O
prefeito da Secretaria para a Economia explica o Balanço consolidado da Santa
Sé no ano da pandemia: o déficit é de 66,3 milhões de euros, mas o Óbolo tem
sido utilizado em menor escala do que nos anos anteriores para apoiar as
despesas relacionadas às missões. Aumento das contribuições para as Igrejas
mais necessitadas.
ANDREA TORNIELLI
“O
ano de 2020 foi um ano difícil, que obrigou os Dicastérios do Vaticano a
reduzir as despesas. Para sustentar as diversas atividades, a serviço da missão
do Papa, foi utilizado menos o Óbolo de São Pedro, em relação aos anos
passados. No entanto, as Igrejas nos países mais afetados pela pandemia foram
ajudadas”: é o que emerge do Balanço consolidado das finanças da Santa Sé,
apresentado, neste sábado, 24 de julho, pelo jesuíta Juan Antonio Guerrero
Alves, Prefeito da Secretaria para a Economia (SPE), em entrevista a Andrea
Tornielli, diretor editorial do Dicastério para a Comunicação.
Em 2020, marcado pela pandemia da Covid-19, o sacerdote destaca
que os resultados foram até "um pouco melhores que os melhores cenários
hipotéticos" devido à eclosão pandêmica. “A boa notícia - diz o Jesuíta, -
é que, graças aos esforços feitos, os resultados são muito parecidos aos de um
ano normal”. De fato, explica, “o déficit ordinário é inferior aos 14,4 milhões
de euros de 2019: 64,8 milhões de euros, em 2020, contra 79,2 milhões de euros”
no ano anterior.
No
entanto, o Prefeito da Secretaria para a Economia da Santa Sé afirma que “a
rentabilidade nas aplicações financeiras foi inferior em 51,8 milhões de euros,
mas o resultado extraordinário também foi inferior em 17,8 milhões de euros”.
Isto significa que “o déficit do ano passado foi de 11,1 milhões de euros e o
deste ano de 66,3 milhões de euros”. Tudo isso apenas em relação ao Balanço da
Santa Sé, sem contar o do Governatorato, do IOR e o de muitas outras entidades,
entre as quais os hospitais, fundações, o Fundo de Aposentadorias do Vaticano,
o Fundo de Assistência à Saúde, cujas obrigações e riscos dizem respeito à
Santa Sé. “Se acrescentarmos as demais entidades – recorda o Jesuíta espanhol -
o quadro seria um pouco pior, uma vez que as entidades da Santa Sé não têm fins
lucrativos e muitas tendem a perder, porque prestam serviços que não são
completamente financiados".
Dicastérios
agiram com responsabilidade
Em relação
aos aspectos positivos do Balanço, Padre Juan Antonio Guerrero Alves elogia os
Dicastérios, que “agiram com responsabilidade” para reduzir as despesas, embora
tenham “diminuído aparentemente pouco” - de 318 milhões para 314,7, ou seja,
apenas 3,3 milhões -. Mas, na realidade, “se eliminarmos os ônus financeiros,
que, este ano, foram muito maiores, devido à variação das taxas de câmbio, as
despesas diminuíram em quase 26 milhões de euros; teriam sido bem menores se não
fossem os 6,7 milhões de gastos extraordinários referentes à Covid-19, e outros
3,5 milhões de despesas ordinárias”.
Neste
sentido, o Prefeito da Secretaria para a Economia leva em consideração o lindo
gesto de alguns Dicastérios, vinculados às Igrejas mais necessitadas: “além de
reduzir as despesas, aumentaram as contribuições para essas Igrejas, atingidas
pela pandemia, chegando, às vezes, até a diminuir o seu patrimônio, como no
caso do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral”.
Menor
recurso ao Óbolo de São Pedro
Detendo-se,
depois, sobre o menor recurso ao Óbolo de São Pedro, o Jesuíta esclarece: “Além
da arrecadação de 44 milhões de euros, foram doados outros 50 milhões para a
missão do Santo Padre, em 2020, sem contar os 12 milhões para projetos
específicos em vários países”. Assim, “o Óbolo gastou 18 milhões de euros a
mais do que os arrecadados, lançando mão dos seus ativos anteriores”.
