Como os cristãos devem se
posicionar diante do cenário da vacinação contra a Covid-19? Esta é a pergunta
que buscou responder a primeira live “Ciência e Fé Católica: Moralidade das
vacinas anticovid-19”, promovida pelo Setor Universidades da Comissão Episcopal
Pastoral para a Cultura e a Educação da Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB) e pela Sociedade Brasileira de Cientistas Católicos (SBCC), na
quarta-feira, 20 de janeiro.
Tratou-se da
primeira live de uma série de três que a CNBB promoverá, a cada 15 dias,
com o objetivo de discutir temas ligados à saúde, à ciência e à fé
católica. As lives serão transmitidas ao vivo, às 17h, pela pelos canais da
CNBB, SBCC e da Comissão para Cultura e Educação no Youtube. A live, muito
elogiada pelos internautas, já conta nesta sexta-feira, 22 de janeiro, com mais
de 1.700 visualizações.
O professor
Deivid Carvalho, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cientistas
Católicos (SBCC), foi mediador da conversa que contou com as participações do
padre Aníbal Lopes, doutor e membro da pontifícia Academia Pro Vita e da
Academia Brasileira de Ciências, e de dom Francisco Agamenilton, bispo da
diocese de Rubiataba-Mozarlândia (GO) e membro do Comitê Teológico da SBCC.
O professor Deivid Carvalho, acima, à direita na
foto, foi mediador da conversa que contou as participações do padre Aníbal
Lopes e de dom Francisco Agamenilton (abaixo na foto). Foto: print da live.
O mediador destacou que os
três encontros virtuais foram pensados para discutir as questões éticas
levantadas pelo contexto da vacinação contra a Covid-19. “Neste contexto, somos
convidados a refletir, oportunamente, sobre nossos laços de fraternidade,
caracterizados pelo Papa Francisco de amizade social”, disse em clara
referência à encíclica Fratteli Tutti.
A celebrada
vacina, segundo Deivid Carvalho, enche a humanidade de esperança ao mesmo tempo
que levanta questões éticas relacionadas ao direito individual e à
coletividade. “Frente a tantas questões, voltamos ao velho dilema da liberdade
individual e do respeito ao interesse coletivo”, disse. O debate e as reflexões
da live buscaram apresentar os posicionamentos da Igreja Católica sobre as
vacinas.
O
que diz a Igreja Católica sobre a vacina contra a Covid-19
O bispo da
diocese de Rubiataba-Mozarlândia (GO), dom Francisco Agamenilton, apresentou
sua reflexão a partir da nota “Vacina para Todos: 20
pontos para um mundo mais justo e saudável”, publicada dia 29 de
dezembro de 2020, pela Comissão Vaticana Covid-19, criada pelo Papa Francisco
em abril de 2020, e pela Pontifícia Academia para a Vida.
Quando a
comissão do Vaticano fala de vacina para todos, segundo o bispo, ela se baseia
nos princípios básicos da Doutrina Social da Igreja: dignidade humana, bem
comum, justiça, solidariedade, destinação universal de um bem público, proteção
da Casa Comum e a opção da Igreja pelos pobres. “Quando falamos de vacina,
estamos falando de vida. E a vida sempre foi objeto de cuidado e atenção da
Igreja. Todas as formas de vida e principalmente a vida humana desde a
concepção até a morte natural”, disse.
Segundo o
bispo, falar de vacina é também falar da vida comunitária, aspecto essencial da
vida cristã. “Infelizmente a vacina chegou num contexto em que as pessoas estão
demasiadamente individualistas, vivendo cada uma no seu quadrado”, disse.
“Vacinar-se ou
não é uma escolha. Portanto, uma questão ética que nos coloca diante do bem e
do mal. O cristão deve tomar a vacina ou não? É moralmente obrigatório ou não?
Estas são questões éticas e morais com as quais os cristãos encontram-se
envolvidos nestes dias”, disse. De acordo com dom Francisco, a nota do Vaticano
não obriga ninguém a vacinar, contudo suscita um sério questionamento sobre a
responsabilidade na colaboração com o bem comum.
“A vacina
que nos ajuda no combate à Covid-19 faz parte do bem comum. Nós temos a grave
responsabilidade de favorecer e promover o bem comum. A responsabilidade moral
de se submeter à vacina nos remete à ligação entre saúde pessoal e saúde
pública. Nesse momento, a Igreja chamou ao exercício da nossa responsabilidade
e atenção às outras pessoas. O cuidado com a sua vida implica em cuidado com a
vida dos outros. Promover a sua saúde significa promover a saúde dos outros”,
afirmou.
Segurança
e implicações éticas
Sobre a
segurança da vacina, o bispo disse que é momento de a humanidade renovar sua
confiança na ciência e nas autoridades competentes. “Se não houver confiança em
quem historicamente já demonstrou competência vamos confiar em quem?”,
perguntou.
Segundo o
bispo, a Congregação para a
Doutrina da Fé, no dia 21 de dezembro de 2020, disse que é
moralmente aceitável utilizar as vacinas contra a Covid-19 que utilizaram
linhas celulares de fetos abortados em seu processo de investigação e produção.
“Tomar a vacina, segundo a Igreja, não significa cometer um pecado e aprovar o
aborto”, disse.
O bispo alertou
que a Igreja não impõe ao cristão, por uma questão de livre consciência, a
obrigatoriedade de se vacinar ante vacinas que usaram no seu desenvolvimento de
fetos celulares abortados, mas aponta que estes têm, em contrapartida, o dever
moral de procurar todos os meios de evitar que a Covid-19 se propague.
“Os outros
meios para evitar a propagação precisam de comprovação científica como o
distanciamento social e uso da máscara. Sair tomando qualquer tipo de remédio
sem comprovação da medicina não é recomendável pela Igreja”, disse.
O padre Aníbal
Lopes, doutor e membro da pontifícia Academia Pro Vita e da Academia Brasileira
de Ciências, salientou ser difícil tratar de casuímos sem ter a visão ampla do
quadro que contém todas as situações. “Se nós somos contra o aborto é
porque a vida humana é um bem absoluto. Na questão das vacinas, segundo ele, é
preciso se perguntar qual é o mal menor. A vacina não é remédio para pessoas
doentes. É um remédio para uma doença que ataca e agride indistintamente a
população com graves consequências econômicas”, disse.
O padre defendeu
que este é um momento de extrema importância para as gerações nos últimos 100
anos. “É a primeira grande experiência humana de enfrentamento onde cada um é
fundamental para o sucesso em vencer a doença e a morte e em fazermos a opção
pelos dons maiores como o dom da vida, a saúde e o entendimento”, disse.
Ele defendeu
que não é moralmente aceito para a comunidade internacional que alguém se
aproprie destas vacinas como vem acontecendo neste momento. Sobre a segurança
da produção da vacina, o representante da Academia Brasileira de Ciências
defendeu ainda que não seria possível desenvolver a vacina contra a Covid-19 se
não fosse o acúmulo de 200 anos da ciência na produção de vacinas.
“Só a desinformação leva
a temer as vacinas. Podemos ter absoluta certeza de que todas as etapas para o
desenvolvimento das vacinas foram cumpridas. Os laboratórios brasileiros,
Instituto Butantan e Instituto Manguinhos, entre outros, são preparados e
competentes para produzir estas vacinas”, disse.
Fonte: CNBB
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