Foram
três encontros. Francisco conta ao gastrônomo-escritor Carlo Petrini a sua
“conversão ecológica”: do ‘cansaço’ como cardeal em Aparecida em 2007 pela
insistência dos bispos brasileiros em defesa da Amazônia até a preparação da
encíclica Laudato si’. E explica: “É preciso mudar rapidamente nossos
paradigmas se quisermos ter um futuro”
Alessandro Di Bussolo – Vatican News
Um Papa, como Francisco, que como cardeal argentino
sentiu "cansaço" pela "insistência com que os bispos brasileiros
falavam dos grandes problemas da Amazônia" na conferência de Aparecida e
como bispo não entendia qual era o seu papel em relação à "saúde do pulmão
verde do mundo". E um agnóstico, ex-comunista e gastrônomo, como Carlo
Petrini, fundador do "Slow food", a quem o Pontífice chama de
"piedoso" porque "tem piedade da natureza, uma atitude
nobre" e "coerente consigo mesmo". Unidos pelas raízes
piemontesas comuns".
As raízes piemontesas e a amizade do
bispo Pompilli
Do encontro, ou melhor, dos três encontros em dois
anos, de maio de 2018 a julho de 2020, nasceu "TerraFutura. Diálogos
com Papa Francisco sobre ecologia integral", livro a ser publicado em
9 de setembro que Petrini, também promotor da rede internacional de ecologistas
"Terra Madre", publica com a Editora Giunti-Slow Food. O Papa de 83
anos, com antepassados da região de Asti e o gastrônomo de 71 anos e escritor
de Cuneo, da região Piemonte. O primeiro encontro foi realizado com a presença
do Bispo de Rieti Domenico Pompili, com quem Petrini tem grande amizade por terem
criado juntos as Comunidades "Laudato si'" para "dar vida"
ao que Francisco propôs em sua encíclica.
Petrini impressionado pela primeira
viagem em Lampedusa
O Bispo, que escreveu o prefácio, lembra que
Francisco e Carlin, como ele é mais conhecido, nos diálogos identificam-se por
"F" e "C", "e são dedicados à Terra e ao seu
futuro" e que deste confronto surgem caminhos "para uma ecologia que
deixe de ser uma bandeira e se torne uma escolha". O ponto de partida é o pensamento
do Papa Francisco, que impressiona o agnóstico Petrini desde a escolha de fazer
a primeira viagem como Pontífice a Lampedusa, "como sinal de solidariedade
com os migrantes", que investiga, e escreve na "Laudato si",
"o que está acontecendo com a nossa casa".
O primeiro diálogo: a gênese da
Laudato si’
No primeiro diálogo, em 30 de maio de 2018, três
anos após a publicação da encíclica, que Carlo Petrini define como "poder
extraordinário", que "mudou o cenário do discurso ecológico e
social", Francisco fala da gênese da ‘Laudato si’". Recorda que é
fruto do trabalho de muitas pessoas, cientistas, teólogos e filósofos, que
"me ajudaram muito a esclarecer", e com o material deles, trabalhou
"na composição final do texto".
O interesse da ministra francesa
Ségolené pela encíclica
E explica que a primeira vez que se deu conta da
“centralidade" do documento e "sua importância pelas questões
abordadas", foi no final de novembro de 2014, ao se encontrar com a então
Ministra francesa do Meio Ambiente Ségòlene Royal em sua visita ao Parlamento
Europeu em Estrasburgo. A Ministra, relata o Papa, mostrava "muito
interesse" pelo texto, do qual se conhecia apenas a referência "aos
temas da casa comum e da justiça social". "É muito importante",
disse a Ministra ao Pontífice, e previu que seria "de grande impacto,
estamos todos aguardando".
Esperava-se uma voz forte, hoje penso
que tenha sido aceita
Até então, confessa o Papa Francisco a Petrini,
“não sabia que teria causado tanto clamor”
“Lá
percebi que a expectativa crescia e que se esperava uma voz forte nesta
direção. Depois, correu tudo bem: após seu lançamento, vi que a maioria das
pessoas, os que se preocupam com o bem da humanidade, leram e apreciaram,
usaram-na, comentaram-na, citaram-na. Acho que foi quase universalmente aceita”
O percurso: de Aparecida a Laudato
si’
Ao responder a Petrini que lhe pede a confirmação
de que sua atenção às questões ambientais "amadureceram com o tempo",
Francisco confidencia que "foi um longo percurso", iniciado em 2007
em Aparecida, no Brasil, onde como cardeal arcebispo de Buenos Aires foi
presidente da Comissão para a elaboração do documento final da Quinta
Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. Recorda bem
"de ter sentido cansaço" com a atitude dos bispos brasileiros que em
todas as ocasiões "falavam dos grandes problemas da Amazônia", de
suas "implicações ambientais e sociais", e "não entendia esta
urgência e insistência". E também havia solicitações incessantes de
colombianos e equatorianos, para incluir estas questões no documento final.
