzmán); Santos Abril y
Castelló, (San Ponziano); Antonio Maria Vegliò, (San Cesareo in Palatio); Giuseppe
Bertello, (Santissimi Vito, Modesto e Crescenzia); Francesco Coccopalmerio,
(San Giuseppe dei Falegnami); João Braz de Aviz, (Santa Elena fora de Porta
Prenestina); Edwin Frederick O'Brien, (San Sebastiano al Palatino); Domenico
Calcagno, (Anunciação da Santíssima Virgem na Via Ardeatina); Giuseppe
Versaldi, (Sagrado Coração de Jesus em Castro Pretório).
Fonte:
Vatican News
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