Ao
inaugurar o Ano Judiciário do Tribunal do Estado da Cidade do Vaticano,
Francisco falou das reformas da legislação vaticana sobretudo para contrastar a
ilegalidade no setor financeiro.
Bianca Fraccalvieri - Cidade do
Vaticano
O Papa Francisco discursou na
manhã deste sábado (15/02) na cerimônia de inauguração do 91º Ano Judiciário do
Tribunal do Estado da Cidade do Vaticano.
O
primeiro ponto salientado pelo Pontífice foi o Evangelho: “Este nos ensina um
olhar mais profundo em relação à mentalidade mundana, e nos mostra que a
justiça proposta por Jesus não é um simples conjunto de regras aplicadas
tecnicamente, mas uma disposição do coração que guia quem tem
responsabilidade”.
Instaurar
a justiça dentro de nós
A exortação do Evangelho, prosseguiu, é instaurar a justiça
antes de mais nada dentro de nós, lutando com força para marginalizar a
discórdia que nos habita, numa luta interior para que o bem prevaleça. Por
isso, o convite do Papa aos juristas é se empenhar não somente em prol dos
outros, mas num trabalho dentro de cada um que leve a uma conversão pessoal. “É
somente esta a justiça gera justiça!”
Todavia, advertiu, somente a justiça não é suficiente, deve ser
acompanhada pelas outras virtudes cardeais da prudência, da fortaleza e da
temperança. No trabalho diário dos juristas, com frequência se deparam com
pessoas que têm fome e sede de justiça e é no momento do julgamento que devem conjugar
o rigor da lei com a misericórdia ensinada por Jesus.
“Com
efeito, a misericórdia não é a suspensão da justiça, mas a sua realização,
porque transfere tudo para uma ordem mais elevada, onde os condenados às penas
mais duras encontram o resgate da esperança.”
Reformas da legislação vaticana
O segundo ponto de reflexão proposto por Francisco diz respeito
às reformas que a legislação vaticana sofreu nas últimas décadas, sobretudo
para respeitar compromissos internacionais que a Santa Sé assumiu por conta do
Estado Vaticano.
Para dar concretude a este esforço, acrescentou o Papa, a Santa
Sé iniciou um processo de conformação da própria legislação às normas do
direito internacional e, no plano operativo, se empenhou de modo particular a
contrastar a ilegalidade no setor financeiro em nível internacional.
Controles internos recentes trouxeram à luz situações
financeiras suspeitas, que não se conciliam com a natureza e as finalidades da
Igreja e que geraram desorientação e inquietação nos fiéis. Essas situações,
garantiu o Papa, estão sendo analisadas pela magistratura e a Santa Sé está
firmemente intencionada a prosseguir no caminho empreendido.
A justiça nasce da retidão das pessoas
Todas essas reformas, ponderou Francisco, permanecem ancoradas e
dependentes da ação humana.
A justiça não brota da perfeição formal do sistema e das regras,
mas da qualidade e retidão das pessoas, in primis dos juízes,
não somente no plano intelectual, mas também moral e deontológico.
Jesus disse palavras fortes a respeito: "Do mesmo modo que
julgardes, sereis também vós julgados". O Evangelho nos recorda que as
nossas tentativas de justiça terrena têm sempre como horizonte último o
encontro com a justiça divina, a justiça do Senhor que nos espera. Palavras que
não devem assustar, mas impulsionar a realizar o trabalho com seriedade e
humildade.
Francisco concluiu encorajando os juristas a abrirem espaços e
novos percursos para aplicar a justiça em prol da promoção da dignidade humana,
da liberdade e, consequentemente, da paz.
“Estou certo que os senhores honrarão este compromisso e rezo
para que o Senhor os acompanhe neste caminhar.”
Fonte: Vatican
News
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