Entretanto,
é preciso levar em consideração também "o total das entradas, que
diminuíram de 58,5 milhões de euros", enquanto as doações em geral e as
provenientes das dioceses do mundo inteiro, permaneceram invariáveis, passando
de 55,8 milhões em 2019 para 56,2, em 2020.
A este
respeito, o Jesuíta acha “que a pandemia levou os Dicastérios a perceber suas
fragilidades, identificar áreas de melhoria e dar passos positivos no caminho
da reforma”.
Notamos,
diz Padre Guerrero Alves “a fragilidade nos processos de tomada de decisão”,
mas, acrescenta, “isso fez com que as entidades, com responsabilidades em
matérias econômicas, pudessem trabalhar juntas de forma mais coordenada”, bem
como na perspectiva de um serviço informático, para centralizar os dados em
fase construção.
Claro,
continua o Jesuíta, “os projetos com finalidades específicas, financiados por
vários doadores (33 milhões de euros) e a contribuição das dioceses à Santa Sé
(23 milhões), são muito parecidos com os de 2019. Porém, não devemos esquecer
que a arrecadação do Óbolo, até agora não incluída no Balanço consolidado da
Santa Sé, caiu em 23%, entre 2015 e 2019, e no primeiro ano do Covid, em 18%.
Em 2019 foram arrecadados 53,86 milhões e, em 2020, 44 milhões".
Em todo o
caso, diz o sacerdote, "espero que os passos que estão sendo dados na
justa direção de uma melhor gestão, de um controle mais eficaz e de uma maior
transparência, possam ajudar a restabelecer uma maior credibilidade".
Na
entrevista à Vatican News, o Prefeito da Secretaria para a Economia da Santa Sé
enfrenta também as questões jurídicas sobre a venda imobiliária em Londres. “Este
processo - diz Padre Guerrero – refere-se a um passado, embora recente, mas
sempre a um passado. Pode-se sempre cometer erros, mas, hoje, acontecimentos
como este não podem se repetir. Este processo foi possível porque alguns
controles internos funcionaram: as acusações saíram de dentro do Vaticano. Há
vários anos, as medidas tomadas continuam na justa direção. O recente “Motu
proprio” do Papa Francisco, sobre as questões econômicas, tornou a economia
do Vaticano mais transparente e a “Moneyval” reconheceu os progressos feitos”.
Redução
dos custos
Enfim, o
dado mais evidente no Balanço da Santa Sé é a redução dos custos, afirma o
Padre Juan Antonio Guerrero Alves: “Em comparação com 2019, reduzimos, em
medidas diferentes, todos os itens de despesas; reduzimos as viagens e eventos
em 6,2 milhões de euros, 75% menos que no ano anterior. Outro item, chamado
indevidamente como 'comercial', foi reduzido em 4,9 milhões de euros. Muitos
gastos de manutenção foram adiados, resultando uma diminuição em 4,6 milhões de
euros. As Nunciaturas também apertaram o cinto, reduzindo seus gastos em 4
milhões de euros; a mesma coisa aconteceu com os serviços de consultoria,
reduzidos em 1,6 milhões de euros, menos 19% que no ano anterior”.
“O único
setor que ainda não diminuiu seus gastos, - acrescenta o Jesuíta - são os
impostos, pagos praticamente como no ano passado: 18,8 milhões de euros. Além
disso, todos os que prestam serviço à Santa Sé e às instituições relacionadas
foram convidados a fazer sacrifícios, para diminuir ou não aumentar os
salários: para garantir a sustentabilidade econômica, mantendo a justa decisão
do Papa de não demitir funcionários, e gerar maior motivação entre o pessoal,
seria oportuno fazer um plano, em longo prazo, para manter uma política de trabalho,
com programas de desenvolvimento profissional e formativo”.
Por fim,
falando sobre a passagem da gestão dos fundos da Secretaria de Estado para a
Administração do Patrimônio da Sé Apostólica (APSA), o Prefeito da Secretaria
confirmou: “Os fundos administrados pela APSA já fazem parte do Balanço
ordinário da Santa Sé. No ano que vem, todos os fundos entrarão no Balanço
patrimonial e responderemos pelos rendimentos e despesas do Óbolo de São Pedro.
Estamos cientes de que a rapidez de uma legislação, a rapidez da sua prática e
a rapidez com que os costumes e as culturas mudam são muito diferentes. Às
vezes, é preciso usar a inteligência, ter boa vontade e muita paciência”.
Fonte: Vatican News
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