"Parto da convicção,
compartilhada por todos nós e frequentemente repetida pelo Papa Francisco, de
que a Renovação Carismática Católica (RCC) é “uma corrente de graça para toda a
Igreja”. Se a RCC é uma corrente de graça para toda a Igreja, temos o dever de
explicar a nós mesmos e à Igreja em que consiste esta corrente de graça e
porque ela é destinada e necessária a toda a Igreja", disse o padre
Cantalamessa ao iniciar sua colocação.
Cidade do Vaticano
De 6 a 8 de junho
realiza-se no Vaticano a Conferência Internacional CHARIS, reunindo lideranças
da Renovação Carismática Católica. São mais de 550 os líderes provenientes de
diversas partes do mundo, que compartilham e rezam juntos, na escuta do
Espírito Santo. Um dos palestrantes, foi o pregador da Casa Pontifícia, padre
Raniero Cantalamessa ofm Cap, assistente eclesiástico do Charis.
Confira a íntegra de seu
pronunciamento na manhã deste sábado, na Sala Paulo VI, intitulado “a Renovação
Carismática, uma Corrente de Graça para toda a Igreja (a tradução é do Fr.
Ricardo Farias, ofmcap):
"Parto da convicção,
compartilhada por todos nós e frequentemente repetida pelo Papa Francisco, de
que a Renovação Carismática Católica (RCC) é “uma corrente de graça para toda a
Igreja”. Se a RCC é uma corrente de graça para toda a Igreja, temos o dever de
explicar a nós mesmos e à Igreja em que consiste esta corrente de graça e
porque ela é destinada e necessária a toda a Igreja. Explicar, brevemente, o
que somos e o que oferecemos – melhor, o que Deus oferece – à Igreja com esta
corrente de graça.
Até o momento não
estivemos em condições – nem podíamos estar – de dizer com clareza o que é a
Renovação Carismática. É necessário, portanto, experimentar uma forma de vida
antes de poder defini-la. Assim aconteceu sempre no passado, por ocasião do
aparecimento de novas formas de vida cristã. Pobres daqueles movimentos e
ordens religiosas que nascem com tantas regras e constituições estabelecidas
minuciosamente desde o início, para depois colocá-las em prática como um
protocolo a ser seguido. É a vida que, progredindo, adquire uma fisionomia e se
dá uma regra, como o rio que, avançando, cava seu próprio leito.
Devemos reconhecer que,
até o momento, temos dado à Igreja ideias e representações da Renovação
Carismática diferentes e, às vezes, contraditórias. Bastaria fazer uma breve
sondagem entre as pessoas que vivem fora dela para nos darmos conta da confusão
que reina acerca da identidade da Renovação Carismática.
Para alguns, ela é um
movimento de “entusiastas”, não diverso dos movimentos “entusiastas e
iluminados” do passado, o povo do Aleluia, das mãos erguidas, que rezam e
cantam em uma linguagem incompreensível, um fenômeno, no fim das contas,
emocional e superficial. Posso afirmá-lo, com conhecimento de causa, pois eu
também fui, por certo tempo, daqueles que pensavam assim. Para outros, ela é
identificada com pessoas que fazem orações de cura e realizam exorcismos; para
outros, ainda, trata-se de uma “infiltração” protestante e pentecostal na
Igreja católica. Na melhor das hipóteses, a Renovação Carismática é vista como
uma realidade à qual se pode confiar tantas coisas na paróquia, mas com a qual
é melhor não se envolver. Como alguém disse, ama-se os frutos da Renovação, mas
não a árvore.
Após 50 anos de vida e de
experiência, e por ocasião da inauguração do novo organismo de serviço, a
CHARIS, talvez tenha chegado o momento de tentar fazer uma releitura desta
realidade e dar-lhe uma definição, ainda que não definitiva, estando o seu
caminho por nada concluído.
Acredito que a essência
desta corrente de graça esteja providencialmente contida em seu nome “Renovação
Carismática”, desde que se compreenda o verdadeiro significado destas duas
palavras. É o que me proponho a fazer, dedicando a primeira parte da minha
exposição ao substantivo “Renovação” e a segunda parte ao adjetivo
“carismática”.
PRIMEIRA PARTE: “RENOVAÇÃO”
É necessário fazer uma
premissa de caráter geral para entender a relação que existe entre o
substantivo “renovação” e o adjetivo “carismático”, e o que cada um deles
representa.
Na Bíblia, emergem
claramente dois modos de operar do Espírito de Deus. Há, primeiramente, o modo
que podemos chamar de carismático. Este consiste no fato de que o Espírito de
Deus vem sobre algumas pessoas, em circunstâncias particulares, e lhes confere
dons e capacidades além do alcance humano para desempenhar a tarefa que Deus
espera delas. Fala-se do Espírito de Deus que vem sobre algumas pessoas e lhes
confere dons artísticos para a construção do templo.[1] A característica deste
modo de operar do Espírito de Deus é que ele é dado a uma pessoa, mas não para
a própria pessoa, para torná-la mais agradável a Deus, mas, antes, pelo bem da
comunidade, para o serviço.
