Cardeal Gerhard Muller - Foto: Daniel
Ibáñez (ACI Prensa)
Roma, 10 Fev. 19 / 01:29 pm (ACI).- O Cardeal alemão
Gerhard Müller, que foi Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé entre
2012 e 2017, publicou uma “Declaração de Fé” que busca confrontar a crescente
confusão sobre o ensino da doutrina católica.
“Ante a crescente confusão no
ensinamento da doutrina da fé, muitos Bispos, sacerdotes,
religiosos e leigos da Igreja Católica, me
pediram dar testemunho público da verdade da Revelação”, começa o texto do
Cardeal titulado: “Declaração de fé: "Não se perturbe o vosso
coração!" (João 14,1)”.
Segundo o purpurado o texto foi feito
ainda para “fortalecer aos irmãos e irmãs na fé, cuja fé é amplamente
questionada pela "ditadura do relativismo".
ACI Digital
teve acesso ao texto do Cardeal Mueller traduzido ao português e publica o seu
conteúdo íntegro abaixo:
“Declaração de fé
"Não se perturbe o vosso
coração!" (João 14,1)
Ante a crescente confusão no
ensinamento da doutrina da fé, muitos Bispos, sacerdotes, religiosos e leigos
da Igreja Católica, me pediram dar testemunho público da verdade da Revelação.
É tarefa dos pastores guiar pelo caminho da salvação aos que se lhes foram
confiados. Isto só pode ter êxito se se conhece este caminho e eles mesmos
seguem adiante. A respeito disto a palavra do apóstolo nos indica: "Porque
sobretudo vos entreguei o que eu também recebi" (1 Cor 15,3). Hoje em dia
muitos cristãos já não são conscientes nem sequer dos ensinamentos básicos da
fé, pelo qual existe um perigo crescente de apartar-se do caminho que leva
à vida eterna.
Mas segue sendo tarefa própria da Igreja conduzir às pessoas a Jesus Cristo,
luz das nações (cf. LG 1). Nesta situação se expõe a questão da orientação.
Segundo João Paulo II, o Catecismo da Igreja
Católica é uma "norma segura para a doutrina da fé" (Fidei Depositum
IV). Foi escrito com o objetivo de fortalecer aos irmãos e irmãs na fé, cuja fé
é amplamente questionada pela "ditadura do relativismo".
1. O Deus Uno e Trino, revelado em
Jesus Cristo
A personificação da fé de todos os
cristãos se encontra na confissão da Santíssima Trindade. Convertemo-nos em
discípulos de Jesus, filhos e amigos de Deus pelo batismo no
nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. A diferença das três pessoas na
unidade divina (254) marca uma diferença fundamental em relação às outras
religiões na crença em Deus e na imagem do homem. Na confissão de Jesus Cristo
os espíritos se dividem. Ele é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, gerado
segundo sua natureza humana pelo Espírito Santo e nascido da Virgem Maria. O Verbo
feito carne, o Filho de Deus, é o único redentor do mundo (679) e o único
mediador entre Deus e os homens (846). Em consequência, a Primeira Carta de São
João descreve como Anticristo àquele que nega sua divindade (1 João 2,22), já
que Jesus Cristo, o Filho de Deus, é desde a eternidade um ser com Deus, seu
Pai (663). A recaída em antigas heresias, que viam em Jesus Cristo só um bom
homem, um irmão e amigo, um profeta e um moralista, deve ser combatida com
clara determinação. Ele é, acima de tudo, o Verbo que estava com Deus e é Deus,
o Filho do Pai, que assumiu nossa natureza humana para nos redimir e que deverá
julgar os vivos e os mortos. Só ao Ele adoramos como o único e verdadeiro Deus
na unidade com o Pai e o Espírito Santo (691).
2. A Igreja
Jesus Cristo fundou a Igreja como
sinal visível e instrumento de salvação, que subsiste na Igreja Católica (816).
Deu uma constituição sacramental à sua Igreja, que surgiu "do lado de
Cristo dormido na Cruz" (766), e que permanece até sua consumação (765).
Cristo Cabeça e os fiéis como membros do Corpo são uma pessoa mística (795),
por isso a Igreja é Santa, porque o único mediador a estabeleceu e mantém sua
estrutura visível (771). Através deles, a obra da redenção de Cristo se faz
presente no tempo e no espaço na celebração dos santos sacramentos,
especialmente no sacrifício eucarístico, a Santa Missa (1330).
A Igreja transmite em Cristo a revelação divina que se estende a todos os
elementos da doutrina, "incluindo a doutrina moral, sem a qual as verdades
da salvação da fé não podem ser salvaguardadas, expostas ou observadas"
(2035).
