Por Walter Sánchez Silva
FILADELFIA, 02 Jun. 18 / 07:00 am (ACI).- Quy K. Pham é um sacerdote de origem vietnamita que acaba de ser ordenado depois de esperar 46 anos para realizar seu sonho de viver a serviço de Deus.
Ele sobreviveu à guerra do Vietnã,
foi preso pelos comunistas em 1979; mas, conseguiu deixar o país em 1984 e
partiu para os Estados Unidos.
Depois de várias tentativas de seguir
a sua vocação – logo se casaria por pensar que Deus já não o chamava –, no
sábado, 19 de maio, Quy K. Pham foi ordenado sacerdote na Catedral da
Filadélfia (Estados Unidos) pelo Arcebispo local, Dom Charles Chaput.
Em entrevista concedida ao
Grupo ACI, o sacerdote disse que
está “muito emocionado por isso, porque foi um longo caminho e demorei 46 anos
para completá-lo. Acho que a maneira como Deus trabalha é misteriosa e como
seres humanos, às vezes, não entendemos, mas Deus tem um plano para cada um e
trabalha assim com a sua providência, para chegar ao destino que planejou para
nós”.
O Pe. Pham ingressou no seminário no
Vietnã aos 13 anos. A sua mãe o levou e estudou entre 1971 e 1975.
As dificuldades próprias da guerra
fizeram com que duvidasse da sua vocação e inclusive chegou a pensar que “Deus
já não me amava e de repente tinha que esquecer isso; mas eu mantive a fé
esperando que um dia Deus se lembrasse de mim”.
Em 1975, os comunistas, contou o
sacerdote, “tomaram o sul do Vietnã e fecharam todos os seminários”. Mais tarde
ele voltou a estudar, mas clandestinamente, até que um dia as autoridades
também fecharam essa opção.
Quy K. Pham se sentiu obrigado a
voltar para a casa dos seus pais. A fim de evitar os perigos, tentou fugir do
país. “Tentei fugir do Vietnã em dezembro de 1979, mas os comunistas me
prenderam. Eles me mandaram à prisão durante 10 meses. Em 1984, tentei sair
novamente e finalmente consegui”, contou.
Nos Estados Unidos, Quy K. Pham
tentou entrar em uma ordem religiosa, mas não foi aceito. “Foi muito difícil
naquela época. Tive que trabalhar durante o dia e estudar à noite e, assim,
tentar sobreviver na nova vida nos Estados
Unidos”.
“Também tentei inhressar na
Arquidiocese de Boston, mas me disseram que eu não podia e fiquei muito
chateado. Eu pensava ‘vim aqui para seguir minha vocação e é assim que a Igreja me trata’.
Chorei muito neste momento e pensei que talvez Deus não me amasse mais”.
Em 1990, entrou na Universidade da
Filadélfia, onde estudou informática. Ao concluir o curso, começou a trabalhar
no Pennsylvania Hospital e chegou a ser chefe de serviços informáticos.
O matrimônio
“Depois eu decidi me casar com uma
mulher ítalo-americana (Donna Marie Lodise) que era uma amiga querida e que me
ajudou nos momentos mais difíceis. Então, a vida parecia estar muito bem e
voltei aos estudos para me formar na universidade e consegui mais dois
mestrados: um em tecnologia e outro em finanças. Eu me tornei um homem com uma
carreira muito bem sucedida. Tinha dinheiro e tive uma vida boa”, recordou.
Na entrevista ao Grupo ACI, Pe. Quy
K. Pham explicou que o seu casamento foi “maravilhoso. Nós dois éramos
católicos devotos e encontramos a felicidade em Deus. Fomos muito felizes
porque vivíamos a nossa fé. Quando colocamos Deus em primeiro lugar, alcançamos
a felicidade. Eu quis me casar porque a minha esposa acreditava no mesmo que
eu, na Igreja e em Deus”.