Apenas num segundo
momento, praticamente após o exílio, inicia-se a falar de um modo diverso de
operar do Espírito de Deus, um modo que, em seguida, chamar-se-á ação
santificadora do Espírito (2Ts 2,13). Pela primeira vez, no Salmo 51, o
Espírito é definido “santo”: “não retireis de mim o vosso Santo Espírito”. O
testemunho mais claro é a profecia de Ezequiel 36,26-27:
Eu vos darei um coração
novo e porei um espírito novo dentro de vós. Arrancarei do vosso corpo o
coração de pedra e vos darei um coração de carne; porei o meu espírito dentro
de vós e farei com que sigais a minha lei e cuideis de observar os meus
mandamentos.
A novidade deste modo de
agir do Espírito é que ele vem sobre uma pessoa e permanece nela, e a
transforma desde dentro, dando-lhe um coração novo e uma capacidade nova de
observar a lei. Em seguida, a teologia chamará o primeiro modo de agir do
Espírito “gratia
gratis data”, dom gratuito, e o segundo, “gratia gratum faciens”,
graça que torna agradável a Deus.
Passando do Antigo ao Novo
Testamento, este dúplice modo de agir do Espírito se torna ainda mais claro.
Basta ler primeiramente o capítulo 12 da Primeira Carta aos Coríntios, onde se
fala de todo tipo de carismas, e depois passar ao capítulo sucessivo, o 13,
onde se fala de um dom único, igual e necessário para todos, que é a caridade.
Esta caridade é “o amor de Deus derramado em nossos corações pelo Espírito
Santo” (Rm 5,5), o amor – assim o define Santo Tomás de Aquino – “com o qual
Deus nos ama e com o qual nos torna capazes de amá-lo e os irmãos”[2].
A relação entre a obra
santificadora do Espírito e a sua ação carismática é vista por Paulo como a
relação que existe entre o ser e o agir e como a relação que existe entre a
unidade e a diversidade na Igreja. A ação santificadora se refere ao ser do
cristão, os carismas se referem ao agir, são para o serviço
(1Cor 12,7; 1Pd 4,10); a primeira coisa funda a unidade da Igreja, a
segunda, a variedade das
suas funções. Sobre isso, basta ler Efésios 4, 4-13. Neste, o Apóstolo expõe
primeiramente o que funda o ser do cristão e a unidade de todos os fiéis: um só
corpo, um só Espírito, um só Senhor, uma só fé, para passar a falar da “graça
dada a cada um conforme a medida do dom de Cristo”: apóstolos, evangelistas,
mestres...
O Apóstolo não se limita a
pôr em evidência os dois modos de operar do Espírito, mas afirma também a
prioridade absoluta da ação santificadora sobre a ação carismática. O agir
depende do ser (agere
sequitur esse), não o contrário. Paulo aborda brevemente a maioria dos
carismas – falar todas as línguas, possuir o dom da profecia, conhecer todos os
mistérios, distribuir tudo aos pobres – e conclui que, sem a caridade, não
serviriam a nada a quem os exerce, ainda que possam servir a quem os recebe.
Tudo o que eu disse sobre
a ação renovadora e santificadora do Espírito está contido no substantivo
“Renovação”. Por que justamente este termo? Por que chamamos “Seminário de vida
nova no Espírito” o instrumento com o qual nos preparávamos para
receber o batismo no Espírito? A ideia de novidade acompanha do início ao fim a
revelação da ação santificadora do Espírito. Já em Ezequiel, fala-se de um
“Espírito novo”. João fala de um “nascer de novo da água e do Espírito (Jo
3,5). Mas é sobretudo São Paulo que vê na “novidade” o que caracteriza toda a
“nova aliança” (2Cor 3,6). Ele define o fiel como “homem novo” (Ef 2,15; 4,24)
e o batismo como “um banho de renovação no Espírito Santo” (Tt 3,5).
O que deve ser
imediatamente posto às claras é que esta vida nova é a vida trazida por Cristo.
É ele que, ressurgindo da morte, deu-nos a possibilidade, graças ao nosso
batismo, de “levarmos uma vida nova” (Rm 6,4). Ela é, portanto, dom, antes que
um dever, um “fato”, antes que um “deve ser feito”. Sobre este ponto, faz-se
necessária uma revolução copernicana na mentalidade comum do fiel católico (não
na doutrina oficial da Igreja!), e é esta uma das contribuições mais
importantes que a Renovação Carismática pode dar – e, em parte, já tem dado – à
vida da Igreja. Por séculos, insistiu-se tanto na moral, no dever, no deve ser
feito para conquistar a vida eterna, a ponto de se inverter a relação e se pôr
o dever antes do dom, fazendo da graça o efeito, ao invés da causa, das nossas
boas obras.