A “conversão ecológica” de Jorge
Mario Bergoglio
Desde então, comenta o Pontífice, "passou
muito tempo e eu mudei completamente a percepção do problema ambiental".
“No
início eu também não entendia estes temas. Depois, quando comecei a estudar,
tomei consciência, abriu-me um mundo. Creio que seja correto dar tempo a todos
para entenderem. Porém, ao mesmo tempo, devemos nos apressar para mudar nossos
paradigmas se quisermos ter um futuro”
Uma encíclica para todos, não só para
os crentes
Se Petrini aponta que ainda acha difícil construir
pontes de diálogo entre o mundo "crente" e o mundo
"secular", o Papa Francisco enfatiza que "a Laudato si' é um
ponto comum de ambos os lados, porque foi escrita para todos". O diálogo,
diz o gastrônomo-escritor, "não é uma opção moral", mas "um
método real". E o Papa acrescenta que "é um método acima de tudo
humano". Não se trata, reitera, "de aplanar as diferenças e os
conflitos, mas ao contrário de exaltá-los e ao mesmo tempo superá-los para o bem
maior".
A mudança começa por nós, basta de
despesas mundanas
Ao ler a encíclica, o fundador do "Slow
Food" ficou fascinado com o valor dado às "boas práticas
individuais" na "geração de mudanças virtuosas". A mudança
começa por nós, confirma Francisco, lembrando que "o dever do pároco é
apagar a luz, sempre", porque ele deve "guardar as ofertas para
usá-las para a caridade". Enquanto isso, observa, o terceiro item de
despesa das famílias no mundo, depois dos alimentos e vestiário, é o cuidado do
corpo, da beleza e a cirurgia estética, e o quarto é o animal de estimação.
"A educação não aparece", lamenta, e assim "é difícil falar de
uma nova abordagem ecológica e de uma nova harmonia com o meio ambiente".
Não ao egoísmo de pedir demais à
Terra
A fim de encorajar as pessoas a agirem pessoalmente
para a mudança, o Pontífice procura as palavras certas:
“O
egoísmo deve ser combatido, o pensamento de que eu exploro a Mãe Terra porque a
Mãe Terra é grande e deve me dar o que eu quero, deve acabar. É um pensamento
completamente doentio, só pode nos levar ao colapso”
Não é uma encíclica ambientalista,
mas social
Neste ponto o Papa Francisco retorna ao conceito de
ecologia integral, para explicar que a "Laudato si’" não é uma
encíclica verde, não é um texto ambientalista. É antes de tudo uma encíclica
social". Porque nós, homens, "somos os primeiros a fazer parte da
ecologia", o homem e o meio ambiente não são separáveis.
Biodiversidade é rezar a Deus com a
própria cultura
Carlo Petrini lembra também do grande valor que a
encíclica dá à biodiversidade, e o Papa esclarece que "é a herança que nos
permite viver neste planeta", uma riqueza inestimável, "mas nós, com
nosso modelo produtivo e econômico, a destruímos como se não nos interessasse".
A Amazônia é um depósito de biodiversidade: a Petrini que lhe recordou do
discurso feito em Puerto Maldonado e do reconhecimento do valor da
espiritualidade e da cultura dos povos indígenas, Francisco fala de
"inculturação".
“Todos
podemos rezar da mesma maneira, mas isso destrói a biodiversidade humana, que é
principalmente cultural. Não! Todos rezam de acordo com sua própria cultura! E
celebram os sacramentos de acordo com sua própria cultura: na Igreja existem
mais de vinte e cinco ritos litúrgicos diferentes, que nasceram em diferentes
culturas”
Levar o Evangelho no mundo significa
inculturá-lo
O Pontífice recorda das críticas recebidas pela sua
declaração "precisamos de uma Igreja Amazônica" recordando também as
críticas escandalizadas dos teólogos romanos a Matteo Ricci, o missionário
jesuíta que queria "inculturar" o Evangelho na China, "aceitando
também alguns rituais chineses". "A Igreja não o entendeu – explica
Francisco com decepção – fechando de fato as portas para o Evangelho na China".