Entretanto, tudo mudou quando, em
2014, Donna Marie foi diagnosticada com câncer. “Essa foi uma notícia
devastadora. Realmente, foi muito difícil para nós entender por que isso estava
acontecendo”, indicou.
Antes de tudo isso acontecer, “em
2011 havia decidido voltar aos estudos, à noite, no Seminário São Carlos
Borromeu para terminar de estudar Teologia. Fiz isso porque queria, por meu
amor a Deus”.
“Quando a minha esposa morreu,
percebi que Deus já tinha algo para mim, então rezei dias e noites; e vi como
Deus me guiava na vida. Então, decidi tentar entrar em uma ordem religiosa”,
disse ao Grupo ACI.
O caminho para o sacerdócio
Pe. Pham tentou entrar em alguma
ordem religiosa ou em algum seminário diocesano para seguir o seu chamado, mas
novamente teve alguns problemas.
Eles não o aceitaram em Wisconsin,
mas o diretor de vocações sugeriu que ele tentasse na Filadélfia, onde o limite
de idade para entrar no seminário era de 40 anos.
Na Filadélfia, disseram que, como a
sua esposa havia falecido apenas há alguns meses, era melhor esperar mais um
ano e ele esperou pacientemente.
Quy K. Pham só precisava estudar dois
cursos para terminar o Mestrado em Teologia que havia começado há alguns anos.
Na Filadélfia, “passei pela formação que necessitava, no ano passado fui
ordenado diácono e no sábado fui ordenado sacerdote. Essa é a história da minha
vida”.
Sua missão
Depois de tudo o que aconteceu, Pe.
Pham comentou que se sente capaz de realizar a sua missão de sacerdote em
qualquer lugar. “Toda a minha experiência de vida, toda a formação, os estudos,
as experiências, quero colocá-las a serviço do povo de Deus, a fim de que
possam viver a sua fé e para que saibam que Deus os ama. Isso é o que eu quero
fazer todos os dias da minha vida”.
“Com tudo o que ei vivi, terei mais
material e mais experiência para a minha pregação. Eu sei que as pessoas vão
gostar disso”, compartilhou.
Quando perguntado sobre o que diria
às pessoas que estão pensando ou já pensam na vida religiosa u sacerdotal, Pe.
Pham afirmou: “Gostaria de dizer-lhes que devem viver a fé, confiar na
providência de Deus, buscar fazer a sua vontade e sempre ser consciente de que
Deus os ama e que ser sacerdote para servir a Deus e ao seu povo é uma maneira
nobre de mostrar o seu amor pelo Senhor”.
“A razão pela qual eu compartilho a
minha vida é porque espero que as pessoas se aproximem de Deus, da Igreja,
mesmo que seja apenas por uma pessoa. Eu não busco nada para mim, eu vivo uma
vida simples”, concluiu.
A homilia do Arcebispo na sua
ordenação
Durante a Missa de ordenação, na qual
cinco diáconos também foram ordenados, Dom Charles Chaput disse: “Ao ingressar
no sacerdócio de Jesus, recordo-lhes uma virtude ao assumir esta dignidade e
vocação como sacerdote, e peço-lhes que a considerem, porque serão verdadeiros
ícones do bom pastor: a virtude da docilidade. O que significa ser dócil? A
docilidade é uma forma especial de humildade de um coração generoso pronto e ansioso
por aprender de Deus”.
Na Eucaristia,
na qual estiveram presentes todos os membros da família do Pe. Pham que estão
nos Estados Unidos e da família da sua falecida esposa, Dom Chaput destacou que
“os sacerdotes devem ser como uma luva de cirurgião. A luva é tão transparente
e maleável que não aparece. Podem tomar forma, dobrar-se”.
“Nós, nossa humanidade, ao nos
entregarmos ao sacerdócio, somos chamados a ser dóceis desta maneira. Jesus é o
único mediador. A nossa união com Ele é a nossa vocação”, destacou.
Fonte: ACI Digital
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