3. A ordem sacramental
A Igreja, em Jesus Cristo, é o
sacramento universal de salvação (776). Ela não se reflete a si mesmo, senão a
luz de Cristo que brilha em seu rosto. Isto acontece só quando, não a maioria
nem o espírito dos tempos, senão a verdade revelada em Jesus Cristo se converte
no ponto de referência, porque Cristo confiou à Igreja católica a plenitude da
graça e da verdade (819): Ele mesmo está presente nos sacramentos da Igreja.
A Igreja não é uma associação fundada
pelo homem cuja estrutura é votada por seus membros à vontade. É de origem
divina. "O mesmo Cristo é a fonte do ministério na Igreja. Ele o
instituiu, deu-lhe autoridade e missão, orientação e finalidade" (874). A
admoestação do apóstolo segue sendo válida hoje em dia para que quem quer que
pregue outro evangelho seja amaldiçoado, "embora sejamos nós mesmos ou um
anjo do céu" (Gl 1,8). A mediação da fé está indissoluvelmente ligada à
credibilidade humana de seus mensageiros, que em alguns casos abandonaram aos
que lhes foram confiados, perturbaram-nos e danificaram gravemente sua fé. Aqui
a palavra da Escritura vai dirigida àqueles que não escutam a verdade e seguem
seus próprios desejos, que adulam os ouvidos porque não podem suportar o são
ensinamento (cf. 2 Tm 4,3-4).
A tarefa do Magistério da Igreja é
"proteger o povo dos desvios e das falhas e lhe garantir a possibilidade
objetiva de professar sem erro a fé autêntica" (890). Isto é especialmente
certo com relação aos sete sacramentos. A Eucaristia é
"fonte e ápice de toda a vida cristã" (1324). O sacrifício
eucarístico, no qual Cristo nos implica em seu sacrifício da cruz, aponta à
união mais íntima com Cristo (1382). Por isso, as Sagradas Escrituras, em
relação à recepção da Sagrada Comunhão, advertem: "'quem come do pão e
bebe da taça do Senhor indignamente, é réu do Corpo e do Sangue do Senhor' (1
Cor 11,27). Quem tem consciência de estar em pecado grave deve receber o
sacramento da Reconciliação antes de aproximar-se a comungar" (1385). Da
lógica interna do sacramento se desprende que os fiéis divorciados pelo civil,
cujo matrimônio sacramental existe diante de Deus, os outros Cristãos, que não
estão em plena comunhão com a fé católica, assim como todos aqueles que não
estão propriamente dispostos, não recebem a Sagrada Eucaristia de maneira
frutífera (1457) porque não lhes traz a salvação. Assinalar isto corresponde às
obras espirituais de misericórdia.
A confissão dos pecados na confissão
pelo menos uma vez ao ano pertence aos mandamentos da igreja (2042). Quando os
fiéis já não confessam seus pecados nem recebem a absolvição, a redenção cai no
vazio, já que, acima de tudo, Jesus Cristo se fez homem para nos redimir de
nossos pecados. O poder do perdão que o Senhor Ressuscitado conferiu aos apóstolos
e aos seus sucessores no ministério dos bispos e sacerdotes se aplica também
aos pecados graves e veniais que cometemos depois do batismo. A prática atual
da confissão deixa claro que a consciência dos fiéis não está suficientemente
formada. A misericórdia de Deus nos é dada para cumprir seus mandamentos a fim
de nos converter em um com sua santa vontade, não para evitar o chamado ao
arrependimento (1458).
"O sacerdote continua a obra de
redenção na terra" (1589). A ordenação sacerdotal "dá-lhe um poder
sagrado" (1592), que é insubstituível porque, através dele, Jesus Cristo
se faz sacramentalmente presente em sua ação salvífica. Portanto, os sacerdotes
escolhem voluntariamente o celibato como "sinal de vida nova" (1579).
Trata-se da entrega no serviço de Cristo e de seu reino vindouro. Enquanto à
recepção da consagração nas três etapas deste ministério, a Igreja se reconhece
a si mesma "vinculada por esta decisão do Senhor. Esta é a razão pela qual
as mulheres não recebem a ordenação" (1577). Assumir isto como uma
discriminação contra a mulher só mostra a falta de compreensão deste
sacramento, que não se trata de um poder terreno, senão da representação de
Cristo, o Esposo da Igreja.
