O
Papa Francisco, antes de se deslocar ao Capitólio de Roma para uma manhã
dedicada à Cidade Eterna nesta terça-feira (26), surpreendeu os estudantes da
Pontifícia Universidade Lateranense. Na Aula Magna, o Pontífice conduziu a
meditação de Quaresma para uma comunidade acadêmica em festa com a sua
presença.
Andressa Collet – Cidade do Vaticano
A tradicional meditação de Quaresma
que a Pontifícia Universidade Lateranense de Roma organiza todo o ano foi feita
através de uma visita surpresa do Papa Francisco à comunidade acadêmica e antes
de uma série de compromissos do Pontífice dedicados à Cidade Eterna, no
Capitólio.
O Pontífice começou a Lectio Divina
na Aula Magna através de uma reflexão da primeira leitura do dia do livro do
profeta Daniel (Dn 3, 25. 34-43). O texto traz a oração de três jovens, filhos
de Israel, Hananias, Azarias e Misael, jogados numa grande fornalha ardente
pelo rei da Babilônia, Nabucodonosor, porque se recusaram a adorar a sua
estátua de ouro, convictos da fidelidade a Deus e de proteger a liberdade.
Atitudes que os expôs ao martírio, “como acontece também hoje aos seus colegas
cristãos, em algumas partes do mundo”, disse o Papa. Deus, porém, impediu o mal
aos jovens.
“Ser encobertos pelas chamas e
permanecer ilesos: acontece com a ajuda do Senhor Jesus, o Filho de Deus, e da
inspiração do Espírito Santo. Eu imagino vocês assim: mesmo se vivemos num
contexto cultural marcado pelo pensamento único, que envolve todos e faz
adormecer com o seu abraço mortífero e queima toda forma de criatividade e de
pensamento divergente, vocês caminham intactos graças à consagração em Jesus e
no seu Evangelho, que se tornou atual pelo poder do Espírito Santo. Dessa
maneira, conservem um olhar alto e também um olhar outro sobre a realidade, uma
diferença cristã portadora de novidade.”
O inverno demográfico
O Papa convidou os estudantes a
fazerem parte dessa realidade “com sabedoria crítica e capacidade de
discernimento” para contribuir à vida cultural e social do mundo. Essa “adesão
ao Evangelho”, com pensamento autêntico, ajuda a não ceder às tentações do
individualismo, inclusive aquele descrito por Francisco como “inverno
demográfico”, perigoso e que nos separa dos outros:
“’Mas por que não tem filho, ao
menos, dois?’ – ‘Não, mas penso, eu gostaria de fazer uma viagem, espero ainda
mais um pouco...’. E assim os casais seguem sem fecundidade. Por egoísmo, por
querer mais, para fazer viagens culturais, mas os filhos não vêm. Aquela árvore
não dá frutos. O inverno demográfico que hoje todos nós sofremos é realmente o
efeito desse pensamento único, egoísta, dirigido somente a nós mesmos, que
busca somente a ‘minha’ realização. Estudantes, pensem bem nisso: pensem em
como esse pensamento único é tão ‘selvagem’... Parece muito cultural, mas é
‘selvagem’, porque te impede de fazer história, de deixar depois de ti uma
história.”
“É uma vergonha”, afirmou o Papa,
essa exaltação do próprio “eu” pessoal e do grupo, em desprezo aos outros, aos
pobres. Precisamos evitar de “sermos queimados” no cérebro, no coração, no corpo
e nas relações por essa “doença do individualismo”, mas nos deixar conduzir
pela mão do Senhor, construindo uma “mística do nós”, fermento da fraternidade
universal que nos salva do individualismo e propicia “uma espiritualidade de
solidariedade global”.
O futuro precisa de revolução
cultural corajosa
Ao concluir, o Papa sublinhou a
necessidade de uma “mudança de paradigma” inclusive para os estudantes
universitários eclesiásticos que não devem “ficar dissociados da humanidade”,
não devem “jogar com os conceitos ou se prender a fórmulas abstratas”, mas,
sim, ser capazes de “uma revolução cultural corajosa”.
O Pontífice enalteceu a importância
dos estudos, fundados no Evangelho, para ajudar a interpretar o mundo e desejou
que todos fossem abertos ao futuro, ao sonhá-lo e projetá-lo:
“
E continuem a trabalhar, porque a vida não começa com vocês, mas precisa de
vocês para continuar. Enraizados na memória dos antepassados, enraizados na
pertença a um povo. O presente é de vocês e não é de vocês: é um dom que que
vem da história, oferecido a ti, mas para levá-lo adiante. A tua decisão é
aquela que fará com que o dom continue a seguir adiante e dê frutos. ”
Fonte: Vatican News
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