Dentro da conturbada invasão dos holandeses no nordeste do Brasil,
encontram-se os dois martírios coletivos: o de Cunhaú e o de Uruaçu. Esses
martírios aconteceram no ano de 1645, sendo que, padre André de Soveral e
Domingos de Carvalho foram mártires em Cunhaú; e padre Ambrósio Francisco Ferro
e Mateus Moreira em Uruaçu; dentre outros. Essa data tem grande importância por
serem os primeiros mártires reconhecidos pela Igreja no território Brasileiro.
O martírio é sempre recordado com amor e honra, pois é sinal de uma fé que vai
até o extremo de dar a vida por Jesus.
No Engenho de Cunhaú, principal polo econômico da Capitania do Rio
Grande (atual estado do Rio Grande do Norte), existia uma pequena e fervorosa
comunidade composta por 70 pessoas sob os cuidados do padre André de Soveral.
No dia 15 de julho, chegou em Cunhaú Jacó Rabe, trazendo consigo seus
liderados, os ferozes tapuias, e, além deles, alguns potiguares com o chefe
Jerera e soldados holandeses. Jacó Rabe era conhecido por seus saques e
desmandos feitos com a conivência dos holandeses, deixando um rastro de
destruição por onde passava. Dizendo-se em missão oficial pelo Supremo Conselho
Holandês do Recife, convoca a população para ouvir as ordens do Conselho, após
a missa dominical no dia seguinte (16 de Julho). Durante a Santa Missa, após a
elevação da hóstia e do cálice, a um sinal de Jacó Rabe, foram fechadas todas
as portas da igreja e se deu início à terrível carnificina: os fiéis em oração,
tomados de surpresa e completamente indefesos, eles foram covardemente atacados
e mortos pelos flamengos com a ajuda dos tapuias e dos potiguares.
A notícia do massacre de Cunhaú espalhou-se por todo o Rio Grande e
capitanias vizinhas, mesmo suspeitando dessa conivência do governo holandês,
alguns moradores influentes pediram asilo ao comandante da Fortaleza dos Reis
Magos. Assim, foram recebidos como hóspedes o vigário padre Ambrósio Francisco
Ferro, Antônio Vilela, o Moço, Francisco de Bastos, Diogo Pereira e José do
Porto. Os outros moradores, a grande maioria não pôde ficar no Forte, então,
assumiu a sua própria defesa, construiu uma fortificação na pequena cidade de
Potengi, a 25 km de Fortaleza. Enquanto isso, Jacó Rabe prosseguia com seus
crimes. Após passar por várias localidades do Rio Grande e da Paraíba, Rabe foi
então à Potengi e encontrou a heroica resistência armada dos fortificados. Como
sabiam que ele mandara matar os inocentes de Cunhaú, resistiram mais que
puderam, por 16 dias, até que chegaram duas peças de artilharia vindas da
Fortaleza dos Reis Magos. Não tinham como enfrentá-las; depuseram as armas e
entregaram-se nas mãos de Deus.
Cinco reféns foram levados à Fortaleza: Estêvão Machado de Miranda,
Francisco Mendes Pereira, Vicente de Souza Pereira, João da Silveira e Simão
Correia. Desse modo, os moradores do Rio Grande ficaram em dois grupos: 12 na
Fortaleza e o restante sob custódia em Potengi. No dia 2 de outubro chegaram
ordens de Recife mandando matar todos os moradores, o que foi feito no dia
seguinte, 3 de outubro. Os holandeses decidiram eliminar primeiro os 12 da
Fortaleza, por serem pessoas influentes, servindo de exemplo: o vigário, um
escabino, um rico proprietário. Foram embarcados e levados rio acima para o porto
de Uruaçu. Lá o chefe indígena potiguar, Antônio Paraopaba, e um pelotão armado
de duzentos índios seus comandados esperavam por eles. Repetiram-se, então, as
piores atrocidades e barbáries, que os próprios cronistas da época sentiam pejo
em contá-las, porque atentavam às leis da moral e modéstia.
Um deles, Mateus Moreira, estando ainda vivo, foi-lhe arrancado o
coração das costas, mas ele ainda teve forças para proclamar a sua fé na
Eucaristia, dizendo: “Louvado seja o Santíssimo Sacramento”. De acordo com os
relatos históricos, os invasores holandeses ofereceram aos fiéis católicos a
opção de conversão ao calvinismo, mas eles escolheram o martírio. Foram dezenas
de mortos nos dois episódios, mas apenas 30 tiveram o processo de beatificação
aberto em maio de 1988.
A 5 de março de 2000, na Praça de São Pedro, no Vaticano, o Papa João
Paulo II beatificou os 30 protomártires brasileiros, sendo 2 sacerdotes e 28
leigos beatificados. No dia 15 de outubro de 2017, ocorreu a canonização dos
primeiros mártires do Brasil. Esse processo canônico ocorreu por meio do
decreto papal chamado de canonização equipolente, que é marcada por três
requisitos: a prova da antiguidade e constância do culto ao candidato a santo,
o atestado histórico de sua fé católica e de suas virtudes, e a fama de
milagres intermediados pelo candidato.
Na cerimônia, o papa Francisco ressaltou alguns aspectos: “Os Santos
canonizados hoje, sobretudo os numerosos Mártires, indicam-nos esta estrada.
Eles não disseram “sim” ao amor com palavras e por um certo tempo, mas com a
vida e até ao fim. O seu hábito diário foi o amor de Jesus, aquele amor louco
que nos amou até ao fim, que deixou o seu perdão e as suas vestes a quem O
crucificava. Também nós recebemos no Batismo a veste branca, o vestido nupcial
para Deus” (Trecho da homilia da celebração).
Protomártires do Brasil, rogai por nós!
Fonte: Canção Nova Notícias
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