“Certamente
não é fácil deixar o tépido calor do mundanismo para abraçar a nua beleza da
gruta de Belém, mas lembremo-nos de que, sem os pobres, verdadeiramente não é
Natal. Sem eles, festeja-se o Natal, mas não o de Jesus... Irmãos, irmãs, no
Natal Deus é pobre: renasça a caridade!” Foi a exortação do Papa na Missa da
Noite de Natal presidida por Francisco na Basílica de São Pedro com a
participação de milhares de fiéis e peregrinos provenientes de várias partes do
mundo
Raimundo de Lima – Vatican News
Na homilia da Missa solene da Noite de Natal deste
sábado, na Basílica de São Pedro, com milhares de fiéis e peregrinos presentes
oriundos de várias partes do mundo, o Papa Francisco convidou-nos a redescobrir
o sentido do Natal. Como voltar a encontrar o seu significado? E sobretudo
aoinde ir procurá-lo? “O Evangelho do nascimento de Jesus parece escrito
precisamente para isto: tomar-nos pela mão e levar-nos lá onde Deus quer”,
ressaltou o Pontífice.
A manjedoura! Para voltar a encontrar o sentido do
Natal, é preciso fixar nela o olhar. E por que é tão importante a manjedoura?
Porque é o sinal, não casual, com que Cristo entra em cena no mundo. É o
manifesto com que Se apresenta, o modo como Deus nasce na história para fazer
renascer a história. Que nos quer dizer então a manjedoura? Pelo menos três
coisas: proximidade, pobreza e concretismo.
Francisco desenvolveu sua reflexão na homilia a partir daí.
Proximidade
A manjedoura serve para deixar o alimento mais
próximo da boca e assim consumi-lo mais depressa. Deste modo pode simbolizar um
aspeto da humanidade: a voracidade em consumir, ressaltou o Papa.
“E
as principais vítimas da voracidade humana são sempre os frágeis, os
vulneráveis. Também neste Natal, uma humanidade insaciável de dinheiro, poder e
prazer não dá lugar – como sucedeu com Jesus – aos mais pequenos, a tantos
nascituros, pobres, abandonados. Penso sobretudo nas crianças devoradas por
guerras, pobreza e injustiça. Mas é precisamente lá que vem Jesus, menino na
manjedoura do descarte e da rejeição.”
“Na manjedoura incómoda da rejeição, acomoda-Se
Deus: vem para ali, porque nela está o problema da humanidade, a indiferença
gerada pela pressa devoradora de possuir e consumir. Cristo nasce lá e, naquela
manjedoura, descobrimo-Lo próximo”, acrescentou o Santo Padre.
Pobreza
Além da proximidade, a manjedoura de Belém fala-nos
de pobreza. Na realidade - observou -, à volta duma manjedoura, não
há grande coisa: tojo, qualquer animal e pouco mais. As pessoas hospedavam-se
no quentinho dos albergues, não no estábulo frio duma pensão; mas aqui nasceu
Jesus, e a manjedoura lembra-nos que nada mais havia em redor senão quem Lhe
queria bem: Maria, José e alguns pastores… todos, pobres, irmanados pelo afeto
e a maravilha, não por riquezas e grandes possibilidades. E assim a pobre
manjedoura faz emergir as verdadeiras riquezas da vida: não o dinheiro nem o
poder, mas as relações e as pessoas.
“E
a primeira pessoa, a primeira riqueza é Jesus. Mas nós… queremos mesmo estar ao
seu lado? Aproximamo-nos d’Ele, amamos a sua pobreza? Ou preferimos cingir-nos
comodamente aos nossos interesses? Sobretudo visitamo-Lo onde Se encontra, isto
é, nas pobres manjedouras do nosso mundo? É lá que Ele está presente. E nós
somos chamados a ser uma Igreja que adora Jesus pobre, e serve Jesus nos
pobres.”
“Certamente não é fácil deixar o tépido calor do
mundanismo para abraçar a nua beleza da gruta de Belém, mas lembremo-nos de
que, sem os pobres, verdadeiramente não é Natal. Sem eles, festeja-se o Natal,
mas não o de Jesus... Irmãos, irmãs, no Natal Deus é pobre: renasça a
caridade!”, exortou o Papa.
Concretismo
Desenvolvendo o último ponto de sua reflexão,
Francisco ressaltou ainda que a manjedoura nos fala de concretismo.
“Jesus, que nasce pobre, viverá pobre e morrerá pobre, não fez muitos discursos
sobre a pobreza, mas viveu-a, em toda a sua profundidade, por nós. Da
manjedoura à cruz, o seu amor por nós foi palpável, concreto: do nascimento à
morte, o filho do carpinteiro abraçou a aspereza da madeira, a aspereza da
nossa existência. Não nos amou com palavras, não nos amou por divertimento!”
Por fim, o Santo Padre fez uma premente exortação:
“Não deixemos passar este Natal sem fazer algo de bom. Uma vez que é a festa
d’Ele, o seu aniversário, ofereçamos-Lhe prendas de que Ele gosta! No Natal,
Deus é concreto: em seu nome, façamos renascer um pouco de esperança em quem a
perdeu!” Francisco concluiu a homilia da Missa solene da Noite de Natal em
forma de oração:
Jesus,
contemplamo-Vos recostado na manjedoura. Vemo-Vos tão próximo, perto de nós
para sempre… Obrigado, Senhor! Vemo-Vos pobre, ensinando-nos que a verdadeira
riqueza não está nas coisas, mas nas pessoas, sobretudo nos pobres: desculpai,
Senhor, se não Vos reconhecemos e servimos nelas. Vemo-Vos concreto, porque
concreto é o vosso amor por nós: ajudai-nos a dar carne e vida à nossa fé.
Amém.
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