A Renovação Carismática,
concretamente o batismo no Espírito, operou dentro de mim aquela revolução
copernicana de que falei, e, por isso, estou intimamente convencido de que ela
pode operá-la em toda a Igreja. E é a revolução da qual depende a possibilidade
de reevangelizar o mundo pós-cristão. A fé desabrocha na presença do kerygma,
não na presença da didaché,
ou seja, não na presença da teologia, da apologética, da moral. Estas coisas
são necessárias para “formar” a fé e levá-la à perfeição da caridade, mas não
estão em condições de gerá-la. O cristianismo, diferentemente de qualquer outra
religião, não começa dizendo aos homens o que devem fazer para salvarem-se;
começa dizendo o que Deus fez, em Cristo Jesus, para salvá-los. É a religião da
graça.
Em que consiste a vida nova no Espírito
Mas agora chegou o momento
de descer mais ao concreto, e ver em que consiste e como se manifesta a vida
nova no Espírito, e, portanto, em que consiste a verdadeira “Renovação”.
Apoiamo-nos em São Paulo e, mais precisamente, na sua Carta aos Romanos, pois é
aí que, quase programaticamente, são expostos os seus elementos constitutivos.
Uma vida vivida na lei do
Espírito
A vida nova é,
primeiramente, uma vida vivida “na lei do Espírito”.
“Não há mais condenação
para aqueles que estão em Cristo Jesus. Pois a lei do Espírito que dá a vida em
Jesus Cristo te libertou da lei do pecado e da morte” (Rm 8,1-2).
Não se entende o que
significa a expressão “lei do Espírito”, se não a partir do evento de
Pentecostes. No Antigo Testamento, existiam duas interpretações fundamentais da
festa de Pentecostes. No início, Pentecostes era a festa da colheita (cf. Nm
28,26ss), quando se oferecia a Deus as primícias do trigo (cf. Ex 23,16; Dt
16,9). Mas, sucessivamente, e certamente no tempo de Jesus, a festa se
enriquecera de um novo significado. Era a festa que recordava a outorga da lei
no Monte Sinai e a aliança estabelecida entre Deus e o seu povo; a festa,
enfim, que comemorava os acontecimentos descritos em Ex 19-20. “Este dia da
festa das semanas – reza um texto da atual liturgia hebraica de Pentecostes (Shavuot)
– é o tempo do dom da nossa Torá”.
O que vem a nos dizer,
sobre nosso Pentecostes, esta aproximação? O que significa, em outras palavras,
o fato de que o Espírito Santo desce sobre a Igreja justamente no dia em que
Israel recordava o dom da lei e da aliança? Já Santo Agostinho se fazia esta
pergunta e dava a seguinte resposta. Cinquenta dias após a imolação do cordeiro
no Egito, no monte Sinai, o dedo de Deus escreveu a lei de Deus em tábuas de
pedra, e eis que, cinquenta dias depois da imolação do verdadeiro Cordeiro de
Deus, que é Cristo, novamente o dedo de Deus, o Espírito Santo, escreveu a lei;
mas desta vez não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne dos corações[3].
Esta interpretação se
fundamenta, ela mesma, na afirmação de Paulo que define a comunidade da nova
aliança como uma “carta de Cristo, escrita não com tinta, mas com o Espírito de
Deus vivo, gravada não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, dos
corações” (cf. 2Cor 3,3).
De um lance, iluminam-se
as profecias de Jeremias e de Ezequiel sobre a nova aliança: “Esta será a
aliança que concluirei com a casa de Israel, depois desses dias, diz o Senhor:
imprimirei minha lei em suas entranhas, e hei de inscrevê-la em seu coração;
serei seu Deus e eles serão meu povo” (Jr 31,33). Não mais em tábuas de pedra,
mas nos corações; não mais uma lei exterior, mas uma lei interior.
Como age, concretamente,
esta nova lei, que é o Espírito, e em que sentido pode-se chamar de “lei”? Age
através do amor! A nova lei é o que Jesus chama de “mandamento novo” (Jo
13,34). O Espírito Santo escreveu a nova lei em nossos corações, infundindo
neles o amor: “O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito
Santo que nos foi dado” (Rm 5,5). Este amor, explicou-nos Santo Tomás, é o amor
com o qual Deus nos ama e com o qual, contemporaneamente, faz com que nós
possamos amá-lo em resposta e amar o próximo. É uma capacidade nova de amar.
