Ser sacerdote é um
chamado, um serviço. Os sacerdotes, como todos os santos, sempre estiveram na
linha de frente, no combate, prontos para dar a vida pelo rebanho que lhes foi
confiado.
Não sei, mas me parece que, no início da Igreja, não havia
seminários nem faculdades teológicas para ensinar teologia; estas vieram
muito depois. No início, a convivência com os pastores, a assiduidade nas
celebrações e austeridade de vida, que eram testemunho autêntico do amor a
Jesus, constituíam o critério que levava os pastores mais anciãos a escolher
presbíteros mais novos para que aprendessem a tomar conta da comunidade e a
celebrar o mistério da Eucaristia e do perdão dos pecados.
Hoje a formação para ser padre se tornou muito complicada,
longa, difícil, e parece-me que nem sempre chegam aos bons resultados que
esperamos na vida de cada dia. Diante da crise de vocações sacerdotais, a
comunidade é obrigada a ficar anos sem sacerdotes, e também existem os que são
vistos rarissimamente. O que fazer diante desse problema? Muitas são as
opiniões. Não é que a minha vai resolver os problemas, aliás, não quero que
seja nem uma opinião, mas uma memória dos primeiros tempos da Igreja, em que
cada comunidade escolhia o seu presbítero, que era apresentado ao Bispo e era,
depois de um exame, admitido a servir a comunidade.
Cada comunidade deveria fazer prover, nascer vocações no seu
seio, desde uma educação familiar, na escola, no trabalho. Sei que é uma ideia
revolucionária e boba, mas um dia a comunidade de Agostinho começou a gritar:
“Agostinho padre, Agostinho padre…” – e ele se fez padre. Passado um tempo, o
clamor do povo o aclamou Bispo e ele foi Bispo, e não decepcionou nem como
padre nem como Bispo. O rebanho é do Senhor, Ele que vai suscitar os pastores
para o Seu rebanho.
Uma cultura sacerdotal
Hoje, falta uma cultura sacerdotal nas famílias, que são
pequenas igrejas, em que se deve, sem dúvida, cultivar as vocações sacerdotais
e religiosas para o serviço do altar. Ser
sacerdote é um chamado, um serviço. Não há vocação mais bela do que estar a
serviço de Jesus. Os sacerdotes, como todos os santos, sempre estiveram na
linha de frente, no combate, prontos para dar a vida pelo rebanho que lhes foi
confiado. É interessante que todos reclamam pela falta de sacerdotes, mas não
queremos, muitas vezes, que Deus chame alguém de nossas famílias ou algum dos
nossos filhos. Rezemos pelas vocações.
Recordo que uma mãe de família dizia: “todos os dias nós rezamos
pelas vocações, mas não gostaríamos que Deus chamasse alguns dos nossos
filhos.” A graça maior que Deus pode dar a uma família é chamar alguém para ser
sacerdote, religioso, missionário ou missionária. “A vocação”, dizia o Papa São
João Paulo II, “é o encontro entre duas liberdades: Deus, que chama, e o homem
que responde.” Tenho já 74 anos e sou cada dia mais feliz por ser carmelita e
sacerdote de Deus. É uma das alegrias maiores saber que, na minha pobreza,
tenho cooperado para que outros e outras sigam Jesus no ministério sacerdotal
ou na vida doada à missão, ao anúncio do Evangelho nos cinco continentes da
terra.
A Comunidade
gera outra comunidade
É belo poder acompanhar o início da vida da comunidade cristã
logo depois da ressurreição de Jesus. Os apóstolos e discípulos perceberam que
não era possível ficarem encerrados dentro do Cenáculo ou anunciarem o
Evangelho somente em Jerusalém ou nas redondezas; era necessário ir, sair longe
e levar a mensagem de salvação de Jesus para todos os lugares do mundo. Assim,
se colocaram a caminho, e onde passavam reuniam o povo, proclamavam a Palavra
de Deus e davam vida a pequenos grupos de seguidores de Cristo. E uma vez que a
comunidade se encontrava fortalecida, eles novamente se colocavam a caminho.
O Evangelho é peregrino; desceu do céu e andará pela terra até
os últimos dias, quando Jesus voltará glorioso. É urgente na Igreja, nas
comunidades, redescobrir a alegria de anunciar o Evangelho. A Palavra de Deus é
um fogo que queima nos corações e que os impulsiona a comunicar este fogo de
amor. Mas podemos notar, pela leitura dos Atos dos Apóstolos, como também
os missionários voltavam à comunidade mãe para contar todas as maravilhas que o
Senhor tinha realizado através deles.
A vida do missionário não é uma vida solitária, ele não anuncia
em seu próprio nome, mas sim em nome da comunidade. Isto é ser igreja, isto é
criar comunidade – comunhão e unidade –, sem estas duas virtudes fundamentais,
viramos seitas e destruímos o anúncio
de Cristo, que é sempre comunhão e unidade com o Pai e com o Espírito Santo.
Com Jesus
Ressuscitado, a morte é vencida
João Evangelista sonha com Deus, e quem sonha com Deus sempre
sonha com a esperança, e a esperança se faz realidade. – O que vejo? – Céus
novos, terras novas, onde, pela força da ressurreição de Jesus, toda lágrima
será enxuta, toda tristeza será vencida e a morte será destruída. Estes novos céus
e novas terras não se referem somente ao que acontecerá no fim do mundo, quando
Jesus voltará glorioso para julgar a todos, mas se refere, desde já, a aqui e
agora, onde nós vivemos e somos responsáveis tanto pela paz como pela guerra,
pela unidade e pela divisão. A missão do cristão é uma missão de comunhão, de
fraternidade, de paz, com todos e sempre.
Vivemos numa realidade complexa, em que perdemos muitas vezes o
sabor da esperança e achamos que não é mais possível fazer nascer uma nova
sociedade, uma nova família, uma nova comunidade. Este é um grande erro.
Façamos todo o possível da nossa parte e Deus fará o resto.
Nisto vos
conhecerão
Onde está o segredo da mudança da história? Nas novas
tecnologias, nos novos meios de comunicação, em ir à lua ou marte, em descobrir
novos fármacos e maneiras de viver alguns anos a mais? Onde está a novidade da
vida? Em ter mais e ser mais indiferente aos sofrimentos ou solidário com os
que são os últimos? Sim, também em tudo isso. Mas não somente nisso e nem principalmente
nisso.
A novidade da vida e da felicidade está em viver os mandamentos
que Jesus nos tem dado e que o Evangelho grita com toda sua força, para que nos
amemos como Ele nos amou. O amor é o único sinal com que e como o povo vai nos
reconhecer como seguidores de Jesus. Não há outra maneira para se convencer
disto, é só meditar o hino do amor do apóstolo Paulo (cf. 1Cor 13): se dou
todos os bens, se falo todas as línguas, se tenho todos os carismas, mas não
tenho o amor, não tenho nada de nada. Precisamos preencher o nosso coração de
amor para Deus e para o próximo e ir espalhando por aí as sementes deste amor.
Dessa maneira, o mundo será renovado.
Frei Patrício Sciadini, OCD
Frei Patrício Sciadini, OCD
Fonte: Site da
Comunidade Católica Shalom
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