“Concede-me, Senhor meu Deus, uma inteligência que Te conheça, uma angústia que Te procure, uma sabedoria que Te encontre, uma vida que Te agrade, uma perseverança e uma confiança que enfim Te possua” (Dom Helder Câmara). O pensamento do pastor dos empobrecidos faz-nos recordar a singular figura de João Batista, que recebeu o enorme encargo e missão de testemunhar o Salvador da humanidade, como luz redentora, preparando assim um povo bem disposto a acolhê-Lo. Revelou-nos assim que para vivermos bem e realizados, é indispensável seguir Jesus de Nazaré, exigência esta que tem origem no seu projeto de amor para conosco e encerra-se na obediência ao projeto do Pai em favor da humanidade, a exemplo do Papa Francisco, ao condenar qualquer forma de tortura e aqui recordo a assertiva do Apóstolo Paulo: “Vós participastes, com efeito, do sofrimento dos prisioneiros e aceitastes com alegria a espoliação dos vossos bens, certos de possuir uma fortuna melhor e durável. Não percais, pois, a vossa segurança, que tamanha esperança merece” (cf. Hb 10, 34-35).
Um dos momentos mais emocionantes da viagem do Papa Francisco à Albânia aconteceu na oração das vésperas na catedral de São Paulo, com os sacerdotes, religiosos, seminaristas e movimentos leigos. O Papa comoveu-se ao escutar o testemunho de um sacerdote e de uma religiosa que sobreviveram à perseguição comunista. Padre Ernest narrou os 18 anos em que foi prisioneiro do regime comunista ateu, as torturas, os 10 anos de trabalhos forçados. Irmã Maria disse: “Não sei como conseguimos suportar tanto, mas Deus nos deu forças, paciência e esperança”. Diante dos testemunhos, o Papa Francisco deixou de lado o discurso que tivera preparado e falou com o coração: “Nestes dois meses me preparei para esta visita lendo a história da Igreja na Albânia e para mim foi uma surpresa, eu não sabia que este povo tinha sofrido tanto. Depois, hoje no caminho do aeroporto com todas as fotografias dos mártires, pensei: apesar de tanto sofrimento, este povo mantém viva a memória dos mártires”, em 21/09/2014.
O Sumo Pontífice disse que pensava em Pedro acorrentado. “Toda a Igreja rezava por ele. e o Senhor consolou Pedro e os mártires e a estes dois que hoje ouvimos. O povo de Deus, as santas anciãs e as monjas de clausura que rezavam por eles. Este é o mistério da Igreja: Deus consola seu povo de maneira escondida, na intimidade do coração da fortaleza”. Simão, o pescador de peixes que se tornou pescador de homens, seguidor e discípulo do Mestre, tem muito a nos ensinar, a partir de sua experiência com Jesus: “Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não jamais poderão vencê-la” (cf. Mt 16,18). Segundo a Tradição Cristã, Pedro foi preso nos primeiros meses de 67, como cúmplice do incêndio da cidade de Roma. Assim, foi condenado à morte de cruz, sob a ordem do Imperador Nero. Mas no momento da execução, Pedro pediu para ser crucificado de cabeça para baixo, porque não se sentia digno de morrer na cruz, como morreu seu Mestre e Senhor, Nosso Senhor Jesus Cristo.
No pronunciamento do Papa Francisco, no dia 20/09/2014 aos novos bispos reunidos em Roma: “Estejam próximos aos seus sacerdotes, zelem pela vida religiosa, amem os pobres”. E disse com veemência que a Igreja precisa de Pastores, ou seja, de servidores; de bispos que saibam ajoelhar-se diante dos outros e lavar seus pés; de pastores que estejam ao lado das pessoas; que sejam pais e irmãos, mansos, pacientes e misericordiosos; que amem a pobreza; que vigiem incessantemente o rebanho, mantendo-o estreitamente unido a Deus, através do estudo do Evangelho, da Santa Eucaristia e do exemplo cotidiano, como luz a iluminar os passos da humanidade, como tão bem nos assegura o Livro Sagrado: “Que as palavras da Escritura estejam sempre em teus lábios, para que, meditando-as dia e noite, te esforces para realizar tudo aquilo que ensinam, e terá sentido e valor a tua vida (cf. Js 1,8), numa demonstração de que nosso agir está na direção do projeto do Pai, quando buscamos a justiça do Seu reino. É claro que o Romano Pontífice fala à humanidade do mundo inteiro, sensibilizando-a com uma didática e pedagogia inigualável, no sentido de se criar um clima que favoreça uma maior intimidade com Deus, e ao mesmo tempo, incendiando os corações dos cristãos, com o ardor missionário, reacendendo o fogo do amor de Deus, no alegre sonho da feliz esperança e da glória futura. Bendito seja Deus por suas santas criaturas!
*Padre da Arquidiocese de Fortaleza, escritor, colunista, blogueiro, membro da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza, da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE) e Vice-Presidente da Previdência Sacerdotal – Pároco de Santo Afonso – geovanesaraiva@gmail.com
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