sábado, 3 de setembro de 2011

ESPANHA: DIFÍCIL ACESSO À PLANIFICAÇÃO FAMILIAR NATURAL

Ideologias e interesses econômicos entre as principais causas

Madri (ZENIT.org) – Os ambulatórios, centros médicos e hospitais espanhóis, inclusive alguns católicos, costumam oferecer diretamente anticoncepcionais e esterilizações aos casais que buscam ajuda médica para evitar uma gravidez; em geral, não contam com sistemas de ajuda à fertilidade e poucos encaminham os casos a centros que oferecem serviços de planificação familiar natural.
A Segurança Social não financia o ensino dos métodos naturais de regulação da natalidade (ainda que ensinem sobre a pílula anticoncepcional e o aborto); as pessoas interessadas em conhecê-los normalmente têm de buscar associações privadas, como a Asociación Española de Profesores de Planificación Familiar Natural (RENAFER), a Organização Mundial do Método de Ovulação Billings (WOOMB), os Centros de Orientação Familiar (COF) ou outras entidades da Igreja Católica.
“Infelizmente, os métodos naturais são pouco conhecidos”, explica a ZENIT Juncal Martínez Irazusta, médica de família do serviço madrileno de saúde e monitora de métodos naturais de regulação da fertilidade há 11 anos.
“Com a minha experiência, posso garantir que, com os métodos naturais, até os casais que procuram engravidar o conseguem com mais facilidade que com técnicas de reprodução assistida”, afirma.
O vice-decano da Faculdade de Medicina da Universidade de Navarra, responsável pelo site quiero1embarazo.com, Jokin de Irala, considera “surpreendente” que estes métodos não sejam ensinados em mais lugares.
Causas e soluções
Com relação às possíveis causas por que estes métodos estejam tão pouco estendidos, Irala aponta “um possível desvio ideológico, o interesse econômico da indústria farmacêutica e médica e o fato de que é mais fácil vender um comprimido que educar os casais para que administrem autonomamente sua fertilidade”.
“A Organização Mundial da Saúde afirmou, repetidas vezes, que estes métodos funcionam e são fáceis de aprender – acrescenta. Não estou fazendo afirmações partindo da religião.”
O ensino dos métodos naturais requer a formação prévia dos especialistas que os ensinam, um interesse dos casais que querem aplicá-los, dedicar tempo e fazer um acompanhamento.
Para isso, o sistema de saúde se adapta, afirma Irala: “Em alguns países, resolveram isso fazendo um pacote: ensina-se o método por um preço fechado que inclui seis sessões e três meses de acompanhamento”.
O sistema nacional britânico de segurança social financia o método sintotérmico e Irala acredita que na Espanha, “se o financiassem, talvez os centros de saúde teriam mais facilidades para ensiná-lo e os hospitais poderiam trabalhar em coordenação ou em parceria com centros especializados nisso”.
Identidade católica
Para o presidente da Federação Internacional de Associações de Médicos Católicos, José María Simón Castellví, é de especial importância que os hospitais de titularidade ou ideário católico contem com um sistema de ajuda à fertilidade e de atenção à família.
Na encíclica Evangelium Vitae, de 1995, João Paulo II destacou a necessidade de revisar a função dos hospitais, das clínicas e das casas de saúde, cuja identidade deve ser “clara e eficientemente nas instituições dependentes de religiosos ou, de alguma maneira, ligadas à Igreja”.
“Estas estruturas e lugares de serviço à vida, e todas as demais iniciativas de apoio e solidariedade, que as diversas situações poderão sugerir em cada ocasião, precisam de ser animados por pessoas generosamente disponíveis e profundamente conscientesde quão decisivo seja o Evangelho da vidapara o bem do indivíduo humano e da sociedade”, diz o texto.
E acrescenta que “peculiar é a responsabilidade confiada aos profissionais da saúde – médicos, farmacêuticos, enfermeiros, capelães, religiosos e religiosas, administradores e voluntários: a sua profissão pede-lhes que sejam guardiães e servidores da vida humana”.
Destaca, finalmente, que devem ser “promovidos os centros com os métodos naturais de regulação da fertilidade, como válida ajuda à paternidade e maternidade responsável”.

(Patricia Navas)

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