Há dois modos com os quais
o homem pode ser induzido a fazer, ou a não fazer, uma certa coisa: ou por coerção ou
por atração;
a lei exterior o induz do primeiro modo, por coerção, com a ameaça do castigo;
o amor o induz do segundo modo, por atração. Cada um, de fato, é atraído por
aquilo que ama, sem que sofra qualquer coerção do exterior. A vida cristã deve
ser vivida por atração, não por coerção, por amor, não por temor.
Uma vida de filhos de Deus
Em segundo lugar a vida
nova no Espírito é uma vida de filhos de Deus. Escreve ainda o Apóstolo:
“Todos aqueles que se
deixam conduzir pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. De fato, vós não
recebestes um espírito de escravos, para recairdes no medo, mas recebestes um
espírito de filhos adotivos, no qual todos nós clamamos: Abá – ó Pai! O próprio
Espírito se une ao nosso espírito para nos atestar que somos filhos de Deus”
(Rm 8,14-16).
Esta é uma ideia central
da mensagem de Jesus e de todo o Novo Testamento. Graças ao batismo que nos
enxertou em Cristo, nós nos tornamos filhos no Filho. O que, portanto, pode
trazer de novo a Renovação Carismática neste campo? Algo importantíssimo, isto
é, a descoberta e a tomada de consciência existencial da paternidade de Deus, o
que tem feito cair em lágrimas mais de uma pessoa no momento do batismo no
Espírito. De
direito, nós somos filhos pelo batismo, mas, de fato, nós nos tornamos graças
a uma ação do Espírito Santo que continua na vida.
Uma vida no senhorio de
Cristo
Enfim, a vida nova é uma
vida no Senhorio de Cristo. Escreve o Apóstolo:
“Se, com tua boca,
confessares Jesus como Senhor e, no teu coração, creres que Deus o ressuscitou
dos mortos, serás salvo” (Rm 10,9).
E, de novo, logo depois,
na mesma Carta:
Ninguém dentre nós vive
para si mesmo ou morre para si mesmo. Se estamos vivos, é para o Senhor que
vivemos; se morremos, é para o Senhor que morremos. Portanto, vivos ou mortos,
pertencemos ao Senhor. Cristo morreu e ressuscitou exatamente para isto, para
ser o Senhor dos mortos e dos vivos. (Rm 14,7-9).
Este conhecimento especial
de Jesus é obra do Espírito Santo: “Ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor a não
ser no Espírito Santo” (1Cor 12,3). O dom mais evidente que eu recebi na
ocasião do meu batismo no Espírito foi a descoberta do Senhorio de Cristo. Até
então, eu era um estudioso de cristologia, realizava cursos e escrevia livros
sobre as doutrinas cristológicas antigas; o Espírito Santo me converteu da
cristologia a Cristo. Que emoção ao escutar, em julho de 1977, no estádio de
Kansas City, 40 mil fiéis de várias denominações cristãs cantando: He’s
Lord, He’is Lord. He’s
risen from the dead and He is Lord. Every knee shall bow, every tongue confess
that Jesus Christ is Lord” (“Ele
é o Senhor, Ele é o Senhor. Ele ressurgiu dos mortos e Ele é o
Senhor. Todo joelho se dobre, toda língua confesse que Jesus Cristo é o
Senhor”, N. do T.). Para
mim, até então observador externo da Renovação, aquele canto tinha ressonâncias
cósmicas, apelava ao que está nos céus, na terra e abaixo dela. Por que não
repetir, em uma ocasião como esta, aquela experiência e proclamar juntos, no
canto, o senhorio de Cristo...? Cantemos em inglês, quem souber…
O que há de especial, na
proclamação de Jesus como Senhor, que a faz tão diversa e determinante? É que,
com ela, não se faz apenas uma profissão de fé, mas se toma uma decisão
pessoal. Quem a pronuncia, decide o sentido da sua vida. É como se
dissesse: “Tu és o meu Senhor; eu me submeto a ti, eu te reconheço livremente
como o meu salvador, o meu chefe, o meu mestre, aquele que tem todos os
direitos sobre mim. Eu te entrego com alegria as rédeas da minha vida”.
Esta redescoberta luminosa
de Jesus como Senhor é talvez a mais bela graça que, em nossos tempos, Deus tem
concedido à sua Igreja, através da RCC. No início, a proclamação de Jesus como
Senhor (Kyrios)
foi, para a evangelização, o que a relha é para o arado: aquela espécie de
espada que, primeiro, fende o terreno e permite ao arado traçar o sulco. Sobre
este ponto, infelizmente, incide uma mudança na passagem do ambiente judaico ao
helenístico. No mundo judaico, o título Adonai, Senhor, sozinho,
bastava para proclamar a divindade de Cristo. E, de fato, é com ele que, no dia
de Pentecostes, Pedro proclama Jesus Cristo ao mundo: “Que todo o povo de
Israel reconheça com plena certeza: Deus constituiu Senhor e Cristo a este
Jesus que vós crucificastes” (At 2,36).
