“Neste momento da história
há muitos pontos que são comuns à família humana, porém há um em particular: o
sofrimento, que não conhece nacionalidade, religião, etnia”. Entrevista com o
estudioso islâmico Cenap Aydin, fundador do Instituto Tevere para o Diálogo
Inter-religioso
Francesca Sabatinelli – Cidade do Vaticano
Neste momento de crise pela pandemia, chegou o momento de se
dedicar à contemplação e à reflexão. Dia 14 de maio, será dedicado à oração e
ao jejum e à invocação a Deus pela humanidade atingida pela pandemia, com a
participação do Papa
Francisco. A iniciativa nasceu do Alto Comitê para a Fraternidade Humana,
formado por líderes religiosos que se inspiram no documento assinado em Abu
Dhabi pelo Papa Francisco e o Grão-Imame de Al-Azhar, Al Tayyeb.
Entrevistamos Denap
Aysin, de nacionalidade turca, diretor fundador do Instituto Tevere, Centro
de diálogo intercultural e inter-religioso e especialista em islamismo para nos
falar desta importante iniciativa.
Recordamos os pedidos
de jejum e oração de São João Paulo II
“Esta iniciativa – explica Aydin – não é apenas para as pessoas
de fé, mas para todos os seres humanos”. A atitude de Francisco, é uma “atitude
muito inspirada. Sempre pediu aos fiéis, e não só aos fiéis, para rezarem
principalmente pela paz, convida a todos para sentirem necessidade de paz, paz
pelo bem-estar, pelo bem comum”. O dia de oração de 14 de maio cai em pleno
Ramadã, o mês sagrado e de jejum para o Islã, um jejum que será de todos. Aydin
recorda e não é a primeira vez, do convite de São João Paulo II pela paz na
Bósnia massacrada pela guerra nos anos 1993 e 1994. E depois, cita o Angelus de
18 de novembro de 2001, quando o Papa Wojtyla convidava para um dia de jejum e
oração, eram os dramáticos meses logo depois do atentado às Torres Gêmeas em
Nova York, e também na época era tempo de Ramadã, explica, muçulmanos e
católicos foram convidados a fazer um dia de jejum e oração juntos.
O estudioso continua: “Também agora, para o dia 14 de maio,
estamos no Ramadã, mas o convite é mais alargado, dirigido a todos. Desta vez
fazemos um passo adiante e o papel das religiões é muito claro porque agora os
fiéis, mas principalmente os líderes religiosos, testemunham a unidade para que
o mundo saiba que as religiões, fazendo parte da família humana, são
diretamente envolvidas para encontrar soluções a esta crise e aos muitos
problemas que afligem nossa humanidade”.
No Alcorão, Maria
enfrenta o jejum da palavra
Para Cenap Aydin neste momento da história há muitos pontos que
são comuns à família humana, porém há um em particular: o sofrimento, que não
conhece nacionalidade, religião, etnia. As más notícias deste período nos fazem
aproximar uns dos outros, nos fazem unir os esforços para uma solução imediata.
O diretor do Instituto Tevere conclui seu pensamento dirigindo-se à Maria da
história, a Maria deste mês mariano. “No Alcorão, capítulo 19, Maria, Maryam é
convidada por Deus, segundo a tradição islâmica a observar o jejum, um jejum
muito particular, o da palavra, ficar em silêncio quando nasce Jesus. Maria
estava muito preocupada com a resposta que deveria dar ao seu povo, portanto
vemos uma Maria, Maryam, que não fala, fica em silêncio, fazendo jejum, em
oração, em contemplação, esperando uma resposta de Deus. Hoje, em uma outra
situação, podemos recordar desta cena no Alcorão. Redescobrimos a nossa
debilidade, descobrimos que somos tão frágeis, porém agora é nossa fragilidade
que nos leva a estar reunidos de novo em oração, no jejum, no amor que nos
abraça e, através da oração, ao amor de Deus”.
Fonte: Vatican News
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