Dom
Vicente Ferreira, bispo auxiliar de Belo Horizonte, presente em Brumadinho,
destaca o apoio da Igreja e a solidariedade do povo, afirmando: 'isso não é uma
tragédia, mas um crime'. Até agora, 84 mortos e 276 dispersos.
Cristiane Murray - Cidade do Vaticano
Seis dias depois do rompimento da
barragem da Vale em Brumadinho e enquanto a empresa promete
rápidas compensações econômicas às famílias, a dor dos sobreviventes e o
trabalho das equipes de resgate são cada vez mais intensos.
Mais corpos foram encontrados na
região do Parque das Cachoeiras, e o último balanço da Defesa Civil, divulgado
em 29/01, confirma 84 mortes e 276 desaparecidos.
Mas o que está sendo chamado ‘acidente’, e que hoje é um triste drama, poderia ter sido evitado.
Mas o que está sendo chamado ‘acidente’, e que hoje é um triste drama, poderia ter sido evitado.
Nós
contatamos Dom Vicente Ferreira, bispo auxiliar da Arquidiocese de
Belo Horizonte, presente em Brumadinho nestes dias.
A dor de sepultar e de não encontrar
“Não se trata de uma tragédia; é um crime e tem nome de
responsáveis: a Vale, maior mineradora do planeta e do nosso país, que mais uma
vez nos faz atravessar essa cruz que está significando a morte de centenas de
trabalhadores, trabalhadoras, homens, mulheres, crianças, de nossa gente, que
já sofre tanto com tantas injustiças. Agora, estamos no processo de sepultar, quando
possível, estes nossos irmãos e irmãs”.
Diálogo, orações, visitas às famílias enlutadas
“Como Igreja, nossa Arquidiocese, desde o primeiro momento, pois
aqui está instalado um trabalho, com o nosso povo. Nós estamos marcando
presença em todas as instâncias, inclusive mediando o diálogo com o poder
público, com o estado, com o Brasil, com o nosso município de Brumadinho. A
cidade está em luto e passará ainda por muitas e muitas dificuldades".
“
Graças a Deus, a solidariedade, as doações e o interesse internacional pelo que
está acontecendo nos alivia um pouco o fardo da cruz que nós estamos passando,
mas uma coisa é certa: não vamos descer da cruz, porque o nosso povo está sendo
crucificado!. ”
“Aqui nós operamos com vários trabalhos. Além da mediação com o
diálogo, para que as consequências não sejam impunes. As marcas deste crime são
tão visíveis e já anunciadas. Nós estamos amparando o nosso povo materialmente
e espiritualmente. Visitamos famílias desesperadas e enlutadas na angústia,
celebrações, orações, e nestes dias, um grande número de sepultamentos nos
nossos irmãos falecidos. A luta está grande, mas nós estamos enfrentando com a
força, o apoio de muita gente”.
“
Quero destacar que temos um grande número de leigos e leigas... oh gente boa.
Este pessoal realmente comove a gente, inspira a gente, a participação, a
solidariedade de nossos leigos. ”
“Neste momento estamos vivendo este calvário e amparando o nosso
povo; estamos juntos com o nosso povo aqui em Brumadinho e em outras partes
afetadas”.
Refazer as leis e cobrar responsabilidades
“Para o futuro, claro que temos perspectivas. Em sintonia com o
nosso arcebispo, Dom
Walmor, já estão acionados os poderes competentes para um diálogo
sério sobre novas reflexões e novas decisões sobre a mineração em nosso estado
de Minas Gerais e em nosso país. CNBB e as forças pastorais, além das forças
públicas, poderes, políticos, estão sendo provocados para que mudemos esta
página triste de nossa história, que há séculos vem cavando reservas de lixo,
represas com produtos que estão causando a danificação não só de nossa ecologia
mas também terrivelmente de nossas vidas humanas. Por isso, ( é preciso) mudar
políticas, refazer as leis e cobrar dos responsáveis a responsabilidade! É
claro que nós podemos explorar a nossa natureza, isto faz parte da nossa
sobrevivência, mas não desta forma gananciosa, egoísta, na qual poucos lucram
muito inclusive em detrimento, ou no sacrifício, de tantas vidas humanas”.
“Vamos como Igreja continuar, cobrando, acompanhando e pedindo a
Deus que nos ajude a mudar esta triste página que é esta mineração feita do
jeito que é, com várias reservas, represas que ameaçam outras regiões, muito
mais, infelizmente. Para que mudemos em leis – não pode ser um discurso apenas
– mas isto precisa mudar na página do nosso país e do nosso belíssimo estado de
Minas Gerais, lugar de gente tão bonita e cheia de espiritualidade.
Grandes empresas devem se repensar
“Vamos mudar a nossa mentalidade, assim como nos pede o Papa
Francisco na Laudato si:
é preciso tomar novos caminhos de cuidado com o nosso planeta e com a dignidade
da vida humana. As grandes empresas, como a Vale, precisam repensar e mudar com
urgência a forma como tratam o nosso planeta e o nosso povo”.
Fonte: Vatican News
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