Na pregação aos pagãos,
esse título não era mais suficiente. Tantos, a partir do imperador romano,
faziam-se chamar de Senhores. Nota-o com tristeza o Apóstolo: “Existem muitos
deuses e senhores, para nós, porém, existe um só Senhor, Jesus Cristo” (cf.
1Cor 8,5-6). Já no século III, o título de Senhor não é mais compreendido em
seu significado kerigmático; é considerado o título próprio para quem ainda
está no estágio de “servo” e do temor, inferior, portanto, ao título de Mestre,
que é próprio para o “discípulo” e o amigo[4]. Continua-se, certamente, a falar
de Jesus “Senhor”, mas este se tornou um título como os outros, ou melhor, mais
frequentemente, um dos elementos do nome completo de Cristo: “Nosso Senhor Jesus
Cristo”. Mas uma coisa é dizer “nosso Senhor Jesus Cristo”, outra, dizer:
“Jesus Cristo é o nosso Senhor!” (com o ponto de exclamação).
Onde está, em tudo isso, o
salto de qualidade que o Espírito Santo nos proporciona fazer no conhecimento
de Cristo? Está no fato de que a proclamação de Jesus Senhor é a porta que dá
acesso ao conhecimento do Cristo ressuscitado e vivo! Não mais um Cristo
personagem, mas pessoa; não mais um conjunto de teses, de dogmas (e das
heresias correspondentes), não mais apenas objeto de culto e de memória, mas
realidade viva no Espírito. Entre este Jesus vivo e o dos livros e das doutas
discussões sobre ele, corre a mesma diferença que há entre o céu verdadeiro e
um céu desenhado em uma folha de papel. Se quisermos que a nova evangelização
não permaneça um pio desejo, devemos recolocar a “relha” na frente do arado, o
kerygma na frente da parênese.
A experiência comum do
senhorio de Cristo é também o que mais impele à unidade dos cristãos, como
vemos que ocorre aqui, entre nós. Uma das tarefas prioritárias da CHARIS,
segundo as indicações do Santo Padre, é justamente a de promover, com todos os
meios, esta unidade entre todos os fiéis em Cristo, no respeito recíproco da
própria identidade.
Uma corrente de graça para toda a Igreja
Creio que, neste ponto,
esteja claro porque dizemos que a Renovação Carismática é uma corrente de graça
para toda a Igreja. Tudo o que a palavra de Deus nos tem revelado sobre a vida
nova em Cristo – uma vida vivida segundo a lei do Espírito, uma vida de filhos
de Deus e uma vida no Senhorio de Cristo –, tudo isso não é senão a essência da
vida e da santidade cristã. É a vida batismal atuada em plenitude, isto é, não
só pensada e acreditada, mas vivida e proposta, e não a algumas almas
privilegiadas apenas, mas por todo o povo santo de Deus. Para muitos milhões de
fiéis, o batismo no Espírito tem sido a porta que os introduziu a esses esplendores
da vida cristã.
Uma das máximas queridas
ao Papa Francisco é que “a realidade é superior à ideia”[5], e, portanto, que o
vivido é superior ao pensado. Creio que a Renovação Carismática pode ser (e, em
parte, tem sido) de grande ajuda para fazer passar as grandes verdades da fé do
pensado ao vivido, para fazer passar o Espírito Santo dos livros de teologia à
experiência dos fiéis.
São João XXIII concebeu o
Concílio Vaticano como a ocasião para um “novo Pentecostes” para a Igreja. O
Senhor respondeu a esta oração do Papa além de qualquer expectativa. Mas o que
significa “um novo Pentecostes”? Ele não pode consistir apenas em um novo
florescimento de carismas, de ministérios, de sinais e prodígios, em um sopro
de ar fresco no rosto da Igreja. Estas coisas são o reflexo e o sinal de algo
mais profundo. Um novo Pentecostes, para ser realmente tal, deve acontecer na
profundidade que nos revelou o Apóstolo; deve renovar o coração da Esposa, não
apenas o seu vestido.
Para ser, contudo, a
corrente de graça que descrevemos, a Renovação Carismático precisa ela mesma se
renovar, e a isso quer contribuir a instituição da CHARIS. “Não se pense –
escrevia Orígenes, no século III – que basta se renovar uma única vez; é
preciso renovar a mesma novidade: ‘Ipsa
novitas innovanda est’”[6]. Não há que se surpreender com isso. É o que
acontece em todo projeto de Deus no momento em que é colocado nas mãos do
homem.
