Em
duas declarações, as Igrejas cristãs rejeitam a tentativa do Executivo de
introduzir no Parlamento uma discussão tão séria, em meio a uma pandemia, que
causa sofrimento e morte às famílias argentinas e coloca à prova o sistema de
saúde pública.
Vatican News
A Comissão Executiva da Conferência Episcopal
Argentina (CEA) questiona-se sobre a apresentação do projeto de Lei do aborto
no Congresso Nacional, sobretudo, no momento da pandemia da Covid-19, em que o
Estado deveria se preocupar mais com a "saúde pública", isto é, com a
vida humana.
Em um comunicado, o Episcopado argentino afirma que
uma agenda, autenticamente democrática, além de defender a dignidade da vida e
a promoção dos direitos humanos, deve levar em consideração a atual situação
dolorosa da Saúde Pública, que torna "insustentável e inoportuna"
toda e qualquer tentativa de apresentar e discutir uma Lei deste tipo, onde a
própria vida está em jogo.
“Neste momento, em que os argentinos enfrentam
situações extremas, com paciência, criatividade e esperança, - mesmo diante da
perda de seus entes queridos, o bom senso, que abunda nas pessoas comuns,
revela que não é oportuno pensar em projetos legislativos, que vão contra a
ideia de dar prioridade à vida de todos os argentinos: o povo está sofrendo com
o aumento humilhante do número de famílias, cada vez mais pobres; o ano letivo
deixou grande número de alunos à margem da instrução e causou desigualdade de
recursos e meios; heroicos agentes da saúde, exaustos pelos seus esforços
sobre-humanos, clamam para salvar a vida”.
O episcopado argentino publicou esta declaração
após o anúncio do presidente Alberto Fernández sobre a iminente apresentação à
Assembleia Legislativa - provavelmente na próxima semana - do projeto de Lei
sobre o aborto, prometido em 1º de março. Neste contexto, a declaração dos
bispos reitera que “não se preocupar com a vida, com todas as vidas” representa
um “erro gravíssimo” do Estado, que deve proteger os seus habitantes. Por isso,
os pastores convidam à “prudência política” para “não desanimar” os desígnios
de unidade nacional, pela qual a sociedade argentina anseia.
“As notícias sobre a iminente apresentação do
projeto de Lei sobre o aborto no Congresso Nacional – afirmam os bispos - nos
surpreendem e entristecem, porque desencorajam a busca de um encontro fraterno
e essencial entre os argentinos”. Os prelados recordam também as palavras do
Papa Francisco, que na sua recente Encíclica “Tutti fratelli”, propõe “abrir o
coração diante de um mundo que viola os sonhos e se esconde atrás de um olhar
egoísta e exclusivo”, porque, no fundo, as pessoas não são mais consideradas
como um valor primordial, que deve ser respeitado e defendido, sobretudo os
pobres ou deficientes, e “os que ainda não são úteis” - como os nascituros -,
ou “os que não servem mais” - como os idosos”.
A declaração da Comissão Executiva, publicada em
seu site, é acompanhada pela declaração da Comissão Episcopal para a Vida, os
Leigos e a Família, que adere e agradece o documento da Aliança Cristã das
Igrejas Evangélicas da Argentina, publicado no último dia 19 de outubro, com o
título: "Não é hora de discutir sobre o aborto: estamos em meio a uma
pandemia".
A Aliança evangélica, por sua vez, reitera que “o
direito de nascer é um direito humano inalienável” e afirma que, em meio à
pandemia, a tentativa de legalizar o aborto coloca em risco não só a vida dos
nascituros, mas também a cidadania, que sairá pelas ruas para expressar a sua
oposição.
O comunicado da Aliança adverte: “Os casos de
contagiados pelo coronavírus chegam quase a um milhão. Os sistemas de saúde
foram à falência em diferentes partes do país, com um recorde de mortes
diárias entre os primeiros do mundo”. O comunicado informa ainda que a decisão
do Executivo responde à pressão de grupos em prol do aborto, sem se importar
pela grave situação de saúde no país.
A declaração das Igrejas Evangélicas recorda,
enfim, que, há dois anos, o Congresso Nacional rejeitou este projeto de Lei,
por ampla maioria, e uma discussão sobre isso agora poderia produz
"divisões" no país.
As Igrejas Evangélicas concluem sua declaração,
dizendo: “Defender a vida, desde a concepção até à morte natural, em todos os
seus aspectos, é um mandato, uma mensagem, não apenas das nossas leis e da
Constituição, mas do próprio sentido comum e natural: a preservação do gênero
humano é um direito inalienável, além de ser, sobretudo, uma lei de Deus”.
Vatican
News Service - ATD
Fonte: Vatican News
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