Papa Francisco no Vaticano. Foto:
Daniel Ibáñez / ACI Prensa
vATICANO,
12 Fev. 20 / 11:13 am (ACI).- Em sua exortação apostólica pós-sinodal
"Querida Amazônia", publicada neste dia 12 de fevereiro, o Papa
Francisco não abriu a porta para a possibilidade de ordenar sacerdotes homens
casados para celebrar a Eucaristia em áreas remotas e isoladas da
floresta amazônica.
Depois de meses de especulações, surgidas à raiz da
proposta incluída no Documento Final do Sínodo dos Bispos sobre
a Amazônia, realizado de 6 a 27 de outubro de 2019, em Roma, o Pontífice
descartou essa possibilidade em Querida Amazônia.
No ponto 111 do Documento Final do Sínodo dos
Bispos na Amazônia, foi proposto “estabelecer critérios e disposições por parte
da autoridade competente, no âmbito da Lumen Gentium 26, para ordenar
sacerdotes a homens idôneos e reconhecidos pela comunidade, que tenham um
diaconato permanente fecundo e recebam uma formação adequada para o
presbiterato, podendo ter uma família legitimamente constituída e estável, para
sustentar a vida da comunidade cristã mediante a
pregação da Palavra e a celebração dos Sacramentos nas áreas mais remotas da
região amazônica".
No entanto, o Pontífice, no ponto 87 de
"Querida Amazônia", assinala que "este caráter exclusivo
recebido na Ordem" permite que apenas o sacerdote esteja habilitado para
"presidir a Eucaristia". E destaca que "esta é a sua função
específica, principal e não delegável".
O Papa lembra que Cristo "é a cabeça da Igreja"
e ressalta no ponto 88 que "o sacerdote é sinal desta Cabeça que derrama a
graça, antes de tudo, quando celebra a Eucaristia, fonte e cume de toda a vida
cristã".
“Este é o seu grande poder, que só pode ser
recebido no sacramento da Ordem. Por isso, apenas ele pode dizer: ‘Isto é
o meu corpo’. Há outras palavras que só ele pode pronunciar: ‘Eu te
absolvo dos teus pecados’; pois o perdão sacramental está ao serviço de uma celebração
eucarística digna. Nestes dois sacramentos, está o coração da sua identidade
exclusiva”.
No ponto 89, explicou que "os leigos poderão
anunciar a Palavra, ensinar, organizar as suas comunidades, celebrar alguns
Sacramentos, buscar várias expressões para a piedade popular e desenvolver os
múltiplos dons que o Espírito derrama neles".
No entanto, "precisam da celebração da
Eucaristia, porque ela ‘faz a Igreja’". "É urgente fazer com que os
povos amazônicos não estejam privados do Alimento de vida nova e do sacramento
do perdão".
Para atender a essa necessidade, o Papa pediu aos
Bispos, especialmente aos da América Latina, para “promover a oração pelas
vocações sacerdotais e também a ser mais generosos, levando aqueles que
demonstram vocação missionária a optarem pela Amazônia".
O Diretor Editorial do Dicastério para a
Comunicação, Andrea Tornielli, em um artigo divulgado pela Sala de Imprensa do
Vaticano, observou que a questão da ordenação sacerdotal de homens casados
foi discutida "durante muito tempo e que pode ainda ser discutida no
futuro".
Ressaltou que se trata de uma “questão sobre a qual
o Sucessor de Pedro, depois de ter rezado e meditado, decidiu responder, não
prevendo mudanças ou outras possibilidades de exceções em relação às já
previstas pela disciplina eclesiástica atual, mas pedindo para recomeçar do
essencial".
O Cardeal Michael Czerny, subsecretário da Seção de
Migrantes e Refugiados do Departamento do Serviço Integral de Desenvolvimento
Humano e secretário especial do Sínodo dos Bispos da região Pan-amazônica,
também falou sobre esse assunto.
Em uma entrevista publicada em L'Osservatore
Romano, o Cardeal Czerny lembra que o Papa recorda em sua Exortação Apostólica
que "somente o sacerdote pode consagrar a Eucaristia e pode administrar o
sacramento do perdão".
"Esta necessidade imperiosa é a razão do apelo
que Francisco dirige a todos os bispos a fim de que além de rezar pelas
vocações, sejam mais generosos em enviar aqueles que mostram uma vocação
missionária, a escolher a Amazônia".
Da mesma forma, “é também preciso trabalhar uma
formação que seja capaz de dialogar com as culturas autóctones. Os diáconos
permanentes deveriam ser muito mais, e precisa fazer crescer ulteriormente o
papel das religiosas e dos leigos”.
Embora tenha indicado que “a possibilidade de
ordenar homens casados pode ser discutida pela Igreja”, o Cardeal Czerny
assinalou que o Papa Francisco afirma em sua exortação apostólica que “é
preciso uma presença capilar de leigos animados por um espírito missionário,
capazes de representar o autêntico rosto da Igreja amazônica. Desse modo parece
indicar-nos que somente assim se voltará a ter vocações”.
“A Amazônia nos desafia, escreve Francisco, a
superar perspectivas limitadas e a não contentar-nos com soluções que
permanecem fechadas em aspectos parciais. Em outras palavras, a grande questão
é uma experiência renovada de fé e de anúncio”, afirmou.
Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália
Queiroz.
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