A presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou, nesta terça-feira, 9 de fevereiro, uma nota na qual esclarece pontos referentes à realização da Campanha da Fraternidade Ecumênica deste ano, cujo tema é: “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor” e o lema: “Cristo é a nossa paz. Do que era dividido fez uma unidade”, (Ef 2,14a).
O documento
reafirma a Campanha da Fraternidade como uma marca e, ao mesmo tempo, uma
riqueza da Igreja no Brasil que deve ser cuidada e melhorada sempre mais por
meio do diálogo. Iluminado pela Encíclica Ut
Unum Sint, de 1999, do Papa São João Paulo II, o texto aponta também ser necessário cuidar da causa ecumênica.
Sobre
o texto-base da CFE deste ano, os bispos afirmam que a publicação seguiu a estrutura de pensamento
e trabalho do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), conselho
responsável pela preparação e coordenação da campanha da fraternidade em seu
formato ecumênico. “Não se trata, portanto, de um texto ao estilo do que
ocorreria caso fosse preparado apenas pela comissão da CNBB”, aponta a Nota.
No documento, a
presidência da CNBB reafirma que a Igreja Católica tem sua doutrina
estabelecida a respeito das questões de gênero e se mantém fiel a ela. “A doutrina católica sobre as questões de gênero afirma
que ‘gênero é a dimensão transcendente da sexualidade humana, compatível com
todos os níveis da pessoa humana, entre os quais o corpo, a mente, o espírito,
a alma. O gênero é, portanto, maleável sujeito a influências internas e
externas à pessoa humana, mas deve obedecer a ordem natural já predisposta pelo
corpo” (Pontifício Conselho
para a Família, Lexicon – Termos ambíguos e discutidos sobre família, vida e
questões éticas., pág. 673).
A nota informa
que os recursos do Fundo Nacional de Solidariedade (FNS) seguem rigorosa
orientação, obedecendo não apenas a legislação civil vigente para o assunto,
mas também a preocupação quanto à identidade dos projetos atendidos. “Os
recursos só serão aplicados em situações que não agridam os princípios
defendidos pela Igreja Católica”, reforça a nota.
A presidência
da CNBB afirma, no parágrafo final, que apesar de nem sempre ser fácil cuidar
das dificuldades levantadas pela realização de uma Campanha da Fraternidade e
da caminhada ecumênica e de muitos outros aspectos da ação evangelizadora da
Igreja, nem por isso se deve desanimar e romper a comunhão, o que segundo os
bispos é uma das maiores marcas dos cristãos. “Não desanimemos. Não desistamos.
Unamo-nos”, exorta a presidência da CNBB.
Conheça,
abaixo, a íntegra do documento. Aqui a versão em PDF:
NOTA DA
PRESIDÊNCIA DA CNBB
Irmãos e irmãs
em Cristo Jesus,
“Não apagueis o
Espírito, não desprezais as profecias,
mas examinai tudo e guardai o que for bom” (1 Ts 5,21)
1. No exercício
de nossa missão evangelizadora, deparamo-nos com inúmeros desafios, diante dos
quais não podemos esmorecer, mas, ao contrário, buscar forças para responder
com tranquilidade e esperança.
2. Nosso país vive um tempo entristecedor, com tantas mortes causadas pela
covid-19, um processo de vacinação que gostaríamos fosse mais rápido e uma
população que se cansou de seguir as medidas de proteção sanitária. Nosso
coração de pastores sofre diante de tantas sequelas que surgem a partir da
pandemia, em especial o empobrecimento e a fome.
A Campanha da Fraternidade 2021
e suas características
3. Em meio a tudo isso e atendendo à solicitação de irmãos bispos, desejamos
abordar a Campanha da Fraternidade deste ano. Algumas afirmações têm ocasionado
insegurança e mesmo perplexidade.
4. Como sabemos, a Campanha da Fraternidade é uma riqueza da Igreja no Brasil,
nascida e amadurecida não sem dificuldades e mesmo sofrimentos. A cada
Campanha, o aprendizado se fortalece e se mostra continuamente necessário.
Assim acontece com cada tema escolhido e assim acontece quando as Campanhas,
desde o ano 2000, são feitas em modo ecumênico.
5. Para este ano, o tema escolhido foi o diálogo, com o tema, portanto,
fraternidade e diálogo: compromisso de amor. Trata-se, como explicado nas
formações feitas pelo nosso Setor de Campanhas, do recolhimento dos temas
anteriores, em especial desde 2018, que tratou da superação da violência, até
2020, quando apresentou-se a proposta cristã do cuidado.
6. Para 2021, conforme aprovação em nossa Assembleia Geral de 2018, a Campanha
foi construída ecumenicamente e, conforme costume desde o ano 2000, sob a
responsabilidade do CONIC. Nas primeiras reuniões, discerniu-se pelo tema do
diálogo, urgência num tempo de polarizações e fanatismos, cabendo então ao
CONIC a construção do texto-base. Isso foi feito conforme está explicado na apresentação
do mesmo, com detalhamento da equipe elaboradora, na pág. 9.
7. Consequentemente, o texto seguiu a estrutura de pensamento e trabalho do
CONIC. Foram realizadas várias reuniões, o texto passou por revisão da
assessoria teológica do CONIC, uma assessoria com membros das diversas igrejas,
chegando, então, ao que hoje temos. Não se trata, portanto, de um texto ao
estilo do que ocorreria caso fosse preparado pela comissão da CNBB, pois são
duas compreensões distintas, ainda que em torno do mesmo ideal de servir a
Jesus Cristo. O texto-base desse ano, por conseguinte, deve ser assim
compreendido, como o foi nas Campanhas da Fraternidade levadas a efeito de modo
ecumênico.
