sexta-feira, 26 de setembro de 2008

DOM GERALDO LYRIO: "PROJETO NACIONAL DE EVANGELIZAÇÃO É UM ELO COM IGREJA DA AMÉRICA LATINA"

Presidente da CNBB, dom Geraldo Lyrio Rocha, preside missa de encerramento do Conselho Permanente da CNBB, na manhã desta sexta-feira, na sede da CNBB, em Brasília
Em missa presidida no encerramento da Reunião do Conselho Permanente da CNBB nesta sexta-feira, 26, dom Geraldo Lyrio, presidente da Conferência, afirma em sua homilia que Deus é o principal agente dos acontecimentos da vida. “Deus respeita nossa liberdade, o curso normal dos acontecimentos e as leis da natureza, ele não deixa de ser o agente principal dos acontecimentos de nossa vida”, disse. Dom Geraldo acrescentou, também, que o novo Projeto Nacional de Evangelização é o sinal de comunhão da Igreja do Brasil, com a Igreja da América Latina.

Homilia do presidente da CNBB, dom Geraldo Lyrio Rocha, na Celebração Eucarística de encerramento da reunião do Conselho Permanente da CNBB
Cada coisa tem seu momento, conforme nos diz o livro do Eclesiastes, no trecho que ouvimos há pouco. Cabe-nos descobrir a misteriosa ação de Deus que se esconde e se revela nos acontecimentos de nossa vida. Entretanto, o desígnio de Deus permanece misterioso e impenetrável. Ao mesmo tempo em que Deus respeita nossa liberdade, o curso normal dos acontecimentos e as leis da natureza, ele não deixa de ser o agente principal dos acontecimentos de nossa vida. Quem somos nós para penetrar nesses segredos? O certo é que, conforme nos diz o Livro da Sabedoria, “Deus não fez a morte, nem tem prazer com a destruição dos vivos. Ele criou todas as coisas para existirem, e as criaturas do mundo são saudáveis: nelas não há nenhum veneno de morte, nem é a morte que reina sobre a terra: pois a justiça é mortal” (Sb 1, 13-15) diz-nos o Livro da Sabedoria.
Ancorados nessa certeza, vemos que os acontecimentos se sucedem. O tempo passa. Luzes e sombras se alternam. Vida e morte acompanham nossa existência. É o mistério pascal: “Páscoa de Cristo na vida da gente.
Páscoa da gente na vida de Cristo”. A Eucaristia faz-nos participar no insondável mistério de Deus que se inseriu em nossa história. A Ceia do Senhor que celebramos, bem como as demais ações litúrgicas, tem caráter de memorial: Cada ação litúrgica “atualiza os fatos passados que, em Cristo e por Cristo, são sacramentos de salvação. Além disso, a ação litúrgica tem a força de tornar presentes as realidades futuras, levando os que a celebram a se inserirem no projeto de Deus” (CNBB, Doc. 43, nº65).
A meditação do Qohelet sobre o tempo e seus momentos é um trecho bíblico bastante conhecido. Refere-se aos atos que procedem segundo uma ordem estabelecida por Deus e apresenta os contrastes da situação em que vivemos. O ser humano não pode conhecer os fins e objetivos da ação de Deus no mundo. Portanto, de acordo com o autor do livro do Eclesiastes, o ser humano deveria resignar-se a gozar de tudo o que lhe vem como dom de Deus. Aqui se pressupõe o domínio de Deus sobre o tempo, pois, todas as coisas estão em suas mãos.
Ontem como hoje, Jesus faz a mesma pergunta: “E vós quem dizeis que eu sou?” (Lc9, 20). Para manifestar-se mais plenamente aos seus discípulos e prepará-los para os acontecimentos que o aguardam em Jerusalém, Jesus exige deles uma declaração sobre sua identidade. Na fé, Pedro dá a resposta: “tu és o Cristo de Deus”, isto é, o Messias, o Ungido de Deus (Lc 9, 20). Entretanto, Pedro ainda não compreende que Jesus é o “Messias sofredor”. Por isso, Jesus logo acrescentou: “O Filho do homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da lei, deve ser morto e ressuscitar ao terceiro dia” (Lc 9, 23). O silêncio severamente imposto por Jesus, que não dissessem a ninguém que ele era o Messias, tinha por objetivo evitar que as multidões, seguindo seus falsos conceitos políticos ou nacionalistas, o aclamassem rei.
O texto do Evangelho que nos foi proclamado ilumina de forma extraordinária os encaminhamentos que demos nesta reunião do Conselho Permanente da CNBB sobre o novo Projeto Nacional de Evangelização: O Brasil na Missão Continental. O silêncio então imposto por Jesus transforma-se depois na ordem que dirige aos Apóstolos e a todos nós: “Ide por todo o mundo e proclamai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16, 15).O novo Projeto Nacional de Evangelização “nos coloca em sintonia e em comunhão com todas as Igrejas particulares da América Latina e Caribe, empenhadas na Missão Continental proposta pela Conferência de Aparecida”.
Na força do Pai que nos ama; em Jesus, o missionário por excelência; e no fogo abrasador de Pentecostes, hoje sentimos o mesmo impulso desta presença do Espírito Santo que nos move a nos colocarmos em estado permanente de missão. Esta é a hora! Todos somos convocados: dioceses, paróquias, institutos de vida consagrada e comunidades. Não deixemos a graça passar em vão. É hora de nos unirmos no grande mutirão evangelizador para que a América Latina seja, de fato, o “Continente da esperança, da fé e do amor” (Cf. Apresentação do Projeto Nacional de Evangelização).
Na alegria de sermos missionários, e na força do Espírito Santo, que sempre nos precede, a Missão Continental nos levará a anunciar, com renovado ardor, o nome, a pessoa e a mensagem de Cristo Jesus. A pergunta que o Senhor nos faz: “E vós quem dizeis que eu sou?” (Lc 9, 20) deve ser respondido com os lábios, o coração e a vida, fruto de nosso encontro pessoal com Ele. O anúncio de Jesus Cristo só é autêntico quando leva à experiência do encontro com ele, que transforma e santifica quem nele crê e, na força do seu Espírito, comunica a santidade de vida e impulsiona ao compromisso com o Reino.Brasília, 26 de setembro de 2008
CNBB

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