Papa
Francisco e Donald Trump / Fotos: Alan Holdren (ACI Prensa) - Gage Skidmore (Wikipédia CC-BY-SA-3.0)
Vaticano, (ACI).- Em uma entrevista
realizada no dia 7 de novembro pelo fundador do jornal italiano ‘La
Repubblica’, Eugenio Scalfari, o Papa Francisco assinalou que não faz “julgamentos
sobre pessoas e políticos”, em referência ao então candidato e atualmente
presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump.
O conteúdo da entrevista foi
publicado hoje. Antes de apresentar as respostas de Francisco, Scalfari faz um
longo levantamento político sobre o resultado dos comícios de 8 de novembro no
país norte-americano; e assinala que o encontro da segunda-feira foi o primeiro
depois de mais de um ano, embora nesse período recebesse frequentes ligações
telefônicas do Papa.
Scalfari, que não costuma gravar as
suas entrevistas ou anotá-las, perguntou ao Santo Padre: “O que pensa sobre
Donald Trump?”.
“Eu não faço julgamentos sobre
pessoas ou figuras políticas. Só quero entender quais são os sofrimentos que
eles causam aos pobres e excluídos por seu modo de agir”, assinalou o Santo
Padre.
Segundo Scalfari, o Papa indicou que
a sua principal preocupação são os refugiados e os imigrantes. “As causas da
imigração são muitas e é necessário fazer tudo o que for possível para
solucioná-la”. Francisco fez referência ao círculo vicioso no qual se encontram
os refugiados e imigrantes e que muitas vezes os impede de sair de sua situação
de exclusão social.
“É um círculo vicioso que deve ser
interrompido. Temos que derrubar os muros que nos dividem: tentar aumentar o
bem-estar das pessoas e, para isso, é necessário construir pontes que permitam
a diminuição das desigualdades e acrescentam a liberdade e os direitos. Mais
direitos e mais liberdade”, indicou.
Em um momento da conversa, o
jornalista perguntou o que opinava sobre o fato de que em muitas ocasiões o
acusem de comunista ou marxista. O Pontífice recordou: “A minha resposta sempre
foi que, em todo caso, são os comunistas os que pensam como os cristãos”.
“Cristo falou de uma sociedade onde
os pobres, os frágeis e os excluídos sejam os que decidam. O povo, os pobres,
que têm fé no Deus transcendente ou não, mas são eles a quem temos que ajudar a
obter a igualdade e a liberdade”, disse.
O Bispo de Roma também se referiu aos
cristãos mártires que morrem pela sua fé em todo o planeta, como na Síria ou no
Iraque. “Nós, cristãos, sempre fomos mártires – indicou –, e nossa fé, ao longo
dos séculos, conquistou grande parte do mundo. É verdade que houve guerras
apoiadas pela Igreja contra
outras religiões e sofremos guerras inclusive dentro da nossa religião”.
Mas estas guerras, assinalou, chegam
quando “as várias religiões e a nossa, como às vezes mais as outras, antepunham
o poder temporal à fé e à misericórdia”.
Nesse sentido, para o Papa Francisco
o sangue derramado dos mártires está unindo os cristãos hoje: “Os católicos são
1,5 bilhão, os protestantes das diferentes confissões são 800 milhões, os
ortodoxos são 300 mil, em seguida temos outras confissões cristãs, como
anglicanos, coptos… No total, os cristãos são 2,5 bilhões, talvez até mais.
Estamos pegando em armas para ir à guerra? Não. Estamos tendo mártires? Sim, e
muitos”.
O Papa recordou que “difundimos a fé
seguindo o exemplo de Jesus Cristo. Ele foi o mártir dos mártires e entregou à
humanidade a semente da fé”.
As “entrevistas” de Scalfari ao Papa
Esta não é a primeira vez que
Scalfari publica suas conversas com o Pontífice.
No dia 1º de outubro de 2013 o jornal
de esquerda publicou uma “entrevista” com o Santo Padre atribuindo declarações
controversas sobre o bem e o mal. Em 22 de novembro, em meio à controvérsia,
Scalfari reconheceu ante a imprensa estrangeira que algumas destas palavras
“não foram ditas” pelo Pontífice e que todas as suas entrevistas foram feitas
sem um aparelho de gravação, nem anotava enquanto a pessoa falava.
“Tento entender a pessoa que estou
entrevistando e depois disso escrevo as suas respostas com as minhas próprias
palavras”, explicou.
Por sua parte, o então porta-voz
vaticano, Pe. Federico Lombardi, indicou que o texto não podia ser considerado
como parte do Magistério de Francisco.
Em 13 de julho de 2014, Scalfari
publicou novamente um artigo baseado supostamente em uma entrevista com o Papa,
afirmando que Francisco estava decidido a encontrar “soluções” para o problema
do celibato sacerdotal e que “2% dos pedófilos são sacerdotes e inclusive bispos e cardeais”.
No dia seguinte, o Pe. Lombardi
desmentiu rotundamente que tenha sido realizada uma nova “entrevista”, pois
Scalfari atribuiu ao Papa palavras, entre aspas, “fruto de sua memória de
perito jornalista, mas não de uma transcrição precisa de uma gravação”. “Não se
pode e não se deve, portanto, falar de jeito nenhum de uma entrevista”,
esclareceu.
No dia 1º de novembro de 2015, o
jornal italiano publicou outro artigo baseado em uma conversa telefônica entre
Scalfari e o Papa, na qual o jornalista assegurava que o Pontífice admitiria a
comunhão para os divorciados em nova união. O Pe. Lombardi declarou que esta
afirmação feita por Scalfari “não é confiável de jeito nenhum” e “não se pode
considerar como algo que o Papa pensa”.
Em declarações ao ‘National Catholic
Register’, o então porta-voz vaticano advertiu que “como já ocorreu
anteriormente, Scalfari cita o que o Papa supostamente lhe disse, e que muitas
vezes não corresponde à realidade, pois ele não grava nem transcreve as
palavras exatas do Papa, como ele já disse várias vezes”.
Fonte: ACI Digital
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