Ao impor essa cinza sobre
nós, o sacerdote, ou ministro, dirá: “convertei-vos e crede no Evangelho”. Esta
é a frase de Jesus, que sintetiza o desejo do Pai Celeste de que voltemos a
Ele, nos recorda Padre Paulo de Souza, monge beneditino do Mosteiro de São
Geraldo de São Paulo.
Padre
Paulo de Souza OSB
Bem-vindos,
irmãos e irmãs. Bem-vindos à Quaresma. Bem vindos a este tempo de graça, de
bênção e da Salvação de Deus. Nosso Pai Celeste está com muita saudade de nós.
Ele sente falta de seus filhos amados, assim como todo pai e toda mãe anseiam
pela volta dos filhos que estavam distantes. Ouçamos o convite que o próprio
Deus nos faz, através do Profeta Joel: “voltai para mim com todo o vosso
coração”.
A
volta é uma ocasião de alegria, de júbilo e de festa. Mas o profeta
acrescenta que devemos voltar a Deus com jejuns, lágrimas e gemidos. Por quê?
Ora, porque estamos distantes d'Ele pelo nosso pecado, pela maldade que
cometemos, pelo nosso mundo de erros e de iniquidades. Praticamos o mal,
cometemos tantas injustiças, ofendemos a Ele e aos irmãos e irmãs que nos
rodeiam.
Nossa
volta é o abandono sincero e penitente do desamor ao nosso Pai Celeste, fonte
de todo amor e bondade. É a reconciliação para a qual somos chamados, a fim de
reatar o pacto de amor e fidelidade com Aquele que nos fez por amor, e de quem
nos afastamos pela ímpia desobediência. “Ele é benigno e compassivo”, diz o
profeta. “É paciente e cheio de misericórdia. É generoso no perdão e na
bondade, apesar de nossa indignidade”.
Com
certeza seremos bem recebidos, com aquele abraço amoroso e paterno, como nos
anunciou seu próprio Filho Jesus, na monumental Parábola do Pai Misericordioso
e do Filho Pródigo de Lc 15. Nosso jejum, nossas lágrimas e gemidos são aquela
dor, aquele arrependimento e a humildade do filho que voltou. E como esse
filho, vamos ao Pai com o coração totalmente despojado das glórias e conquistas
deste mundo. Com a cabeça inclinada, diremos a Ele que não somos dignos de ser
seus filhos, e merecemos realmente a condição de empregados.
Convertei-vos e crede no Evangelho
Queridos
amigos, irmãos e irmãs, este é o sentido das Cinzas que vamos receber. Ao impor
essa cinza sobre nós, o sacerdote, ou ministro, dirá: “convertei-vos e crede no
Evangelho”. Esta é a frase de Jesus, que sintetiza o desejo do Pai Celeste de
que voltemos a Ele.
É
uma mensagem de alegria e libertação, o abandono radical de tudo o que é
mundano, da hipocrisia e do farisaísmo, da falta de autenticidade que nos faz
viver de aparências enganosas, do egoísmo, da luxúria, da soberba e
especialmente da falta do amor e da fé. Nossa volta a Deus é o desejo de uma
vida totalmente renovada, porque estávamos no lodaçal do pecado e da imundície,
como mais uma vez está bem expresso na parábola do Filho Pródigo: estávamos
cuidando de porcos e passando fome.
Os
animais comiam melhor do que nós. Por isso, ao voltarmos à casa do Pai, nosso
impulso fundamental é a penitência, a humildade, o pedido de perdão e o
reconhecimento da nossa indignidade. Aliás, ao recebermos as cinzas, a frase
alternativa do ministro é: “lembra-te de que és pó, e ao pó voltarás”. É uma
mensagem triste e dolorosa, como se não tivéssemos direito a mais nada, a não
ser ao castigo, à dor, ao sofrimento e à morte!
Mas
é aqui que precisamos voltar ao sentido da festa e da alegria do Pai que nos
recebe. Por um lado, voltaremos a ser o pó da terra. Com certeza! Por isso
deixamos que se derramem cinzas sobre nós. Por outro lado, a cinza desta
Quarta-feira é a cinza da ressurreição.
É
necessário que morra e volte ao pó o corpo contaminado pela lepra do pecado,
para que, como nos ensina o apóstolo Paulo em 1 Cor 15, o Pai Celeste nos dê um
novo corpo, que não mais será sujeito à corrupção deste mundo; será um corpo
imortal, totalmente renovado, lavado e purificado no sangue glorioso de Nosso
Senhor Jesus. É o sentido profundo deste tempo de Quaresma, que irá desembocar
na gloriosa Páscoa.
Redimidos pelo sangue de Jesus
O
castigo, a dor, o sofrimento e a morte serão assumidos totalmente por Jesus,
que carregará a Cruz que seria destinada a cada um de nós, pecadores. E por este
sangue precioso, que mais do que sangue humano é sangue de Deus, o nosso Pai
bondoso e Misericordioso nos vestirá com a melhor roupa de sua casa, fará a
festa e nos devolverá a dignidade de filhos.
Aqui
está o feliz desfecho da parábola do Filho Pródigo: na cinza que éramos, quando
estávamos longe da casa do Pai pelo pecado, será derramado o sangue do nosso
Redentor. E este Cristo que sofre a morte por nós, vencerá a morte pela
ressurreição; e pelo desmedido amor que Deus tem para conosco, desta Ressurreição
todos participaremos felizes no Reino dos Céus.
Assim,
a Páscoa de Cristo não será somente sua, mas de todos os que Ele faz voltar
para Deus. Com Jesus, todos seremos filhos pródigos.
Iniciemos,
portanto, nossa preparação para a Páscoa de Jesus, deixando-nos reconciliar com
Deus, como pede São Paulo. Este é o tempo favorável. Este é o dia da Salvação.
Como o Filho Pródigo, voltemos ao Pai na humildade, na contrição do coração, na
força do amor e da fé.
É o
que Jesus nos pede no Evangelho. Joguemos fora e libertemo-nos das falsas
aparências, da vaidade, da arrogância, da soberba e de todos os males.
Esqueçamos as recompensas e os louvores do mundo, que se transformam na
podridão e na condição daquele pobre filho, que estava cuidando de porcos; e de
tanta fome que tinha, desejava comer a comida dos porcos.
E
quantas vezes nós alimentamos nossa mente e o coração com o lixo, com o
vitupério da iniquidade e - desculpem a vulgaridade da expressão -, com as
porcarias deste mundo! Ao voltarmos à casa do Pai pelo jejum, pela esmola, pela
humildade, pela caridade, pela oração, teremos a verdadeira recompensa, que nos
proporcionará a verdadeira alegria do Reino dos Céus, que durará para
sempre.
Tenhamos
todos uma santa preparação para a Páscoa de Jesus, que é também a nossa Páscoa.
Louvado seja Ele, Nosso Senhor Jesus Cristo.
Fonte:
Vatican News
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