A partir do ocaso, no obscurantismo nefasto, adverso e
malévolo, quantos motivos a pensar, irmãos e irmãs, nas noites do silêncio de
Deus, com vozes a clamar num espaço infinito, silêncio esse de homens e
mulheres a clamar por justiça e compaixão, nas marcas e provas das torturas
trazidas nos corpos (cf. Frei Tito de Alencar). Ao mesmo tempo, Deus nos diz:
“Vós participastes, com efeito, do sofrimento dos prisioneiros e aceitastes com
alegria a espoliação, certos de possuir uma fortuna melhor e mais durável. Não
percais, pois, a vossa segurança que tamanha recompensa merece” (Hb 10, 34-35).
Nada de indiferença
diante da tortura, instrumento para arrancar, pela força e pela violência, os
próprios pensamentos e sentimentos das pessoas que já perderam a liberdade. Na
tortura se constata, evidentemente, a antítese da liberdade e da esperança. “Na
tortura, o discurso que o torturador busca extrair do torturado é a negação
absoluta e radical da liberdade” (cf. Brasil Nunca Mais).
É muito deplorável e
estarrecedora a veemente afirmação feita pelo presidente Jair Bolsonaro: “O
erro da ditadura foi torturar, e não matar”. Também fazia questão de apreciar a
frase: “Quem procura osso é cachorro”, referindo-se aos desaparecidos da
ditadura de 64, do Araguaia, que até mesmo seu colega ex-presidente do Chile,
Sebastián Piñera, na ocasião ousou em discordar.
A afirmação “Ninguém
será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou
degradante”, da Assembleia Geral da ONU, na Declaração Universal dos Direitos
Humanos, bem que ajuda a não esquecer: foram 21 anos, profundamente obscuros e
nefastos, vividos pelo povo brasileiro. Não temos dúvidas da devastação de
todos os jardins da democracia e da liberdade, de acordo com os registros da
nossa História. O golpe militar foi um cruel não ao humanismo, ocasião em que
se vivenciou a ausência de liberdade, sem esquecer dos tenebrosos porões da
tortura, quando aconteciam mortes atrozes e inumanas de muitos irmãos e irmãs.
Com o golpe de 31 de
março de 1964, o pôr do sol se eternizou em um não à vida de muitos irmãos,
neutralizando a aurora da esperança, no mistério do tempo e da vida. O sol
vermelho, no romper da aurora, a iluminar o céu, que ilumine a humanidade e a
vida como um todo. Na esperança, associamo-nos a todos, mesmo sabendo que a
noite vem dia após dia, mas que todos, indignados, possam dizer: noites
obscuras e nefastas, como as da ditadura militar de 64, nunca mais.
*Pároco de Santo
Afonso, blogueiro, jornalista, escritor, poeta e integrante da academia Metropolitana
de Letras de Fortaleza (AMLEF).
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