Foto: CTV
VATICANO, 10 Out. 16 / 05:00 pm (ACI).- Ernest Simoni é um
sacerdote idoso que sobreviveu à pena de morte imposta pelo regime comunista da
Albânia em 1963, salvou-se da morte e seu testemunho fez o Papa Francisco
chorar durante a visita a este país em setembro 2014. Ontem, da Praça de São
Pedro, o Pontífice anunciou que o Pe. Simoni será criado Cardeal no consistório
de novembro.
O Santo Padre fez este anúncio no
final da Missa do
Jubileu Mariano, quando indicou que no dia 19 de novembro, durante a vigília de
encerramento da Porta Santa da Misericórdia, criará 13 novos cardeais com direito
a voto. Entretanto, também criará outros quatro cardeais que, devido à sua
idade, não terão este direito, mas quer homenageá-los com este reconhecimento,
pelo seu testemunho e trabalho apostólico nos anos anteriores.
“Eles representam muitos Bispos e sacerdotes
que em toda a Igreja edificam
o povo de Deus, anunciando o amor misericordioso de Deus no cuidado diário do
rebanho do Senhor e na confissão de fé”, afirmou Francisco.
Entre eles, está o Pe. Simoni,
sacerdote que sofreu a perseguição religiosa do ditador comunista Enver Hoxha,
que proclamou a Albânia “o primeiro estado ateu do mundo”.
O sacerdote nasceu em Troshani em
1928 e foi ordenado sacerdote em 1956, doze anos depois que os comunistas
tomaram o poder na Albânia.
O Código de Direito Canônico
estabelece no artigo 351: “Os Cardeais a promover são escolhidos livremente
pelo Romano Pontífice, pertencentes pelo menos à ordem do presbiterado, e que
se distingam notavelmente pela doutrina, costumes, piedade e prudente resolução
dos problemas; os que ainda não forem Bispos, devem receber a consagração
episcopal”. Ou seja, qualquer sacerdote pode ser feito cardeal.
O martírio do Pe. Simoni
Conforme relatou o Pe. Simoni em
setembro de 2014 – durante a visita do Papa Francisco –, em dezembro de 1944 o
regime comunista ateu buscou eliminar a fé e o clero com “prisões, torturas e
assassinatos de sacerdotes e leigos durante sete anos seguidos, derramando o
sangue dos fiéis, alguns dos quais antes de ser fuzilados gritavam: ‘Viva Cristo Rei!’”.
Ao ver que não conseguiam alcançar o
seu objetivo, em 1952, as autoridades comunistas reuniram os sacerdotes que
sobreviveram ao regime e ofereceram a liberdade em troca de distanciar-se do
Papa e do Vaticano, proposta que estes jamais aceitaram.
Assim, o Pe. Simoni relatou que antes
de ser ordenado sacerdote estudou com os franciscanos de 1938 a 1948, mas,
quando seus superiores foram fuzilados pelos comunistas, seguiu seus estudos
clandestinamente. “Dois anos terríveis se passaram e no dia 7 de abril de 1956
fui ordenado sacerdote, um dia depois da Páscoa, e na Festa da Divina
Misericórdia celebrei minha Primeira Missa”, indicou.
Em 24 de dezembro de 1963, ao
concluir a Missa de Vésperas de Natal,
quatro oficiais apresentaram o decreto de prisão e fuzilamento e o padre foi
algemado e detido. No interrogatório, disseram-lhe que seria enforcado como um
inimigo porque disse ao povo “que morreremos todos por Cristo se for
necessário”.
As torturas o deixaram em um estado
muito ruim. “O Senhor quis que continuasse vivendo”. Entre os cargos que lhe
imputaram figurava celebrar uma Missa pela alma do Presidente John F. Kennedy,
assassinado um mês antes de sua prisão, e por ter celebrado Missa, por
indicação do Papa Paulo VI, por todos os sacerdotes do mundo.
“A Divina Providência quis que minha
condenação à morte não fosse realizada imediatamente. Na sala, trouxeram outro
prisioneiro, um querido amigo meu, com o propósito de me espiar, e começou a
falar mal do partido”, relatou o sacerdote ao Papa Francisco.
“De todos os modos, eu respondia que
Cristo tinha nos ensinado a amar os inimigos e a perdoá-los e que nós devíamos
nos empenhar no bem do povo. Essas minhas palavras chegaram aos ouvidos do
ditador que após alguns dias livrou-me da pena de morte”, explicou o Pe.
Simoni.
Os comunistas trocaram sua sentença
de morte por uma pena de 28 anos de trabalhos forçados. “Trabalhei nos canais
de esgotos e durante o período da prisão celebrei a Missa, confessei e
distribuiu a comunhão escondido”, relatou.
O sacerdote foi liberado quando caiu
o regime comunista e começou a liberdade religiosa. “O Senhor me ajudou a
servir tantos povos e a reconciliar muitas pessoas, afastando o ódio e o diabo
dos corações dos homens”, assegurou antes de concluir seu testemunho diante do
Papa Francisco.
“Santidade, seguro de poder expressar
a intenção dos presentes, eu peço que pela intercessão da Santíssima Mãe de
Cristo, o Senhor lhe dê vida,
saúde e força na condução do grande rebanho que é a Igreja de Cristo, Amém”,
concluiu o sacerdote antes de dar ao Papa um abraço que levou às lágrimas o
Pontífice e os presentes.
ACI
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