sexta-feira, 9 de outubro de 2015

DOM ALOÍSIO LORSCHEIDER FARIA 91 ANOS

Padre Geovane Saraiva*

“Para aprofundar e anunciar os mistérios da nossa fé é preciso entrar no silêncio de Deus”, dizia Dom Aloísio Cardeal Lorscheider (08/10/1924), que pela graça de Deus, se fez discípulo de São Francisco de Assis em toda sua plenitude, ao asseverar sobre o "Poverello d'Assisi": “Um homem livre, amarrado a ninguém, levando-o a redescobrir a pureza original das criaturas. Indubitavelmente, o Cântico das Criaturas expressa esta liberdade interior e exterior conseguida pelo Santo de Assis. Só uma vida inteiramente aberta a Deus e ao Irmão é capaz de dar à criatura humana o gozo da libertação, que conduz à liberdade pura e santa com que Deus nos criou”.
Que a mística franciscana tão presente na vida de Dom Aloísio, ao mergulhar no Mistério da Encarnação, dom de Deus para o Ceará (Arquidiocese de Fortaleza), pelo anúncio revelador de uma Igreja com rosto verdadeiramente pascal, na mais profunda liberdade e perfeita alegria, nos proporcione gestos concretos, no sentido de desmanchar a montanha do orgulho e do egoísmo, amparados pela simbologia do manto da paz, da justiça, da ternura e da solidariedade.
Um Deus que amou tanto o mundo, a nos presentear com seu Filho único no mistério do Natal (cf. Jo 3,16), deu-nos por 22 anos um amigo, um pastor, um teólogo e um Cardeal, que sabia compreender a realidade na sua conjuntura e, com suas posições bem claras e definidas, nas análises e nas conclusões teológicas pastorais, ao passar às pessoas de boa vontade, um clima que favorecia e gerava uma confiança generalizada. Dom Aloísio nos faz pensar que o consumismo, o egoísmo e o individualismo não podem ofuscar o florescimento da alegria e da esperança dos irmãos e irmãs, ávidos a sempre mais redescobrir, numa bela e maravilhosa aventura, que Deus é amor.
Foi exatamente a virtude da simplicidade e da humildade que o transformou no Cardeal que mais se destacou em todos os Conclaves e Sínodos, dos quais participou, gerando para o mundo inteiro e, especialmente para a imprensa, uma grande expectativa. Sua palavra corajosa e profética era acolhida por todos como uma boa notícia, como uma dádiva que descia do céu! Eis que disse o Senador Pedro Simon a respeito de Dom Aloísio: “sua voz, naturalmente doce, alternava-se quando era preciso confrontar os vendilhões da justiça, quando todos os jardins da democracia corriam o risco de ser alvo de bombas atiradas pelos olhares fixos da repressão. Sua voz ecoou pelos corredores das prisões”.
Em Francisco de Assis Dom Aloísio Lorscheider descobriu a verdadeira face de Deus, indispensável no traçado de seus passos, a partir dessa realidade misteriosa, quando o afirma numa tônica poética, com profunda sabedoria: “Sempre fiquei muito impressionado e atraído pelo amor quente e apaixonado que São Francisco dedica a Deus. Parece que no beijo do leproso ele entendeu, como Saulo no caminho de Damasco, a doação total de Deus a nós em seu Filho Jesus Cristo. Custou a Francisco não só descer do cavalo fogoso que no momento montava, mas muito mais do cavalo do orgulho e da vaidade com que ele queria conquistar o título de grande e nobre”.
A espiritualidade franciscana foi imprescindível em todo seu trabalho e na sua caridade pastoral para com os empobrecidos, chegando a se pronunciar, num artigo publicado em 1982, na Revista Grande Sinal: “À medida que passam os anos, São Francisco merece maior atenção. Em nossos dias, sobretudo, com a redescoberta do lugar social do pobre na Igreja e no mundo, o interesse pelos ideais de São Francisco faz-se mais vivo”.
No mesmo desejo do Cardeal Lorscheider, que foi  o de redescobrir o lugar social dos empobrecidos da Igreja e no mundo, recordo o que disse o Papa Francisco, naquela manhã de segunda-feira (08/07/2013), na sua primeira visita em território italiano, que o levou a Lampedusa: uma ilha que faz fronteira entre a África e a Itália, assim se expressou: "Somos uma sociedade que não sabe mais chorar; Senhor, dai-nos a graça de chorarmos pela nossa indiferença, pela crueldade que existe no mundo e em nós".

*Escritor, blogueiro, colunista, vice-presidente da Previdência Sacerdotal e Pároco de Santo Afonso, Parquelândia, Fortaleza-CE –geovanesaraiva@gmail.com


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