"O
vírus não conhece fronteiras. Em um segundo, abateu todas as barreiras e as
distinções: de raça, religião, censo e poder. Não devemos voltar atrás quando
este momento tiver passado. Como tem nos exortado o Santo Padre, não devemos
desperdiçar esta ocasião. Não deixemos que tanta dor, tantas mortes, tanto
esforço heroico por parte dos profissionais de saúde tenha sido em vão. É esta
a “recessão” que mais devemos temer", disse o pregador da Casa Pontifícia.
Cidade do Vaticano
“Eu tenho um desígnio de paz, não de
sofrimento.” Este foi o tema da pregação do
frei Raniero Cantalamessa, desta Sexta-feira da Paixão do Senhor (10/04),
durante a Liturgia da Paixão e da Adoração da Cruz, na Basílica de São Pedro.
“A cruz é melhor compreendida pelos
seus efeitos do que pelas suas causas. E quais foram os efeitos da morte de
Cristo? Justificados pela fé nele, reconciliados e em paz com Deus, repletos de
esperança de uma vida eterna”, disse o pregador da Casa Pontifícia.
A cruz de Cristo mudou o sentido da
dor
Referindo-se à situação causada pela
pandemia de coronavírus, o frei capuchinho ressaltou que “há um efeito que a
situação em andamento nos ajuda a colher em particular. A cruz de
Cristo mudou o sentido da dor e do sofrimento humano. De todo sofrimento,
físico e moral. Ela não é mais um castigo, uma maldição. Foi
redimida pela raiz, quando o Filho de Deus a tomou sobre si. E não
só a dor de quem tem fé, mas toda dor humana. Ele morreu por todos. “Quando
eu for elevado da terra, disse Jesus, “atrairei todos a mim”. Todos, não
somente alguns!”
“Sofrer, escrevia São João
Paulo II do seu leito no hospital após o atentado, significa tornar-se
particularmente receptivo, particularmente aberto à ação das forças salvíficas
de Deus, oferecidas em Cristo à humanidade”. Graças à cruz de Cristo, o
sofrimento se tornou também ele, à sua maneira, uma espécie de “sacramento
universal de salvação” para o gênero humano.”
O vírus nos recorda que somos mortais
A seguir, Cantalamessa perguntou:
“Qual é a luz que tudo isso lança sobre a situação dramática que a humanidade
está vivendo?”
“Também aqui, mais do que para as
causas, devemos olhar para os efeitos. Não apenas os negativos, dos quais
ouvimos todo dia as tristes manchetes, mas também os positivos, que somente uma
observação mais atenta nos ajuda a colher.”
“A
pandemia de coronavírus nos despertou bruscamente do perigo maior que sempre
correram os indivíduos e a humanidade, o do delírio de onipotência.”
"Temos a ocasião, escreveu um
conhecido Rabino judeu, de celebrar este ano um especial êxodo pascal, o “do
exílio da consciência”.
“Bastou
o menor e mais informe elemento da natureza, um vírus, para nos recordar que
somos mortais, que o poderio militar e a tecnologia não bastam para nos
salvar.”
“Não dura muito o homem rico e poderoso”,
diz um salmo da Bíblia, “é semelhante ao gado gordo que se abate”. E é
verdade!”
Deus chora hoje pelo flagelo que caiu
sobre a humanidade
"Deus é nosso aliado, não do
vírus! Se esses flagelos fossem castigos de Deus, não seria explicado por
que eles caem igualmente nos bons e nos maus, e por que geralmente são os
pobres que têm as maiores consequências. Eles seriam mais pecadores que
outros?”
“Aquele que chorou um dia pela morte
de Lázaro chora hoje pelo flagelo que caiu sobre a humanidade. Sim, Deus
"sofre", como todo pai e toda mãe. Quando descobrirmos um dia isso,
teremos vergonha de todas as acusações que fizemos contra ele na vida. Deus participa
da nossa dor para superá-la. “Deus, escreve Santo Agostinho, por ser
soberanamente bom, nunca deixaria qualquer mal existir em suas obras se não
fosse bastante poderoso e bom para fazer resultar do mal o bem”.
Sentimento de solidariedade
Segundo o frei capuchino, “outro
fruto positivo da presente crise de saúde é o sentimento de
solidariedade. Quando foi, desde que há memória, que os homens de todas as
nações se sentiram tão unidos, tão iguais, tão pouco contenciosos, como neste
momento de dor? Jamais como agora temos sentido a verdade de um nosso
grande poeta: “Homens, paz! Sobre a terra firme grande é mistério”.
Esquecemo-nos dos muros por construir. O vírus não conhece
fronteiras. Em um segundo, abateu todas as barreiras e as distinções:
de raça, religião, censo e poder.
“Não
devemos voltar atrás quando este momento tiver passado. Como tem nos exortado o
Santo Padre, não devemos desperdiçar esta ocasião. Não deixemos que tanta dor,
tantas mortes, tanto esforço heroico por parte dos profissionais de saúde tenha
sido em vão. É esta a “recessão” que mais devemos temer..”
“Demos
um basta à trágica corrida às armas. Gritem com todas as suas forças, jovens,
porque é acima de tudo o seu destino que está em jogo. Destinemos os
intermináveis recursos empregados para as armas a finalidades como saúde,
saneamento, alimentação e cuidado da criação. Deixemos à geração que
virá, se necessário, um mundo mais pobre de coisas e dinheiro, porém mais rico
de humanidade”, concluiu Cantalamessa.
Fontye: Vatican News
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