Logo após a minha adesão à
Renovação, um dia, em oração, fui tomado por alguns pensamentos. Parecia-me
intuir o que o Senhor estava fazendo de novo na Igreja; peguei uma folha de
papel e uma caneta e escrevi alguns pensamentos, dos quais eu mesmo me
surpreendi, tão pouco, eram fruto da minha reflexão. Encontram-se publicados em
meu livro La
sobria ebbrezza dello Spirito (“A sóbria embriaguez do Espírito”, N.
do T.), mas me permito compartilhar-lhes de novo, pois me parece ser o ponto do
qual devemos reiniciar.
“O Pai quer glorificar o
seu Filho Jesus Cristo na terra de maneira nova, com uma invenção nova. O
Espírito Santo é agente desta glorificação, pois está escrito: ‘Ele me
glorificará e receberá do que é meu’. Uma vida cristã inteiramente consagrada a
Deus, sem fundador, nem regra, nem congregação novos. Fundador: Jesus! Regra: o
Evangelho interpretado pelo Espírito Santo! Congregação: a Igreja! Não se
preocupar com o amanhã, não querer fazer coisas que permaneçam, não querer
erguer organismos reconhecidos que se perpetuem com sucessores... Jesus é um
Fundador que nunca morre, por isso, não precisa de sucessores. É preciso
deixá-lo sempre fazer coisas novas, também amanhã. O Espírito Santo existirá
também amanhã na Igreja!”
SEGUNDA PARTE: “CARISMÁTICO”
Agora chegou o momento de
passar à segunda parte do meu discurso, que será bem mais breve: o que
acrescenta o adjetivo “Carismático” ao nome “Renovação”. Primeiramente, é
importante dizer que “carismático” deve permanecer um adjetivo e jamais se
tornar um substantivo. Em outras palavras, deve-se evitar absolutamente, de
nossa parte, o uso do termo “os carismáticos”, para indicar as pessoas que
fizeram a experiência da Renovação. No caso, use-se a expressão “cristãos
renovados”, mas não carismáticos. O uso deste nome suscita justamente
ressentimento, pois cria discriminação entre os membros do corpo de Cristo,
quase como se alguns fossem dotados de carismas e outros não.
Não quero fazer aqui um
ensinamento sobre carismas, dos quais há tantas ocasiões para falar. A minha
intenção é mostrar como, também enquanto realidade carismática, a Renovação é
uma corrente de graça destinada a toda a Igreja. Para ilustrar esta afirmação,
é necessário dar uma rápida olhada na história dos carismas na Igreja.
A redescoberta dos carismas no Vaticano II
O que tinha acontecido, na
realidade, aos carismas após sua tumultuosa aparição nos inícios da Igreja? Os
carismas não tinham desaparecido tanto da vida da Igreja, quanto
mais da sua teologia.
Se revisitarmos a história da Igreja, tendo em mente as várias listas de
carismas do Novo Testamento, devemos concluir que, com exceção talvez do “falar
em línguas” e da “interpretação das línguas”, nenhum dos carismas foi
completamente perdido.
Então, onde está a
novidade que nos permite falar de um despertar dos carismas em nossa época? O
que estava ausente antes? Os carismas, do seu âmbito próprio da utilidade comum
e da “organização da Igreja”, tinham sido progressivamente confinados no âmbito
privado e pessoal. Não mais entravam na constituição da Igreja.
Na vida da comunidade
cristã primitiva, os carismas não eram fatos privados, eram o que, juntamente
com a autoridade apostólica, delineavam a fisionomia da comunidade. Apóstolos e
profetas eram as duas forças que, juntas, guiavam a comunidade. Bem cedo, o equilíbrio
entre as duas instâncias – a do ofício e a do carisma – rompe-se em vantagem do
ofício. Um elemento determinante foi o surgimento das primeiras falsas
doutrinas, especialmente as gnósticas. Foi este fato que fez pender sempre mais
a agulha da balança para os detentores do ofício, os pastores. Um outro fato
foi a crise do movimento profético difundido por Montano na Ásia Menor no
século II, que serviu para desacreditar ainda mais um certo tipo de entusiasmo
carismático coletivo.
Deste fato fundamental
derivam todas as consequências negativas acerca dos carismas. Os carismas são
relegados às margens da vida da Igreja. Desaparecem sobretudo aqueles carismas
que tinham como terreno de exercício o culto e a vida da comunidade: o falar
inspirado e glossolalia, os chamados carismas pentecostais. A profecia vem a se
reduzir ao carisma do magistério de interpretar autenticamente e infalivelmente
a revelação (esta era a definição da profecia nos tratados de eclesiologia que
se estudavam a meu tempo).
Busca-se justificar também
teologicamente esta situação. Segundo uma teoria frequentemente repetida por
São João Crisóstomo e depois, até a vigília do Vaticano II, certos carismas
seriam reservados à Igreja em seu “estado nascente”, mas depois teriam
“cessado”, como não mais necessários à economia geral da Igreja[7].