Algumas questões específicas
8. Nos últimos dias, reações têm surgido quanto ao texto. Apresentam argumentos
que esquecem da origem do texto, desejando, por exemplo, de uma linguagem
predominantemente católica. Trazem ainda preocupações com relação a aspectos
específicos, a saber, as questões de gênero, conforme os números 67 e 68 do referido
texto.
9. A doutrina católica sobre as questões de gênero afirma que “gênero é a
dimensão transcendente da sexualidade humana, compatível com todos os níveis da
pessoa humana, entre os quais o corpo, a mente, o espírito, a alma. O gênero é,
portanto, maleável sujeito a influências internas e externas à pessoa humana,
mas deve obedecer a ordem natural já predisposta pelo corpo” (Pontifício
Conselho para a Família, Lexicon – Termos ambíguos e discutidos sobre família,
vida e questões éticas., pág. 673).
Uma ajuda destacável
10. Já pronto o texto-base, fomos presenteados com a Fratelli Tutti, que
recomendamos vivamente seja também utilizada como subsídio para a Campanha da
Fraternidade deste ano. Ela estabelece forte conexão entre o tema de 2020 e o
de 2021, cuidado e diálogo, e muito ajudará na reflexão sobre o diálogo e a
fraternidade.
Coleta da Solidariedade
11. Junto com essas preocupações de conteúdo, surgiu ainda a sugestão de que
não se faça a oferta da solidariedade no Domingo de Ramos, uma vez que
existiria o risco de aplicação dos recursos em causas que não estariam ligadas
à doutrina católica.
12. Lembramos que, em 2019, foi distribuída pelo Fundo Nacional de
Solidariedade – FNS a quantia de R$3.814.139,81, fruto da generosidade de
nossas comunidades, não se incluindo nessa quantia o que foi destinado aos
fundos diocesanos. Em 2020, por causa da pandemia, não ocorreu arrecadação.
Somente com a ajuda da instituição alemã Adveniat conseguimos atender a 15
projetos.
13. Sobre isso, recordamos que o FNS segue rigorosa orientação, obedecendo não
apenas a legislação civil vigente para o assunto, mas também preocupação quanto
à identidade dos projetos atendidos. Desde o início da construção da Campanha
da Fraternidade de 2021, temos informado ao CONIC a respeito da dificuldade e
até mesmo da impossibilidade de mantermos a estrutura do Fundo de Solidariedade
como ocorrido nas Campanhas ecumênicas anteriores. Sobre este ponto, tendo como
base a última dessas Campanhas, a de 2016, esta Presidência já manifestou ao
CONIC as dificuldades e, por espírito de comunhão e corresponsabilidade, vai
conversar sobre o assunto na próxima reunião do CONSEP. A conclusão será
informada em seguida.
Desse modo:
14. Em consequência, respeitando a autonomia de cada irmão bispo junto aos seus
diocesanos e como não poucos irmãos nos têm solicitado indicações para informar
ao povo sobre a CF 2021, consideramos importante que sejam destacados os
seguintes aspectos:
1) A Campanha da Fraternidade é um valor que não podemos descartar.
2) Alguns temas, conforme seu modo de ser apresentado, tornam-se mais difíceis
que outros.
3) A Igreja tem sua doutrina estabelecida a respeito das questões de gênero e
se mantém fiel a ela.
4) Os recursos do Fundo Nacional de Solidariedade serão aplicados em situações
que não agridam os princípios defendidos pela Igreja Católica.
5) A causa ecumênica se mantém importante. “Uma comunidade cristã que crê em
Cristo e deseja com o ardor do Evangelho a salvação da humanidade não pode de
forma alguma fechar-se ao apelo do Espírito que orienta todos os cristãos para
a unidade plena e visível … O ecumenismo não é apenas uma questão interna das
comunidades cristãs, mas diz respeito ao amor que Deus, em Cristo Jesus,
destina ao conjunto da humanidade; e criar obstáculos a este amor é uma ofensa
a Ele e ao Seu desígnio de reunir todos em Cristo” (S. João Paulo II, Encíclica
Ut Unum Sint, 99)
15. Concluímos lembrando a importância da Campanha da Fraternidade na história
da evangelização do Brasil. É nossa marca. Cabe-nos cuidar dela, melhorá-la
sempre mais por meio do diálogo, assim como nos cabe cuidar da causa ecumênica,
um ideal que se nos impõe. Se nem sempre é fácil cuidar de ambos e de muitos
outros aspectos de nossa ação evangelizadora, nem por isso devemos desanimar e
romper a comunhão, uma de nossas maiores marcas, um tesouro que o Senhor Jesus
nos deixou e do qual não podemos abrir mão. Não desanimemos. Não desistamos.
Unamo-nos.
Brasília-DF, 09
de fevereiro de 2021
Dom Walmor Oliveira de
Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
Presidente da CNBB
Dom
Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre (RS)
Primeiro Vice-Presidente da CNBB
Dom
Mário Antônio da Silva
Bispo de Roraima (RR)
Segundo Vice-Presidente da CNBB
Dom
Joel Portella Amado
Bispo auxiliar da arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)
Secretário-geral da CNBB
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