A
pobreza nas Bem-aventuranças, indica que "o discípulo de Jesus não
encontra a sua alegria no dinheiro ou em outros bens materiais, mas nos dons
que recebe de Deus todos os dias: a vida, a criação, os irmãos e as irmãs, e
assim por diante". Ele " sabe questionar-se, sabe buscar humildemente
a Deus todos os dias, e isso lhe permite mergulhar na realidade, apreendendo
dela a riqueza e a complexidade".
Jackson
Erpen - Cidade do Vaticano
“Como é um discípulo de
Jesus? A resposta é precisamente as Bem-aventuranças”. Ele aceita seus
paradoxos e tem alegria no coração.
A inspiração do Papa para sua alocução, que precedeu a oração
mariana do Angelus deste
VI Domingo do Tempo
Comum, vem do Evangelho de Lucas proposto pela liturgia do dia, em cujo centro
estão as Bem-aventuranças. E Jesus as proclama, “dirigindo-se aos seus
discípulos”, pois para quem não O segue, “elas podem soar estranhas”.
O sentido do "ser pobres"
“Vemos a primeira – disse Francisco dirigindo-se aos peregrinos
presentes na Praça São Pedro - que é a base de todas as outras:
"Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus". Ou
seja, Jesus diz que seus discípulos “são bem-aventurados e pobres; que são
bem-aventurados porque são pobres”. Mas em que sentido?
“No sentido de que o discípulo
de Jesus não encontra a sua alegria no dinheiro, no poder, ou em outros bens
materiais, mas nos dons que recebe de Deus todos os dias: a vida, a criação, os
irmãos e as irmãs, e assim por diante: são dons da vida. Mesmo os bens que
possui, sente-se feliz em partilhá-los, porque vive na lógica de Deus. E qual é
a lógica de Deus? A gratuidade. O discípulo aprendeu a viver na gratuidade.
Esta pobreza é também uma atitude em relação ao sentido da vida, porque o
discípulo de Jesus não pensa que o possui, que já sabe tudo, mas sabe que deve
aprender todos os dias. E essa é uma pobreza: a consciência de ter que aprender
a cada dia (...). Por isso é uma pessoa humilde, aberta, livre de preconceitos
e rigidez.”
O discípulo busca humildemente a Deus todos os dias
Voltando seu pensamento ao Evangelho do último domingo, em que
Pedro aceita o convite de Jesus para lançar as redes em uma hora inusitada, e
admirado com a prodigiosa pesca, deixa tudo para seguir o Senhor, o Papa
observa:
“Pedro mostra-se dócil
deixando tudo, tornando-se assim discípulo. Por outro lado, quem é muito
apegado às próprias ideias e às próprias seguranças, dificilmente segue
realmente Jesus. Segue-o um pouco, |somente nas coisas com as quais eu concordo
e que Ele está de acordo comigo|, nas outras não. E este não é um discípulo. E
assim cai na tristeza. Fica triste porque as contas não fecham, porque a
realidade escapa aos seus esquemas mentais e ele se vê insatisfeito. O
discípulo, por outro lado, sabe questionar-se, sabe buscar humildemente a Deus
todos os dias, e isso lhe permite mergulhar na realidade, apreendendo dela a
riqueza e a complexidade.”
Aceitar o paradoxo das Bem-aventuranças
Em outras palavras, o discípulo “aceita o paradoxo das
Bem-aventuranças”. Elas declaram que é bem-aventurado, isto é, feliz, “quem é
pobre, quem carece de tantas coisas e reconhece isso”:
“Humanamente, somos levados
a pensar de outra forma: é feliz quem é rico, quem é saciado de bens, quem
recebe aplausos e é invejado por muitos, quem tem todas as seguranças. E este é
um pensamento mundano, não é pensamento das Bem-aventuranças. Jesus, ao
contrário, declara um fracasso o sucesso mundano, pois se baseia em um egoísmo
que infla e depois deixa o vazio no coração.”
Assim, perante o paradoxo das Bem-aventuranças, “o discípulo
deixa-se pôr em crise, consciente de que não é Deus quem deve entrar nas nossas
lógicas, mas nós nas suas”:
E
isso requer um caminho, às vezes cansativo, mas sempre acompanhado pela
alegria. Porque o discípulo de Jesus é alegre com a alegria que lhe vem de
Jesus. Porque, recordemo-nos, a primeira palavra que Jesus diz é:
bem-aventurados. Disto o nome das Bem-aventuranças. Este é o sinônimo de ser
discípulo de Jesus. O Senhor, libertando-nos da escravidão do egocentrismo,
desfaz nossos fechamentos, dissipando a nossa dureza, e nos revela a verdadeira
felicidade, que muitas vezes se encontra onde nós não pensamos. É Ele a guiar a
nossa vida, não nós, com os nossos preconceitos ou com as nossas exigências.
“O discípulo, por fim, é
aquele que se deixa guiar por Jesus, que abre o coração a Jesus, escuta-O e
segue o caminho.”
Alegria do coração é uma marca do discípulo
Podemos então nos perguntar: “tenho a disponibilidade do
discípulo? Ou me comporto com a rigidez de quem se sente bem, de quem chegou
lá? Deixo-me "desfazer por dentro" pelo paradoxo das Bem-aventuranças
ou permaneço no perímetro de minhas ideias? E depois, com a lógica das
Bem-aventuranças, para além das fadigas e dificuldades, sinto a alegria de
seguir Jesus? Esta é a característica marcante do discípulo: a alegria do
coração. Não nos esqueçamos: a alegria do coração. E esta é a medida de
comparação, para saber se alguém é discípulo: tem a alegria no coração? Eu
tenho a alegria no coração? Este é o ponto.”
"Que Nossa Senhora, a primeira discípula do Senhor – pediu
o Santo Padre ao concluir - nos ajude a viver como discípulos abertos e
alegres."
Amtes de despedir-se, o Papa Francisco dirigiu uma saudação a um
grupo de fiéis de Funchal e Estreito de Câmara dos Lobos, na Ilha de Madeira,
Portugal, presentes na Praça São Pedro para o Angelus.
Fonte: Vatican
News
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