Por
David Ramos
Imagem referencial / militar na Praça
da Constituição em frente à Catedral Metropolitana do México. Crédito: David
Ramos / ACI Prensa.
Cidade do México, 14 set. 20 / 10:41 am (ACI).-
Em uma medida sem precedentes, dois dias antes da tradicional celebração da
independência, o Exército mexicano bloqueou, em 13 de setembro, o acesso à
Catedral Metropolitana do México.
Através do Facebook, a Catedral do México informou
na noite de 13 de setembro que “o Exército tomou a Praça da Constituição e por
isso foi difícil para quem desejava participar da Eucaristia entrar na Catedral
Metropolitana”.
“Acredito que nos próximos dias teremos os mesmos
problemas”, disse a Catedral em sua publicação, lamentando que “não tenhamos
notícias claras da autoridade federal e da CDMX (Cidade do México) para tomar
as providências necessárias e convenientemente informar aos paroquianos”.
Devido à pandemia de coronavírus COVID-19, este ano
a celebração da independência do México, que começa na noite de 15 de setembro
com o tradicional “Grito de Dores” e se estende até o dia seguinte, será
realizada sem a presença do público na Praça da Constituição, conhecida como
Zócalo.
Em coletiva de imprensa no dia 11 de setembro, o
presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, disse que no dia 15 “vamos
realizar toda a cerimônia, só que não haverá participação dos cidadãos devido à
pandemia; porém, haverá uma representação com imagens da nossa República, todo o
território nacional vai estar representado, iluminado na praça do Zócalo e vai
ser acendida a chama da esperança, uma tocha”.
“No dia seguinte haverá comemoração e entrega, no
dia 16, de reconhecimentos aos profissionais de saúde que ajudaram a salvar
vidas devido à pandemia. Vamos hastear a bandeira e começa a cerimônia. Sim,
haverá apresentações das Forças Armadas, da Marinha e da Defesa, da Guarda
Nacional, no Zócalo, com uma distância saudável, com os veículos de cada
grupamento”, disse López Obrador.
"Inaptidão e falta de sensibilidade"
Em diálogo com a ACI Prensa,
agência em espanhol do grupo ACI, Pe. Hugo Valdemar, cônego penitenciário da
Arquidiocese Primaz do México e membro do Conselho da Catedral, destacou que o
bloqueio de acesso ao templo responde “a uma total desorganização do Governo
Federal, o caos é generalizado na atual administração. Não se vê a aplicação
dos regulamentos, protocolos e procedimentos institucionais existentes em
governos anteriores, o que fala de inaptidão e falta de sensibilidade”.
O sacerdote mexicano, que durante 15 anos foi
Diretor de Comunicação da Arquidiocese do México durante o governo pastoral do
Cardeal Norberto Rivera, lembrou que situação semelhante nunca ocorreu com as
administrações anteriores, porque “sempre houve diálogo e acordos entre o
Governo Federal , da Cidade e da Catedral, o que não está acontecendo agora”.
“O que temos hoje é uma imposição inadmissível para
nós”, disse.
Para o Pe. Valdemar, a atual pandemia não justifica
uma medida como a tomada em 13 de setembro pelas autoridades mexicanas, pois
“há protocolos e procedimentos que devem ser respeitados, mesmo sendo uma
emergência. Mas, o atual governo aparentemente não respeita nada nem ninguém,
age arbitrariamente, como se fosse uma ditadura”.
Ao ver a disposição do Exército, ressaltou, “nossa
reação foi de total surpresa e espanto, pois o acordo é que, como todos os
anos, a Catedral fecharia no dia 15 a partir do meio-dia e no dia 16
permaneceria fechada devido ao desfile. No entanto, eles não respeitaram este
acordo”.
Pe. Valdemar também expressou seu desejo de que “o
Governo Federal se comporte à altura e respeite a liberdade religiosa que foi
violada com esta medida arbitrária e carece de sensibilidade para com os fiéis
que vêm à Catedral”.
“Da mesma forma, seria de se esperar que as
autoridades que violaram este direito sejam punidas para que tal incidente
vergonhoso e lamentável não volte a acontecer”, acrescentou.
O sacerdote mexicano pediu aos fiéis que neste
momento “sejam compreensivos com as autoridades da Catedral que nada tem a ver
com esta medida abusiva por parte do Exército e do Governo Federal, e exijam o
respeito pela liberdade religiosa estipulada em nossa Constituição”.
O exército não “tomou” a Catedral
Por sua vez, Pe. José de Jesús Aguilar, arcipreste
da Catedral Metropolitana do México, especificou em um vídeo enviado à ACI
Prensa que, ao contrário de algumas publicações veiculadas nas redes sociais, o
Exército não "tomou" o templo.
Embora tenha lamentado a falta de comunicação das
autoridades com os responsáveis pela Catedral nesta ocasião, Pe. Aguilar frisou
que “o Exército sempre entrou na Catedral. Não é, portanto, propriamente uma
‘tomada’ da Catedral”.
“Durante muitíssimos anos, o Exército sempre teve
uma aproximação à Catedral e aos seus arredores nos dias anteriores ao Grito,
para buscar e garantir a segurança de todos os presentes, assim como a do
senhor Presidente. Sempre houve uma colaboração magnífica, uma magnífica
informação, porque, inclusive, membros do Exército são os que normalmente sobem
para tocar os sinos depois que o senhor Presidente dá o Grito, e também para
controlar o acesso e o uso da pólvora queimada durante o evento”, explicou.
O Arcipreste da Catedral Metropolitana expressou
posteriormente o seu desejo de que “esta falta de comunicação que hoje ocorreu,
para poder lhes informar, seja resolvida em breve. Assim espero, para que vocês
tenham informação do que acontece na Catedral e em seu entorno”.
Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por
Nathália Queiroz.
Fonte: ACI Digital
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