“Bento XVI, um revolucionário”
O primeiro diálogo se conclui com Carlo Petrini que
elogia os missionários da Consolata e seu testemunho do Evangelho através de um
hospital para os índios Yanomani, na Amazônia brasileira, sem proselitismo.
Enquanto que o Papa Francisco recorda que foi Bento XVI, em Aparecida, que
afirmou que "a Igreja cresce não pelo proselitismo, mas pela atração, ou
seja, pelo testemunho", condenando assim o proselitismo.
“Por
isso me irrito quando dizem que Bento é um conservador, Bento foi um
revolucionário! Em tantas coisas que ele fez, em tantas coisas que ele disse,
ele foi um revolucionário”
O segundo diálogo: rumo ao Sínodo
Pan-amazônico
O segundo encontro ocorreu em 2 de julho de 2019,
três meses antes do Sínodo dos Bispos para a Amazônia. O gastrônomo fundador do
"Slow food", que nessa ocasião receberia um convite para participar
da assembleia como auditor, pergunta ao Papa o que ele espera do Sínodo, e
Francisco responde: "que tenha um impacto clamoroso". Porque "há
necessidade de criar discussões férteis e profícuas", "para colocar
energias e ideias em circulação". Ele nega que seja organizado o
consentimento que "permitiria aos padres amazônicos se casarem".
Não ao celibato, mas os grandes temas
de hoje
O Papa explica que Bispos e especialistas do mundo inteiro,
e representantes da Amazônia discutirão sobre "os grandes temas de nossos
dias": "meio ambiente, biodiversidade, inculturação, relações
sociais, migração, equidade e igualdade". O Pontífice revela que também
quis "convidar alguns padres e bispos um pouco conservadores" porque
"se não houver opiniões diferentes o debate é estéril e há o risco de não
dar nenhum passo adiante". Há necessidade, explica ele, "do
pensamento e dos recursos de todos".
Só o ambientalismo não é suficiente,
é preciso justiça social
Os grandes temas a serem discutidos, lembra o Papa
Francisco, são todos abordados no "Laudato si’".
“Não
se trata de ambientalismo, que por mais nobre que seja, não é suficiente. Aqui
estamos falando de qual modelo de convivência e futuro temos e como
construí-lo: está em jogo a enorme questão da justiça social que, ainda hoje,
no mundo interligado e aparentemente próspero em que vivemos, está longe de ser
alcançada”
Greta e a mobilização dos jovens
“também pelo presente”
Petrini, promotor do "Terra Madre", uma
rede ecológica "de agricultores, pescadores, artesãos, cozinheiros,
pesquisadores, nativos, pastores", pergunta ao Papa como ele vê o
movimento dos jovens nascido da menina sueca Greta Thunberg. Francisco aprova,
e cita os slogans dos jovens, pois "o futuro é nosso e não seu". Ele
não se interessa em saber se Greta é "empurrada por outros": se seu
ativismo permite que milhões de jovens se mobilizem "só se deve se
alegrar". "Estou interessado na reação dos jovens - esclarece – além
do futuro, eles devem tomar o presente para si".
“Os
jovens estão cientes de que esta civilização e este modelo estão deixando
apenas as migalhas e que se não agirem agora pessoalmente, correm o risco de se
encontrar em dificuldades”
Não ao populismo, que usa os instintos
dos que estão em dificuldade
O diálogo se transfere para acusações de
"bonomia excessiva" feitas contra o Papa Francisco pelo seu
compromisso com a acolhida e a integração dos migrantes. O Papa cita Dom
Quixote de Cervantes e explica que "não se deve responder nem ser
intimidado, porque os ataques são o sinal de que está sendo feita a coisa
certa". Aos que dizem que "estou perdendo minha rota porque recebi os
ciganos no Vaticano", pergunta: "mas aonde este fechamento nos leva,
o que nos espera? Vivemos em uma Europa que não tem mais filhos, que se fecha
violentamente à imigração e esquece sua história de séculos de migração".
“Nestes
tempos o populismo está recebendo muita atenção, que é a forma mais conveniente
de evitar o surgimento do popularismo, a verdadeira alma do povo. O populismo
não tem nada a ver com o povo, ao contrário, oprime sua alma, enjaula seu
espírito mais positivo e nobre. (...) O populismo trabalha sobre o povo, mas
sem o povo, usa os instintos das pessoas em dificuldades para indicar um
inimigo a ser combatido exclusivamente pelo poder”
O egoísmo anti-migrante rejeitado com
caridade e gentileza
Então de onde vem, pergunta Petrini, esta nova onda
de racismo também em relação aos jovens atletas, filhos de migrantes, com
insultos e desconfiança. Não somos mais capazes de empatia e proximidade? Para
o Papa Bergoglio é uma tendência temporária, mas de qualquer modo
preocupante...