Outra consequência
inevitável é a clericalização dos carismas. Ligados à santidade pessoal, eles
acabam por ser associados quase sempre aos representantes habituais desta
santidade: pastores, monges, religiosos. Do âmbito da eclesiologia, os carismas
passam ao da hagiografia,isto
é, ao estudo da vida dos santos. O lugar dos carismas é tomado pelos “Sete dons
do Espírito” que, no início (em Isaías 11) e até a Escolástica, não eram outra
coisa senão uma categoria particular de carismas, aqueles prometidos ao rei
messiânico e, em seguida, àqueles que têm a tarefa do governo pastoral.
Esta é a situação a que o
Concílio Vaticano II quis remediar. Em um dos documentos mais importantes do
Vaticano II, lemos o conhecido texto:
“O Espírito Santo não só
santifica e conduz o Povo de Deus por meio dos sacramentos e ministérios e o
adorna com virtudes, mas ‘distribuindo a cada um os seus dons como lhe apraz’
(1Cor 12,11), distribui também graças especiais entre os fiéis de todas as
classes, as quais os tornam aptos e dispostos a tomar diversas obras e
encargos, proveitosos para a renovação e cada vez mais ampla edificação da
Igreja, segundo aquelas palavras: ‘a cada qual se concede a manifestação do
Espírito em ordem ao bem comum’ (1Cor 12,7). Estes carismas, quer sejam os mais
elevados, quer também os mais simples e comuns, devem ser recebidos com ação de
graças e consolação”[8].
Este texto não é uma nota
marginal dentro da eclesiologia do Vaticano II; antes, é sua coroação. É o modo
mais claro e mais explícito de afirmar que, ao lado da dimensão hierárquica e
institucional, a Igreja tem uma dimensão pneumática e que a primeira está em
função e a serviço da segunda. Não é o Espírito que está a serviço da
instituição, mas a instituição a serviço do Espírito.
A essa altura, concluído o
Concílio e reunidos em um volume os seus decretos, o perigo de marginalizar os
carismas se reapresentava sob outra forma, não menos perigosa: a de permanecer
um belo documento que os estudiosos não se cansam de estudar e os pregadores de
citar. O Senhor preveniu, ele mesmo, sobre este perigo, dando a ver com os
próprios olhos, àquele que quisera fortemente o texto sobre os carismas, que
eles tinham voltado não apenas à teologia, mas também à vida do povo de Deus.
Quando, pela primeira vez, em 1973, o Cardeal Leo Suenens, ouviu falar da
Renovação Carismática Católica, surgida nos Estados unidos, estava escrevendo
um livro intitulado “O Espírito Santo, nossa esperança”, e eis o que ele conta em
suas memórias:
“Parei de escrever o
livro. Pensei que fosse uma questão da mais elementar coerência prestar atenção
na ação do Espírito Santo, porquanto ela pudesse se manifestar de modo
surpreendente. Eu estava particularmente interessado na notícia do despertar
dos carismas, a partir do momento em que o Concílio tinha invocado um tal
despertar”.
E eis o que escreveu após
ter constatado com os próprios olhos o que estava acontecendo na Igreja:
“Improvisamente, São Paulo
e os Atos dos Apóstolos pareciam se tornar vivos e fazer parte do presente; o
que era autenticamente verdadeiro no passado, parecer acontecer de novo sob os
nossos olhos. É uma descoberta da verdadeira ação do Espírito Santo que está
sempre em ação, como o próprio Jesus prometeu. Ele mantém a sua palavra. É de
novo uma explosão do Espírito de Pentecostes, uma alegria que tinha se tornado
desconhecida para a Igreja”[9].
Agora está claro,
acredito, porque digo que também como realidade carismática, a Renovação é uma
corrente de graça destinada e necessária a toda a Igreja. É a própria Igreja
que, no Concílio, definiu-o. Resta apenas passar da definição à atuação, dos
documentos à vida. E este é o serviço que a CHARIS, em total continuidade com a
RCC do passado, é chamada a prestar à Igreja.
Não se trata somente de
fidelidade ao Concílio, mas de fidelidade à própria missão da Igreja. Os
carismas, lê-se no texto conciliar, são “proveitosos para a renovação e cada
vez mais ampla edificação da Igreja” (talvez teria sido mais justo escrever
“necessários”, no lugar de “proveitosos”). A fé, hoje, como no tempo de Paulo e
dos apóstolos, não se transmite “com discursos persuasivos de sabedoria, mas na
manifestação do Espírito e do poder” (cf. 1Cor 2,4-5; 1Ts 1,5). Se, há um
tempo, em um mundo que se tornou, pelo menos oficialmente, “cristão”, podia-se
pensar que não havia mais necessidade de carismas, de sinais e prodígios, como
no início da Igreja, hoje não mais. Nós voltamos a estar mais próximos ao tempo
dos apóstolos do que ao de São João Crisóstomo. Eles deviam anunciar o
Evangelho a um mundo pré-cristão; nós, pelo menos no ocidente, a um mundo
pós-cristão.
