Papa pronuncia sua homilia. Foto: Vatican Media
Vilnius, 23Set. 18 / 09:15 am (ACI).- Em sua homilia durante a Missa celebrada
no Parque Santakos de Kaunas, neste domingo, 23 de setembro, em seu segundo dia
de viagem apostólica a Lituânia, o Papa Francisco advertiu contra o desejo de
poder e glória que ofusca “a dolorosa realidade do nosso povo fiel”.
O Santo Padre assinalou que esse desejo de poder e glória “é o
modo mais comum de se comportar daqueles que não conseguem curar a memória da
sua história e, talvez por isso mesmo, não aceitam sequer comprometer-se no
trabalho do momento presente”.
“E então discute-se sobre quem mais brilhou, quem foi mais puro
no passado, quem possui mais direito do que os outros a ter privilégios. E
assim negamos a nossa história”, alertou.
Essa atitude, advertiu, “é uma atitude estéril e vã, que se
recusa a envolver-se na construção do presente, perdendo o contato com a
dolorosa realidade do nosso povo fiel”.
O Papa se referiu ao passado doloroso do povo lituano com a
ocupação nazista primeiro, a ocupação soviética depois, e todas as suas
consequências: prisões, trabalhos forçados, deslocamentos de população,
torturas, assassinatos...
“A vida cristã sempre atravessa momentos de
cruz e, às vezes, parecem intermináveis. As gerações passadas viram gravar a
fogo o tempo da ocupação, a angústia daqueles que eram deportados, a incerteza
por aqueles que não voltavam, a vergonha da delação, da traição”, reconheceu
Francisco.
Nesse sentido, explicou que a leitura do Livro da Sabedoria
correspondente à liturgia deste domingo “fala-nos do justo perseguido, daquele
que sofre insultos e tormentos pelo simples fato de ser bom”.
O Papa exclamou: “Quantos de vós poderiam contar em primeira
pessoa, ou na história de algum parente, esta mesma passagem que foi lida?”.
Nesse passagem narra-se como é submetido a ultraje um justo “filho de Deus”
para ver se o Senhor o assiste e liberta de seus inimigos. “Vamos condená-lo à
morte vergonhosa, porque, de acordo com suas palavras, virá alguém em seu
socorro”, dizem os inimigos do justo na leitura.
Nesse sentido, Francisco insistiu: “Quantos de vós viram também
vacilar a sua fé, porque Deus não apareceu para vos defender; porque o fato de
permanecer fiéis não foi suficiente para que Ele interviesse na vossa
história”.
“Toda a Lituânia o pode testemunhar sentindo arrepios à simples
nomeação da Sibéria, ou dos guetos de Vilnius e Kaunas, entre outros”,
assinalou recordando apenas alguns dos episódios mais trágicos da história
lituana.
Em sua homilia, o Santo Padre também recorreu à leitura do
Evangelho de São Marcos, na qual Jesus anuncia aos seus discípulos, pela
segunda vez, os padecimentos que ia sofrer. “O Filho do Homem vai ser entregue
nas mãos dos homens, e eles o matarão. Mas, três dias após sua morte, ele
ressuscitará”.
Entretanto, assinala Francisco, “os discípulos não queriam que
Jesus lhes falasse de sofrimento e de cruz; não querem saber nada de provações
e angústias”. Pelo contrário, “o interesse deles ia para outras coisas:
voltavam para casa discutindo sobre qual deles seria o maior”.
“Sabendo Jesus o que pensavam, propõe-lhes um antídoto para
estas lutas de poder e a recusa do sacrifício; e, a fim de dar solenidade ao
que está para dizer, senta-Se como um Mestre, chama-os e faz um gesto: coloca
uma criança no centro; um rapazinho que habitualmente ganhava alguns trocados
prontificando-se para recados que ninguém queria fazer”.
O Papa perguntou aos fiéis presentes no Parque Santakos: “Hoje,
nesta manhã de domingo, quem colocará aqui no meio? Quem serão os menores, os
mais pobres entre nós, que devemos acolher cem anos depois da nossa
independência? Quem não tem nada para nos retribuir, para tornar gratificantes
os nossos esforços e as nossas renúncias?”.
“Talvez sejam as minorias étnicas da nossa cidade, ou os
desempregados que são forçados a emigrar. Talvez sejam os idosos abandonados ou
os jovens que não encontram um sentido na vida, porque perderam as suas
raízes”.
O Papa concluiu: “Eis porque nos encontramos hoje aqui, ansiosos
por receber Jesus: na sua palavra, na Eucaristia,
nos pequeninos”.
“Recebê-Lo para que Ele reconcilie a nossa memória e nos
acompanhe num presente que continue a apaixonar-nos pelos seus desafios, pelos
sinais que nos deixa; para que O sigamos como discípulos, porque nada há de
verdadeiramente humano que não tenha ressonância no coração dos discípulos de
Cristo e, assim, sentimos como nossas as alegrias e as esperanças, as tristezas
e as angústias dos homens do nosso tempo, sobretudo dos pobres e dos
atribulados”, finalizou.
Fonte: ACI Digital
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