4. A lei moral
A fé e a vida estão inseparavelmente
unidas, porque a fé sem obras está morta (1815). A lei moral é obra da
sabedoria divina e conduz o homem à bem-aventurança prometida (1950). Em
consequência, "o conhecimento da lei moral divina e natural é necessário
para fazer o bem e alcançar seu fim" (1955). Sua observância é necessária
para a salvação de todos os homens de boa vontade. Porque os que morrem em
pecado mortal sem se haver arrependido serão separados de Deus para sempre
(1033). Isto leva a conseqüências práticas na vida dos cristãos, entre as quais
se deve mencionar as que hoje se obscurecem com freqüência (cf. 2270-2283;
2350-2381). A lei moral não é uma carga, senão parte dessa verdade liberadora
(cf. Jo 8,32) pela qual o cristão percorre o caminho da salvação, que não deve
ser relativizada.
5. A vida eterna
Muitos se perguntam hoje por que a
Igreja, todavia está ali, embora os bispos prefiram desempenhar o papel de
políticos em lugar de proclamar o Evangelho como mestres da fé. A visão não
deve ser diluída por trivialidades, mas o proprium da Igreja deve ser
tematizado. Cada pessoa tem uma alma imortal, que é separada do corpo na morte,
esperando a ressurreição dos mortos (366). A morte faz definitiva a decisão do
homem a favor ou contra Deus. Todo o mundo deve comparecer ante o tribunal
imediatamente depois de sua morte (1021). Ou é necessária uma purificação ou o
homem chega diretamente à bem-aventurança celestial e pode ver deus cara a
cara. Existe também a terrível possibilidade de que um ser humano permaneça em
contradição com Deus até o fim e, ao rejeitar definitivamente o seu amor,
"condenar-se imediatamente para sempre" (1022). "Deus que te
criou sem ti, não te salvará sem ti" (1847). O castigo da eternidade do
inferno é uma realidade terrível, que -segundo o testemunho da Sagrada
Escritura- atrai para si todos aqueles que "morrem em estado de pecado
mortal" (1035). O cristão passa pela porta estreita, porque "larga é
a porta e espaçoso o caminho que leva à perdição, e são muitos os que entram
por ela" (Mt 7,13).
Ocultar estas e outras verdades de fé
e ensinar ao povo em consequência, é o pior engano do qual o Catecismo adverte
enfaticamente. Representa a prova final da Igreja e leva o povo a um engano
religioso de mentiras, ao "preço de sua apostasia da verdade" (675);
é o engano do Anticristo. "Ele enganará os que se perdem por toda classe
de injustiça, porque se fecharam ao amor da verdade, pela qual deviam ser
salvos" (2 Tessalonicenses 2,10).
Invocação
Como operários da vinha do Senhor,
temos todos a responsabilidade de recordar estas verdades fundamentais
aderindo-nos ao que nós mesmos recebemos. Queremos animar o povo a caminhar
pelo caminho de Jesus Cristo com decisão, para alcançar a vida eterna
obedecendo seus mandamentos (2075).
Peçamos ao Senhor que nos faça saber
quão grande é o dom da fé católica, que abre a porta para a vida eterna.
"Porque quem se envergonhar de mim e de minhas palavras nesta geração
adúltera e pecadora, também o Filho do homem se envergonhará dele quando vier
na glória de seu Pai com os santos anjos" (Mc 8, 38). Portanto, estamos
comprometidos a fortalecer a fé, na qual confessamos a verdade, que é o mesmo
Jesus Cristo.
Estas palavras também se dirigem em
particular a nós, Bispos e sacerdotes quando Paulo, o apóstolo de Jesus Cristo,
dá esta admoestação ao seu companheiro de armas e sucessor Timóteo:
"Conjuro-te em presença de Deus e de Cristo Jesus que há de vir julgar os
vivos e mortos, por sua Manifestação e por seu Reino: "Proclama a Palavra,
insiste a tempo e a destempo, repreende, ameaça, exorta com toda paciência e
doutrina. Porque virá um tempo em que os homens não suportarão, a sã doutrina,
mas sim, arrastados por suas próprias paixões, far-se-ão com um acervo de
mestres pelo afã de ouvir novidades; apartarão seus ouvidos da verdade e se
voltarão para as fábulas. Tu, pelo contrário, portas-te em tudo com prudência,
suporta os sofrimentos, realiza a função de evangelizador, desempenha com
perfeição teu ministério." (2 Tm 4,1-5).
Que Maria, a Mãe de Deus, nos implore
a graça de nos aferrar à verdade de Jesus Cristo sim vacilar.
Unido na fé e na oração
Gerhard Cardinal Müller
Prefeito da Congregação para a
Doutrina da Fe, desde 2012/2017
Fonte: ACI Digital
Nenhum comentário:
Postar um comentário