Cuidar do outro é praticar a
fé, “pois ninguém está imune do mal da hipocrisia”, diz o Papa Francisco na
mensagem para o Dia Mundial do Enfermo 2021. O Pontífice repete a crítica feita
por Jesus a quem diz, mas não faz e acaba reduzindo a fé a “exercícios verbais
estéreis, sem se envolver na história e nas necessidades do outro”.
Bianca
Fraccalvieri – Cidade do Vaticano
«Um
só é o vosso Mestre e vós sois todos irmãos»: este versículo do Evangelho de
Mateus (Mt 23, 8) inspirou a mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial
do Enfermo de 2021, celebrado tradicionalmente no dia 11 de fevereiro, dia de
Nossa Senhora de Lourdes.
O
texto foi divulgado esta terça-feira (12/01) e é intitulado “A relação de
confiança, na base do cuidado dos doentes”.
De modo especial, o
Pontífice dedica a mensagem às pessoas que sofrem em todo o mundo os efeitos da
pandemia do coronavírus. “A todos, especialmente aos mais pobres e
marginalizados, expresso a minha proximidade espiritual, assegurando a
solicitude e o afeto da Igreja.”
Ninguém está imune do mal da hipocrisia
Quanto ao trecho do Evangelho de Mateus, o Papa explica que
Jesus critica a hipocrisia de quantos dizem, mas não fazem. Esta crítica,
afirma, é sempre salutar para todos, “pois ninguém está imune do mal da
hipocrisia”, um mal muito grave, cuja consequência é reduzir a fé a “exercícios
verbais estéreis, sem se envolver na história e nas necessidades do outro”,
isto é, uma incoerência entre o credo professado e a vida real.
A experiência da doença, escreve Francisco, nos faz sentir a
nossa vulnerabilidade e, ao mesmo tempo, a necessidade natural do outro. A
doença obriga a questionar-se sobre o sentido da vida; uma pergunta que, na fé,
se dirige a Deus.
A doença tem um rosto
Como remédio à hipocrisia, Jesus propõe sentir empatia e
deixar-se comover pelo sofrimento do irmão.
A doença, afirma ainda o Papa, tem sempre um rosto: o rosto de
todas as pessoas doentes, que se sentem ignoradas, excluídas, vítimas de
injustiças sociais que lhes negam direitos essenciais.
Para Francisco, a atual pandemia colocou em evidência tantas
insuficiências dos sistemas sanitários e carências na assistência às pessoas
doentes, que deveria ser uma prioridade. “Isto depende das opções políticas, do
modo de administrar os recursos e do empenho de quantos revestem funções de
responsabilidade.”
“Ao mesmo tempo, a pandemia
destacou também a dedicação e generosidade de profissionais de saúde,
voluntários, trabalhadores e trabalhadoras, sacerdotes, religiosos e
religiosas: com profissionalismo, abnegação, sentido de responsabilidade e amor
ao próximo, ajudaram, trataram, confortaram e serviram tantos doentes e os seus
familiares.”
Com efeito, prossegue o Papa, “a proximidade é um bálsamo
precioso, que dá apoio e consolação a quem sofre na doença”. Quem serve, fixa
sempre o rosto do irmão, toca a sua carne, sente a sua proximidade e, em alguns
casos, até “padece” com ela. “Por isso, o serviço nunca é ideológico, dado que
não servimos ideias, mas pessoas”, escreve o Pontífice, citando uma sua homilia
pronunciada em Havana, Cuba, em 2015.
Confiança
Neste serviço para com os mais necessitados, Francisco aponta
como decisivo o “aspecto relacional”, isto é, a confiança que se cria entre o
doente e quem o acompanha.
“Esta relação com a pessoa
doente encontra uma fonte inesgotável de motivações e energias precisamente na
caridade de Cristo, como demonstra o testemunho milenar de homens e mulheres
que se santificaram servindo os enfermos.”
As curas realizadas por Jesus, destaca o Pontífice, nunca são
gestos mágicos, mas fruto de um encontro, uma relação interpessoal, em
que ao dom de Deus, oferecido por Jesus, corresponde a fé de quem o acolhe.
Que ninguém fique sozinho
Francisco então conclui recordando que uma sociedade é tanto
mais humana quanto melhor souber cuidar dos seus membros frágeis e atribulados
e o fizer com uma eficiência animada por amor fraterno. “Tendamos para esta
meta, procurando que ninguém fique sozinho, nem se sinta excluído e
abandonado.”
Por fim, o Papa confia todos os doentes e agentes da saúde a
Maria, Mãe de Misericórdia e Saúde dos Enfermos. “Que Ela, da Gruta de Lurdes e
dos seus inumeráveis santuários espalhados por todo o mundo, sustente a nossa
fé e a nossa esperança e nos ajude a cuidar uns dos outros com amor fraterno. A
todos e cada um concedo, de coração, a minha bênção.”
Fonte:
Vatican News
Nenhum comentário:
Postar um comentário