Vivemos as graças e
alegrias da Páscoa de Nosso Senhor Jesus Cristo. O que isto significa? A realidade mais
profunda de nossa fé. É em Jesus Ressuscitado que temos a vida e “a vida em
plenitude”. E recebemos dele, não a preço de ouro ou de prata, mas de seu
próprio sangue, a salvação que é participação na vida divina.
Feitos “participantes
da natureza divina” em Jesus, trazemos em nós o Seu Mistério de Vida. “Já não
sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim “, dizia o Apóstolo São Paulo. O que
somos, cristãos? Sejamos o que somos!
Misteriosamente a
pessoa humana é o único ser que pode não ser aquilo que é. Este é o “Mistério
da Iniquidade”. Dele nos liberta Jesus com sua Páscoa. Ele nos faz em si mesmo:
ser o que somos! O que nos faz Deus por sua graça.
Diante deste dom é
que celebramos a Semana Maior da Paixão, Morte, Sepultura e Ressurreição do
Senhor. E agora se prolonga a celebração da Festa Pascal por cinquenta dias,
como um só dia. Assim nos recorda a Liturgia da Igreja, com sua linguagem
própria, que estamos vivendo o Tempo Definitivo desta Páscoa do Senhor.
Desta realidade somos feitos participantes.
“Como em Sexta-feira
e Sábado Santo, a Igreja não cessa de contemplar este rosto ensanguentado, no
qual se esconde a vida de Deus e se oferece a salvação do mundo. Mas a sua
contemplação do rosto de Cristo não pode deter-se na imagem do Crucificado. Ele
é o Ressuscitado! Se
assim não fosse, seria vã a nossa pregação e a nossa fé (cf. 1 Cor 15,14). A ressurreição foi a resposta do
Pai à sua obediência, como recorda a Carta aos Hebreus: «Quando vivia na carne,
[Cristo] ofereceu, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas Àquele que
O podia salvar da morte, e foi atendido pela sua piedade. Apesar de Filho de
Deus, aprendeu a obedecer, sofrendo, e, uma vez atingida a perfeição, tornou-Se
para todos os que Lhe obedecem fonte de salvação eterna» (5,7-9).” (Carta Novo Millennio Ineunte – São João Paulo II)
Passados dois mil
anos destes acontecimentos, a Igreja os revive como se tivessem sucedido hoje.
… Ele «é o mesmo ontem, hoje e sempre» (Heb 13,8)”
(NMI 28).
O que nos quer dizer
tudo isso? Nossa vida de Igreja, nossa pastoral, nossa pregação de Evangelho,
nossa celebração de sacramentos, nossas atividades no meio do mundo, serão
verdadeiras se, carregando e alimentando em nós esta vida divina, ela se
expressar em tudo o que fizermos.
Ser Igreja não é
apenas executar atividades programadas, mas é acima de tudo testemunhar o
Senhor Vivo em nós, em nosso amor mútuo – seu Mandamento é distintivo dos
discípulos. Somos o “Corpo Místico de Cristo”, Ele vive em nós e age em nós.
Com quanta dignidade
somos chamados a viver nossa vida pessoal e eclesial! Com quanta coerência
devemos expressar nossos compromissos na transformação do mundo, amado por Deus
ao ponto de pagar por ele com Seu próprio Filho Unigênito! Com quanto respeito
e delicadeza devemos tratar as coisas divinas e humanas – todas elas fazem
parte da realidade que é Cristo!
Ainda Papa Francisco
conclue uma sua reflexão sobre a vivência da morte e ressurreição com
Cristo: “O Evangelho…, imediatamente
depois da morte de Jesus, mostra-nos o ícone mais belo da surpresa. É a cena do
centurião, que, «ao
vê-lo expirar daquela maneira, disse: “Verdadeiramente este homem era Filho de
Deus!”» (Mc 15, 39).
Deixou-se surpreender pelo amor. De que maneira vira Jesus morrer? Viu-o morrer
amando, e isto maravilhou-o. Sofria, estava exausto, mas continuava a amar. Eis
aqui a surpresa diante de Deus, que sabe encher de amor o próprio morrer. Neste
amor gratuito e inaudito, o centurião, um pagão, encontra Deus. Verdadeiramente
era Filho de Deus! A sua frase chancela a Paixão. Muitos antes dele no
Evangelho, admirando Jesus pelos seus milagres e prodígios, reconheceram-no
como Filho de Deus, mas o próprio Cristo mandava-os calar, porque havia o risco
de se deterem na admiração mundana, na ideia dum Deus que se devia adorar e
temer enquanto poderoso e terrível. Agora já não há tal risco; ao pé da cruz,
já não é possível equivocar-se: Deus revelou-se e reina só com a força
desarmada e desarmante do amor… Deixemos que nos impregne este assombro,
olhemos para o Crucificado e digamos também nós: «Vós sois verdadeiramente
Filho de Deus. Vós sois o meu Deus».”
E a todos os votos de
Santa e Feliz Páscoa no Senhor Ressuscitado. Ele é a nossa Vida e a nossa
Salvação, nossa Luz e Esperança de ressurreição. Nele somos salvos e libertos.
Com Ele, o Amor tudo venceu, vence e vencerá.
+
José Antonio Aparecido Tosi Marques
Arcebispo Metropolitano de
Fortaleza
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