“Os
primeiros passos da Igreja no mundo foram ritmados pela oração. A imagem da
Comunidade primitiva de Jerusalém é um ponto de referência para todas as outras
experiências cristãs”, disse Francisco na Audiência Geral.
Mariangela Jaguraba - Vatican News
“A oração da Igreja nascente” foi o tema da
catequese do Papa Francisco na Audiência Geral, desta quarta-feira (25/11),
realizada na Biblioteca do Palácio Apostólico.
“Os primeiros passos da Igreja no mundo foram
ritmados pela oração”, ressaltou o Papa. “Os escritos apostólicos e a grande
narração dos Atos dos Apóstolos nos restituem a imagem de uma
Igreja a caminho, ativa, mas que encontra nas reuniões de oração a base e o
ímpeto para a ação missionária. A imagem da Comunidade primitiva de Jerusalém é
um ponto de referência para todas as outras experiências cristãs.”
Segundo Francisco, “aqui encontramos quatro
caraterísticas essenciais da vida eclesial: ouvir o ensinamento dos apóstolos,
salvaguardar a comunhão recíproca, partir o pão, Eucaristia, e a oração. Elas
nos lembram que a existência da Igreja tem significado, se permanecer
firmemente unida a Cristo, ou seja, na comunidade, na sua palavra, na
Eucaristia e na oração. É a maneira de nos unirmos a Cristo”. A seguir,
acrescentou:
Na Igreja, nada do que cresce fora destas
“coordenadas” tem fundamento: para discernir uma situação devemos nos perguntar
se existe estas quatro coordenadas qualquer situação: a pregação, a busca
constante da comunhão fraterna, ou seja, a caridade, partir o pão, isto é, vida
eucarística, e a oração. Qualquer situação deve ser avaliada à luz dessas
quatro coordenadas. O que não entra nestas quatro coordenadas não tem
eclesialidade, não é eclesial. É Deus quem faz a Igreja, e não o clamor das
obras. A Igreja não é um mercado, a Igreja não é um grupo de empresários que
vão adiante com a empresa nova. A Igreja é obra do Espírito Santo, que Jesus
nos enviou para nos reunir, a Igreja é o trabalho do Espírito na comunidade
cristã, na vida comunitária, na Eucaristia, na oração. Sempre! E tudo o que
cresce fora dessas coordenadas não tem fundamento. É como uma casa construída
sobre a areia. É Deus quem faz a Igreja, e não o clamor das obras. É a palavra
de Jesus que enche de significado os nossos esforços. É na humildade que se
constrói o futuro do mundo. Muitas vezes, sinto muita tristeza quando vejo uma
comunidade com boa vontade, mas erra caminho, pois pensa em fazer da Igreja um
encontro, como se fosse um partido político, a maioria, a minoria, o que pensa
sobre isso, sobre aquilo, como um sínodo, uma estrada sinodal que devemos
fazer. Eu me pergunto: mas onde está o Espírito Santo ali, onde está a oração,
o amor comunitário, onde está a Eucaristia? Sem essas coordenadas, a
Igreja se torna uma sociedade humana, um partido político, maioria, minoria,
mudanças se fazem como se fosse uma empresa, por maioria e minoria, mas não há
o Espírito Santo. A presença do Espírito Santo é garantida por essas quatro
coordenadas. Para avaliar uma situação se é eclesial ou não devemos nos
perguntar sobre essa quatro coordenadas: vida comunitária, oração, eucaristia,
como se desenvolve a vida nessas quatro coordenadas, se falta isso, fala o
Espírito, e se falta o espírito seremos uma bonita associação humanista, de
beneficência, até mesmo um “partido” podemos dizer “eclesial”, mas não há a
Igreja. A. a Igreja não cresce com essas coisas, não cresce por proselitismo,
como qualquer empresa, cresce por atração, e quem movimenta a atração, é o
Espírito Santo. Não nos esqueçamos essas palavras de Bento XVI: “a Igreja não
cresce por proselitismo, cresce por atração”. Se falta o Espírito Santo que é
quem atrai a Jesus, não há Igreja ali, há um bonito clube de amigos, com boas
intenções, mas não há Igreja, não há sinodalidade.
No Livro dos Atos dos Apóstolos “descobrimos que o
poderoso motor da evangelização são as reuniões de oração, onde
aqueles que participam experimentam diretamente a presença de Jesus e são
tocados pelo Espírito. Os membros da primeira comunidade compreendem que a
história do encontro com Jesus não parou no momento da Ascensão, mas continua
na sua vida. Narrando o que o Senhor disse e fez, rezando para entrar em
comunhão com Ele, tudo se torna vivo. A oração infunde luz e calor: o dom do
Espírito faz nascer neles o fervor”.
Eis a obra do Espírito na Igreja: recordar Jesus.
Jesus disse: Ele ensinará a vocês e lhes fará lembrar. A missão é recordar
Jesus, mas não como exercício mnemônico. Percorrendo os caminhos da missão, os
cristãos recordam Jesus enquanto o tornam novamente presente; e dele, do seu Espírito,
recebem o “impulso” para ir, proclamar e servir. Na oração, o cristão mergulha
no mistério de Deus que ama cada pessoa e deseja que o Evangelho seja pregado a
todos. Deus é Deus para todos, e em Jesus todos os muros de separação foram
definitivamente abatidos: como diz São Paulo, Ele é a nossa paz, «Ele, que de
dois povos fez um só». Jesus criou a unidade, a unidade.
“Assim, a vida da Igreja primitiva é ritmada por
uma sucessão contínua de celebrações, convocações, tempos de oração comunitária
e pessoal. E é o Espírito que dá força aos pregadores que se põem a caminho, e
que por amor a Jesus sulcam os mares, enfrentam perigos e se submetem a
humilhações”, disse ainda o Pontífice.
“Deus
doa amor e Deus pede amor. Esta é a raiz mística de toda a vida que crê. Os
primeiros cristãos em oração, mas também nós que viemos muitos séculos mais
tarde, todos vivemos a mesma experiência. O Espírito anima hoje tudo. E
qualquer cristão que não tem medo de dedicar tempo à oração pode fazer próprias
as palavras do apóstolo Paulo: «A minha vida presente, na carne, eu vivo-a na
fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim». A oração nos torna
conscientes disso. Só no silêncio da adoração experimentamos toda a verdade
destas palavras. Devemos retomar o sentido da adoração, adorar, adorar a Deus,
adorar a Jesus, adorar o Espírito. O Pai, o Filho e o Espírito. Adorar em
silêncio. A oração de adoração é a oração que nos faz reconhecer Deus como
início e fim de toda história. Esta oração é o fogo vivo do Espírito que dá
força ao testemunho e à missão”, concluiu o Papa.
Fonte: Vatican News
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