"Com
efeito, se o amor acaba em nós mesmos, a fé evapora-se num intimismo estéril.
Sem os outros, torna-se desencarnada. Sem as obras de misericórdia, morre.
Deixemo-nos ressuscitar pela paz, o perdão e as chagas de Jesus
misericordioso", disse Francisco em sua homilia.
Vatican News
O Papa Francisco presidiu a celebração eucarística
neste II Domingo de Páscoa (11/04), Domingo da Divina Misericórdia, na Igreja
de Santo Espírito, em Sassia, Santuário da Divina Misericórdia, nas
proximidades do Vaticano, seguindo as normas contra a Covid-19.
"Jesus ressuscitado aparece aos discípulos
várias vezes; com paciência, conforta os seus corações desanimados. E assim,
depois da sua ressurreição, realiza a «ressurreição dos discípulos»; e,
solevados por Jesus, mudam de vida. Antes, inúmeras palavras e tantos exemplos
do Senhor não conseguiram transformá-los; mas agora, na Páscoa, algo de novo se
verifica; e verifica-se sob o signo da misericórdia: Jesus os levanta com a
misericórdia; eles, obtendo misericórdia, tornam-se misericordiosos",
disse Francisco em sua homilia.
Segundo o Papa, os discípulos obtêm a misericórdia
mediante três dons: Jesus oferece-lhes a paz, depois
o Espírito e, por fim, as chagas.
A paz do coração
Em primeiro lugar, dá-lhes a paz. "Os
discípulos estavam angustiados. Fecharam-se em casa assustados, com medo de ser
presos e acabar como o Mestre. Mas não estavam fechados só em casa; estavam
fechados também nos seus remorsos: tinham abandonado e renegado Jesus;
sentiam-se uns incapazes, inúteis, falhos. Chega Jesus e repete duas vezes: «A
paz esteja convosco!»", disse o Papa, acrescentando:
Não traz uma paz que, de fora, elimina os
problemas, mas uma paz que infunde confiança dentro. Não uma paz exterior, mas
a paz do coração. Aqueles discípulos desanimados recuperam a paz consigo
mesmos. A paz de Jesus suscita a missão. Não é tranquilidade, nem comodidade; é
sair de si mesmo. A paz de Jesus liberta dos fechamentos que paralisam, quebra
as correntes que mantêm o coração prisioneiro. E os discípulos sentem-se
cumulados de misericórdia: sentem que Deus não os condena, nem humilha, mas
acredita neles.
O perdão no Espírito Santo
Em segundo lugar, Jesus usa de misericórdia com os
discípulos oferecendo-lhes o Espírito Santo. Dá a eles a remissão dos pecados.
"Temos sempre diante de nós o nosso pecado. Sozinhos, não podemos
cancelá-lo. Só Deus o elimina; só Ele, com a sua misericórdia, nos faz sair das
nossas misérias mais profundas. Como aqueles discípulos, precisamos de nos
deixar perdoar. O perdão no Espírito Santo é o dom pascal para ressuscitar
interiormente", disse ainda o Papa.
Peçamos a graça de o acolher, de abraçar o Sacramento
do perdão; e de compreender que, no centro da Confissão, não estamos nós com os
nossos pecados, mas Deus com a sua misericórdia. Não nos confessamos para nos
deprimir, mas para fazer-nos levantar. Todos precisamos disso. Caímos com
frequência e a mão do Pai está pronta a pôr-nos de pé e fazer-nos caminhar.
Esta mão segura e confiável é a Confissão. É o Sacramento que nos levanta, não
nos deixando caídos a chorar sobre as lajes duras das nossas quedas. É o
Sacramento da ressurreição, é pura misericórdia. E quem recebe as Confissões
deve fazer sentir a doçura da misericórdia.
As chagas derramam misericórdia sobre
as nossas misérias
Depois da paz que reabilita e do perdão que
levanta, eis o terceiro dom com que Jesus usa de misericórdia com os
discípulos: apresenta-lhes as chagas.
As chagas são canais abertos entre Ele e nós, que
derramam misericórdia sobre as nossas misérias. São os caminhos que Deus nos
patenteou para entrarmos na sua ternura e tocar com a mão quem é Ele. E
deixamos de duvidar da sua misericórdia. Adorando, beijando as suas chagas,
descobrimos que cada uma das nossas fraquezas é acolhida na sua ternura. Tudo
nasce da graça de obter misericórdia. Se, pelo contrário, nos apoiamos nas
nossas capacidades, na eficiência das nossas estruturas e dos nossos projetos,
não iremos longe. Só se acolhermos o amor de Deus é que poderemos dar algo de
novo ao mundo.
Tornemo-nos misericordiosos
Tendo obtido misericórdia, os discípulos se
tornaram misericordiosos. Como conseguiram mudar assim? "Viram no outro a
mesma misericórdia que transformou a sua vida. Descobriram que tinham em comum
a missão, o perdão e o Corpo de Jesus: a partilha dos bens terrenos
aparecia-lhes como uma consequência natural. Os seus medos dissolveram-se ao
tocar as chagas do Senhor, agora não têm medo de curar as chagas dos
necessitados, porque ali veem Jesus, porque ali está Jesus", disse o Papa.
"Não
vivamos uma fé pela metade, que recebe mas não dá, que acolhe o dom mas não se
faz dom. Obtivemos misericórdia, tornemo-nos misericordiosos. Com
efeito, se o amor acaba em nós mesmos, a fé evapora-se num intimismo estéril.
Sem os outros, torna-se desencarnada. Sem as obras de misericórdia, morre.
Deixemo-nos ressuscitar pela paz, o perdão e as chagas de Jesus misericordioso.
E peçamos a graça de nos tornar testemunhas de misericórdia. Só assim será viva
a fé; e a vida unificada. Só assim anunciaremos o Evangelho de Deus, que é Evangelho
de misericórdia", concluiu Francisco
Fonte: Vatican News
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