“Uma
corrente de egoísmo que dói e deve ser rejeitada com caridade e gentileza.
(...) Hoje as prioridades mudaram. Primeiro queremos viajar, queremos comprar
uma casa, temos que fazer outras coisas que na cultura de hoje são mais
importantes e têm precedência. (...) O que nos espera no futuro? Sem filhos e
migrações, o que nos espera?”
A boa globalização é multifacetada e
salva as identidades
No entanto, continua o Pontífice, na Itália muitas
vezes são as mulheres estrangeiras, babás e cuidadoras, "as que transmitem
a fé e a mantêm viva" com o exemplo. Uma diversidade que deve ser mantida.
O Papa Francisco reitera sua oposição ao que ele chama de "globalização
esférica".
“A
globalização é boa se for multifacetada, ou seja, se cada povo for único e
mantiver sua própria identidade. Aplanar as diferenças só faz mal e é inútil, é
uma perda gigantesca para todos”
A comida, construtor de pontes e
amizades
O gastrônomo Carlo desloca a atenção para os
alimentos "um instrumento para construir pontes", e Francesco lembra
que para criar uma relação de amizade "é preciso comer juntos muitas
vezes", porque comer, sem espetacularizar o ato e sem colocar no centro a
comida em si, mas a relação entre as pessoas, "atua como um meio de
valores e culturas". Segue uma saborosa troca de comentários sobre a união
entre a cozinha piemontesa e argentina na família Bergoglio nos anos 40 e 50,
com o adolescente Jorge Mario, que misturava “cappelletti” e “asado”, e depois
“bagna cauda” e muita polenta.
Igreja e prazer: um bem que vem de
Deus
Em favor do prazer da comida que "não é
abundância, mas sobriedade", o convidado agnóstico provoca o Pontífice,
afirmando que "a Igreja Católica sempre mortificou um pouco o prazer, como
se fosse algo a ser evitado". O Papa Francisco não concorda e lembra que a
Igreja condenou o "prazer desumano, vulgar", mas aceitou o prazer
"humano, sóbrio".
“O
prazer vem diretamente de Deus, não é católico ou cristão ou qualquer outra
coisa, é simplesmente divino. O prazer de comer serve para nos manter saudáveis
através da alimentação, assim como o prazer sexual é feito para tornar o amor
mais belo e garantir a continuidade da espécie”
Da comida ao cinema: A festa de
Babette
Da comida ao cinema, o "trait d’union" é
"A festa de Babette", um filme que ambos adoram. "É um dos mais
belos que já vi" confirma o Papa, "um hino à caridade cristã, ao
amor", que "consegue fazer com que se perceba aquele prazer divino
por muito tempo foi sufocado erroneamente". "Sou apaixonado pelo
cinema", confessa, e lembra que quando criança cresceu com o neorealismo
italiano, três filmes de cada vez vistos com sua família.
O terceiro diálogo: reflexões sobre a
pandemia
O último encontro na Casa Santa Marta entre o Papa
Francisco e Carlo Petrini foi no dia 9 de julho de 2020, e do Sínodo
Pan-amazônico passamos à pandemia da Covid-19. O gastrônomo fala de sua
participação na assembleia dos bispos como "uma experiência
extraordinária". "Vi uma Igreja diferente do que imaginei: uma Igreja
com os pés no chão, muito viva". Mas uma humanidade prostrada por esta
emergência sanitária, acrescentou ele, precisa agora de palavras de esperança.
E o Papa lembra que a humanidade é "pisoteada por este vírus e por tantos
vírus que fizemos crescer", "vírus injustos: uma economia de mercado
selvagem, uma injustiça social violenta".
Uma nova economia, novo protagonismo
dos povos
Para encontrar esperança, para sair melhor desta
crise, olhemos para as periferias, é o seu convite, "onde o futuro está em
jogo". Descentralizando. Para Francisco agora precisa...
“Uma
política que diga jamais a uma economia de mercado selvagem, jamais à mística
das finanças às quais não se pode apegar porque são virtuais. Uma nova forma de
entender a economia, um novo protagonismo do povo”
Aumentou a consciência da Laudato si’
Volta-se a falar do "Laudato si’", com
Petrini convencido de que com este "tumulto" a encíclica "é mais
atual do que nunca". Sim, confirma o Pontífice, "a consciência da
Laudato si’ aumentou". Os pescadores de San Benedetto del Tronto que no
ano passado "me disseram" que haviam recolhido "seis toneladas
de plástico em um único barco", recorda, "tomaram consciência e
entenderam que deveriam limpar o mar". E aos petroleiros recebidos em 2019
que lhe explicaram que se o petróleo for deixado de lado agora "haverá uma
segunda crise" como nos anos Trinta, ele responde que é verdade, mas
"é preciso sabedoria para fazer as coisas devagar, sem tirar o trabalho.
