Por Diego López Marina
Dom Mario Moronta (esquerda) e
Nicolás Maduro (direita) / Crédito: Diocese de San Cristobal e Flickr de
Globovisión (CC BY-NC 2.0)
CARACAS, 14 Fev. 19 / 05:00 pm (ACI).- O Bispo de San
Cristóbal (Venezuela), Dom Mario Moronta, se dirigiu ao presidente da
Venezuela, Nicolás Maduro, pedindo-lhe que "abra os olhos" e não
ignore o sofrimento e o clamor do povo.
"Abra os olhos para ver o
sofrimento do povo. Escute o grito das pessoas que não querem apenas liberdade
e democracia, mas também que sejam consideradas em sua dignidade", disse
Dom Moronta em entrevista ao Grupo ACI nesta
semana.
O também primeiro vice-presidente da
Conferência Episcopal da Venezuela (CEV) assegurou que, "há vários anos, o
povo da Venezuela pede uma mudança de orientação sócio-política e também
econômica".
"A Igreja insistiu que é
o povo quem deve ser ouvido. A liderança política, social e econômica deve
estar do lado do povo", expressou o Prelado.
Sobre Juan Guaidó, presidente da
Assembleia Nacional da Venezuela e reconhecido como presidente interino da
Venezuela pelos Estados Unidos, União Europeia e mais de 50 países, o Bispo
qualificou de forma positiva o seu “protagonismo” assumido em favor do povo.
No entanto, recordou que é o próprio
povo venezuelano "quem pode e deve realizar as mudanças" no país,
porque representa o "sujeito social, como ensinam os documentos da
Igreja", e como se vê "em muitas manifestações" como as
realizadas em 23 de janeiro, em todo o país.
Sobre o papel da Igreja em meio ao
conflito, o Bispo venezuelano assegurou que "é para construir pontes"
e está disposta a "fazer tudo o que for necessário para assegurar uma
transição justa e pacífica".
Do mesmo modo, destacou que a Igreja
promove "não apenas ações, mas também uma conscientização da necessidade
de melhorar a situação e a promoção de líderes sociais que apontem o
desenvolvimento integral do país".
Dom Moronta também disse que a Igreja
tem feito "ações concretas em cada diocese, com o interesse de que as
pessoas possam ter uma melhor qualidade de vida"; e destacou
"a comunhão que existe entre as várias Igrejas da América Latina,
especialmente Cúcuta, na Colômbia, com a Igreja na Venezuela".
"Isso dá garantia, porque quando
as pessoas procuram uma instituição de tipo social e optam pela Igreja, vão com
esperança e com a garantia de que, ainda que não recebam nada, serão atendidas
e tratadas com consideração", declarou Dom Moronta.
Finalmente, relatou que, com a ajuda
recebida da Igreja na Colômbia e em outros países, foram criados centros de
atendimento em toda a Diocese de San Cristóbal.
"Há refeitórios, centros de
atendimento, de acompanhamento, para que não sofram abuso das máfias. Aqui, sustentamo-nos
com a solidariedade do próprio povo de Cúcuta, de muitas instâncias eclesiais
que nos permitem receber alimentos das ‘panelas comunitárias’”, acrescentou.
A crise na Venezuela
A Venezuela vive nos últimos anos uma
crise sociopolítica sem precedentes. Um dos últimos episódios foi em 23 de
janeiro, quando Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional, com maioria de
oposição e não reconhecida pelo governo, autoproclamou-se "presidente
interino" do país.
Guaidó afirma que Nicolás Maduro
usurpou o poder no país.
Em 10 de janeiro, Nicolás Maduro
tomou posse em seu segundo mandato, que deverá terminar em 2025. No entanto,
grande parte dos países da região, da Europa e os Estados Unidos não o
reconhecem como presidente, pois afirmam que houve fraude nas eleições de 20 de
maio de 2018.
Em vez disso, esses países
reconheceram Guaidó como presidente interino da Venezuela e os Estados Unidos
lhe ofereceram ajuda humanitária para suprir a falta de alimentos e remédios.
Até o momento, a ajuda está sendo
concentrada nos centros de coleta de Cúcuta (Colômbia) e em breve também em
Roraima (Brasil). Na quarta-feira, o chanceler holandês, Stef Blok, anunciou
que em Curaçao, território autônomo do Reino dos Países Baixos, foi instalado o
terceiro centro de coleta para receber ajuda humanitária.
No entanto, Maduro se recusou a
abandonar a presidência e não reconhece Guaidó ou a legitimidade da Assembleia
Nacional, a qual substituiu pela Assembleia Nacional Constituinte formada
inteiramente por pessoas ligadas ao regime chavista.
Além disso, Maduro se recusa a deixar
entrar a ajuda humanitária, alegando que o país não está em crise e que será o
início de uma intervenção dos Estados Unidos.
Fonte:
ACI Digital
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