Eu disse até aqui que a
RCC é uma corrente de graça necessária a toda a Igreja Católica. Devo
acrescentar que ela o é duplamente para algumas igrejas nacionais que assistem
há tempos a uma dolorosa hemorragia dos próprios fiéis rumo a outras realidades
carismáticas. É bem conhecido que um dos motivos mais comuns de tal êxodo é a
necessidade de uma expressão da fé que mais responda à própria cultura: com
mais espaço dado à espontaneidade, à alegria e ao corpo; uma vida de fé em que
a religiosidade popular seja um valor acrescentado e não um substitutivo do
senhorio de Cristo.
Fazem-se análises
pastorais e sociológicas do fenômeno[10] e se especulam remédios, mas se tem
dificuldade em dar-se conta de que o Espírito Santo já proveu, de maneira
grandiosa, a esta necessidade. Não se pode mais continuar a ver a RCC como
parte do problema do êxodo dos católicos, ao invés de solução do problema. Para
que este remédio seja realmente eficaz, não basta, contudo, que os pastores
aprovem e encorajem a RCC, permanecendo acuradamente fora dela. É preciso
acolher na própria vida a corrente de graça. A isso nos impulsiona o exemplo do
Pastor da Igreja universal, também com a instituição da CHARIS.
Não pretendo prolongar-me
além sobre o tema carismas e evangelização. Dele, falou-nos o nosso caro
coordenador Jean-Luc e nos falará daqui a pouco Mary Healy, que, sobre este
tema, além de uma excelente formação teológica, possui também uma notável
experiência amadurecida na área. Concluo com uma reflexão sobre o exercício dos
carismas.
* * *
Como assistente
eclesiástico, procurei dar, com este ensinamento, a minha contribuição para uma
correta visão da RCC na história e no presente da Igreja. Serão, porém, o
moderador e os membros do comitê internacional a ter que carregar o peso maior
deste novo início. A todos eles, exprimo a minha fraterna amizade e a minha
incondicional colaboração, até quando o Senhor me der a força para fazê-lo. A
Carta aos Hebreus recomendava aos primeiros cristãos: “Lembrai-vos de vossos
dirigentes, que vos pregaram a palavra de Deus” (Hb 13,7). Nós devemos fazer o
mesmo, recordando com afeto e gratidão aqueles que, por primeiro, viveram e
promoveram o novo Pentecostes: Patti Mansfield, Ralph Martin, Steve Clark,
Kevin e Dorothy Ranagan e todos os outros que, em seguida, serviram à RCC no
ICCRS, na Fraternidade Católica e em outros órgãos de serviço.
Concluo com uma palavra
profética que proclamei na primeira vez que me encontrei a pregar na presença
de São João Paulo II. É a palavra que o profeta Ageu dirigiu aos chefes e ao
povo de Israel no momento em que se preparavam para reconstruir o templo:
“Mas agora, toma coragem,
Zorobabel, diz o Senhor, coragem, Josué, filho de Josedec, sumo sacerdote;
coragem, povo todo desta terra, diz o Senhor dos exércitos; ponde mãos à obra,
pois eu estou convosco” (Ag
2,4).
Coragem, Jean-Luc e
membros do comitê; coragem, povo todo da RCC; coragem irmãos e irmãs de outras
Igrejas cristãs que estão conosco: “ponde mãos à obra, pois eu estou convosco,
diz o Senhor!”
____________________________________
Traduzido do italiano por
Fr. Ricardo Farias, ofmcap.
[1] cf. Ex 31,3; Jz 14,6;1Sm 10,6; Is 61,1.
[2] Cf. Santo Tomás de Aquino, Commento
alla Lettera ai Romani, cap. V, lez. 1, n. 392.
[3] Cf. Santo Agostinho, De
Spiritu et littera, 16,28 ; Sermo Mai 158,4 (PLS 2,525).
[4] Cf. Orígenes, Commento a Giovanni, I,
29 (SCh 120, p. 158).
[5] Evangelii
gaudium, 231.
[6] Cf. Orígenes, In Rom. 5,8; PG 14,
1042.
[7] Cf. F. Lambiasi, Lo
Spirito Santo: mistero e presenza. Bologna 1987, pp. 278s.
[8]Lumen gentium, 12.
[9] Leo-Joseph Suenens, Memories
and Hopes, Dublin, Veritas 1992, p. 267.
[10] Cf. João B. Ferreira
de Araújo, La
ritualità del Pentecostalismo. Cause di una crescita imprevedibile in Brasile e
nel mondo, Cittadella, Assisi, 2019.
Fonte: Vatican News
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