Na
primeira das três pregações para a Cúria Romana, por ocasião do advento, o
cardeal Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia tratou sobre o tema
da fé. Nas próximas pregações ele continuará com o tema das virtudes teologais.
Padre Pedro André, SDB – Vatican News
Como
já é tradição, nos períodos da Quaresma e do Advento, a Cúria Romana,
juntamente com o Papa Francisco, participam das pregações feitas pelo
pregador oficial da Casa Pontíficia, o cardeal Raniero Cantalamessa. Como tema
para as pregações do advento deste ano, Cantalamessa escolheu as virtudes
teologais: fé, esperança e caridade. Nesta sexta-feira, 2 de dezembro, na Aula
Paulo VI, houve o primeiro encontro onde foi tratado o tema
da fé.
Ao iniciar, fazendo alusão ao salmo 24, que fala sobre abrir
portas, o cardeal afirmou que “a grande porta que o homem pode abrir, ou
fechar, a Cristo, é apenas uma e se chama liberdade. Ela, porém, se abre
segundo três modalidades diversas, ou segundo três tipos diversos de decisão
que podemos considerar como outras portas: a fé, a esperança e a caridade.
Estas são todas portas especiais: abrem-se por dentro e por fora ao mesmo
tempo: com duas chaves, das quais uma está nas mãos do homem, a outra, nas de Deus.”
Cristo,
origem e cumprimento da fé
A respeito
do tema da primeira pregação ele disse que “com a vinda de Cristo, constata-se,
a propósito da fé, um salto de qualidade. Não na natureza dela, mas em seu
conteúdo. Já não se trata mais de uma fé genérica em Deus, mas da fé em Cristo
nascido, morto e ressuscitado por nós” pois “a fé cristã não consiste apenas em
crer em Deus; consiste em crer também naquele que Deus enviou.”
Ocorre que
com as afirmações acima surge uma pergunta: “Se a fé que salva é a fé em
Cristo, o que pensar de todos aqueles que não têm nenhuma possibilidade de crer
nele?” E para responder a esta questão é que “há algum tempo, está em curso um
diálogo entre as religiões, baseado no respeito recíproco e no reconhecimento
dos valores presentes em cada uma delas”, por isso “não se pode crer que Jesus
é Deus, e depois limitar a sua relevância de fato a apenas um setor restrito
dela. Jesus é ‘o
Salvador do mundo ’ (Jo 4,42); o Pai enviou o seu Filho ‘para
que o mundo seja salvo por meio dele ’ (Jo 3,17): o mundo, não alguns poucos
no mundo!” pois “Deus tem muito mais modos de salvar do que podemos pensar. Ele
instituiu ‘canais’ da sua graça, mas não se vinculou a eles. Um destes meios
‘extraordinários’ de salvação é o sofrimento. Depois que Cristo o assumiu sobre
si e o redimiu, também ele é, à sua maneira, um sacramento universal de
salvação.” Por isso “nós cremos que todos aqueles que se salvam, salvam-se
pelos méritos de Cristo: ‘Em
nenhum outro há salvação, pois não existe debaixo do céu outro nome, dado à
humanidade, pelo qual devamos ser salvos’ (At 4,12). Uma coisa,
contudo, é afirmar a necessidade universal de Cristo para a salvação e outra
coisa, afirmar a necessidade universal da fé em Cristo para a salvação.”
O desafio da ciência
Para Cantalamessa
o desafio que a fé cristã deve enfrentar em nossos tempos não vem da filosofia
mas da ciência. Ao citar os feitos do novo telescópio que enviou imagens
detalhadas do universo ele disse que “seríamos tolos e ingratos se não
participássemos do justo orgulho da humanidade por esta, como também por
qualquer outra descoberta científica. Se a fé – além do que da escuta – nasce,
como foi dito, do estupor, estas descobertas científicas não deveriam diminuir
a possibilidade de crer, mas aumentá-la” e acrescentou que “diante do
desdobrar-se das dimensões ilimitadas do universo diante de nossos olhos, o
maior ato de fé para nós, cristãos, não é crer que tudo isso foi criado por
Deus, mas crer que ‘tudo
foi criado por meio de Cristo para ele ’ (Cl 1,16), que ‘sem
ele nada foi feito de tudo o que foi feito ’ (Jo 1,3). O cristão tem uma
prova sobre Deus bem mais convincente daquela dada pelo cosmo: a pessoa e a
vida de Jesus Cristo.”
O
justo, na sua fidelidade, viverá
Segundo
Cantalamessa “a fé é o único critério capaz de fazer como que nos relacionemos
de modo justo, não apenas com a ciência, mas também com a história” e “a
história é uma contínua luta entre bem e mal, ímpios que triunfam e justos que
sofrem. A vitória estável do bem sobre o mal não deve ser buscada na própria
história, mas além dela” porém não se pode esquecer que “Deus escreve certo por
linhas tortas! As situações podem escapar das mãos dos homens, mas não das de
Deus.”
Recapitulando
a história recente, o cardeal afimou que “a humanidade viveu nos últimos anos
do século passado a libertação do poder opressor dos sistemas totalitários
comunistas. Mas não tivemos o tempo de dar um respiro de alívio, que outras
injustiças e violências surgiram no mundo” e por mais que o suceder das guerras
e tragédias continue a ocorrer não se pode esquecer que “Deus é justo e santo;
não permitirá que o mal tenha a última palavra e os malfeitores se valham
disso.”
Segundo
ele, o papel da Igreja diante destes fatos históricos é “colocar-se contra a
opressão e a prepotência, colocar-se sempre, ‘oportuna e inoportunamente’, do
lado dos pobres, dos fracos, das vítimas, daqueles que carregam o peso maior de
todo infortúnio e de toda guerra” e também se esforçar para remover “a
rivalidade entre as religiões, as famigeradas guerras de religião” e quanto a
isso “deve ser vista a utilidade de iniciativas como aquelas, iniciadas por São
João Paulo II e aceleradas hoje pelo atual Sumo Pontífice, para um diálogo
construtivo entre as religiões.”
Concluindo
sua primeira pregação Cantalamessa disse: “Vamos ao encontro de Cristo que vem,
com um ato de fé, que é também uma promessa de Deus e, portanto, uma profecia:
o mundo está nas mãos de Deus e, quando, abusando da sua liberdade, o homem
terá chegado ao fundo, ele intervirá para salvá-lo. Sim, intervirá para
salvá-lo! Para isso, de fato, veio ao mundo, há dois mil e vinte e dois anos.”
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2022-12/cardeal-cantalamessa-vamos-ao-encontro-do-cristo-que-vem.html
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