Porque o trabalho é como o ar em nossa cultura, sem trabalho, o homem é
reduzido...”.
Tempo de mudar com a descentralização
Petrini recorda que se todos "desejam uma
mudança", após a pandemia, infelizmente, há também uma tendência a
retornar "aos mesmos valores de antes".
“É
verdade que algumas pessoas estão trabalhando para este retorno. Mas nós devemos
preparar algo a mais! A alternativa! E vencer com esta alternativa. (...) Sim,
porque muitas pessoas estão se preparando com algumas pinceladas de tinta para
depois dizer "Ah, tudo mudou!", mas, ao contrário, nada mudou.
Deve-se mudar com a descentralização”
O Concílio a ser aceito e a Teologia
da Prosperidade
O fundador do "Slow food" muda a atenção
para os grandes profetas italianos do século passado, de Don Milani para Don
Mazzolari, de Don Tonino Bello a Arturo Paoli, que "agora, felizmente -
comenta o Papa Francisco - estão recuperados", também graças ao Concílio
Vaticano II. E o Papa lamenta, “um Concílio que ainda não foi aceito, depois de
cinquenta anos, por muitas pessoas que tentam voltar atrás". Estamos a
meio caminho, as reações mais fortes, explica, vêm "de uma concepção do
liberalismo econômico", semelhante à "do Cristianismo da Teologia da
Prosperidade". Este não é o caminho certo. Na verdade, o caminho certo é o
da Teologia da Pobreza"!
Populismos que semeiam medo no povo
O Papa, portanto, volta a criticar os populismos,
que "agarram-se ao povo usando uma ideia, semeando medo", por exemplo
a dos migrantes, e "alguns discursos de certos líderes políticos"
realmente vão "na direção de um populismo perigoso", próximo ao de
1932-33 na Alemanha.
Querida Amazônia e os índios
assediados e descartados
O diálogo termina com uma referência ao Sínodo, ao
documento "Querida Amazônia" e aos índios "molestados pela
tecnologia e pelas multinacionais". Descartados porque são povos "que
não nos dão algo, que não produzem". Descartados como "os idosos que
são a sabedoria de um povo
Idosos com jovens, os pais de hoje
são fracos...
Francisco justifica sua insistência no
"diálogo entre idosos e jovens" com o fato de que "a geração
atual de pais", "com esta cultura de bem-estar, perdeu a memória de
suas raízes, mas os idosos ainda a têm". Se esses pais estão enfraquecidos
pelo "bem-estar e consumismo", a escola e a universidade têm a tarefa
de "retomar as três linguagens humanas: a da mente, a do coração e a das
mãos". Mas em harmonia!". Caso contrário "formará técnicos que
talvez com o desenvolvimento serão substituídos pela inteligência artificial
que não tem coração e não pode acariciar".
O homem maduro é o que brinca com
seus filhos...
A conclusão ainda é dedicada à educação. O
Pontífice lembra de um "grande professor de filosofia" que dizia
"se um homem não sabe brincar com as crianças, ainda não está
maduro". E que ele, como confessor, sempre perguntava aos pais: "Mas
o senhor brinca com seus filhos?".
“Essa
é a verdadeira poesia! Se um pai não é um poeta, ele não poderá educar bem seu
filho, mas com esta poesia de gratuidade, sim”
A segunda parte: cinco temas da
Laudato si’
Na
segunda parte do livro, Carlo Petrini desenvolve e comenta os cinco grandes
temas que ele distinguiu na "Laudato si'", integrando-os com
discursos e documentos do Papa Francisco. Da biodiversidade, com os capítulos
II e IV de "Querida Amazônia", passa à economia, com um trecho de
"Evangelii Gaudium" e a carta do Papa aos movimentos populares de
abril de 2020. Depois fala sobre migrações, com a mensagem de Francisco para o
Dia do Migrante de 2019, de educação, com dois discursos do Pontífice, um
dirigido em 2017 aos estudantes e ao mundo acadêmico, o outro a mensagem de
2019 para o lançamento do Pacto Educacional, e por fim, de comunidade, com o
discurso à Comece em 2017 e a mensagem para as Comunidades Laudato si’ de 2019.
Fonte: Vatican News
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