A Grota dos Angicos ficou repleta de pessoas que queriam relembrar o momento em que Lampião foi assassinado ao lado de Maria Bonita e mais 9 cangaceiros (Foto: Antônio Vicelmo)
A filha e a neta de Lampião estiveram no local onde ele e Maria Bonita morreram, a Grota de Angicos, em SergipePoço Redondo (SE). Com uma missa celebrada na Grota de Angicos, local onde foram assassinados Lampião, Maria Bonita e mais nove cangaceiros, foi encerrada a programação comemorativa aos 70 anos de morte de Virgulino Ferreira da Silva, na segunda-feira. A missa contou com a presença de Expedita e Vera Ferreira, filha e neta do Rei do Cangaço, respectivamente. “Só Deus e a história têm condições de julgar Lampião e seus companheiros”, disse o padre Cícero, vigário de Poço Redondo, justificando que “os cangaceiros foram frutos de uma época, assim como Santa Joana D´arc foi obrigada a lutar para defender a França”.Expedita nasceu em Porto da Folha, no Interior de Sergipe, e viveu só 21 dias com os pais, sendo dada a um casal com 11 filhos. Aos oito anos, um juiz de menores a levou para a Bahia, onde foi encontrada pelo tio João Ferreira, o único da família de Lampião que não entrou para o Cangaço. Aos 18 anos, casou-se em Aracaju e hoje tem quatro filhos e três netas.Ao voltar à Grota de Angicos para rever o local onde seu pai e sua mãe foram assassinados, ela confessa que não se emociona. “Estou calejada de tanto sofrimento. Não tenho mais lágrimas para derramar”. O desabafo vem acompanhado de uma lembrança. “Meus pais de criação nunca esconderam que eu tinha pais verdadeiros. Quando era criança, costumava ouvir frases como ‘raça de Lampião não presta’, mas, como ninguém me contava nada, eu também não perguntava”.“Eu criei meus filhos dentro de casa, para não serem agredidos”. Ao relembrar os preconceitos sofridos, Expedita demonstra revolta com o assédio da imprensa e dos escritores. “Agora, não me deixam sossegada. Estão ganhando muito dinheiro com o nome de Lampião”, lamenta.Expedita reclama também dos fotógrafos que a cercam. Ameaça cobrar R$ 100,00 por cada foto. Levanta a voz e retoma o desabafo. “Agora estão inventando até outros filhos de Lampião. Descobriram mais dois filhos de meu pai em São Paulo e Salvador. Antes, ninguém queria parentesco com ele. Hoje estão aparecendo estes irmãos”, disse. Ao fazer o protesto, Expedita adverte. “Eu não quero nem ver a cara deles. Passei 75 anos sem irmãos. Quero viver o resto de minha vida sossegada”, diz.“Voltar à Grota de Angicos é sempre uma emoção. O silêncio do local nos leva a fazer uma reflexão. Ali não houve um combate, foi um massacre”. A afirmação é de Vera Ferreira, neta de Lampião, acrescentando que, visitar o local onde eles morreram, ter o contato físico com aquela região, foi relevante para ter uma relação afetiva com a história.Depois de 70 anos da morte de Lampião, finalmente, os pesquisadores, segundo Vera, estão se aproximando da verdade. Ela critica a maioria dos filmes e dos documentários feitos, até agora, sobre o Cangaço, ressaltando, porém, dois: “O último dia de Lampião”, feito pela Rede Globo, e “Memórias do Cangaço”, de Gil Soares.O sonho da neta é transformar a Grota de Angicos em Parque Temático. Apesar de não levar muita fé na concretização do sonho da filha, Expedita sabe que ela não vai sossegar. Com a mesma indignação da mãe, Vera confirma os preconceitos sofridos quando criança. “As pessoas diziam que esta raça de Lampião não presta”.Vera também não quer ouvir sobre outros netos. Ela diz que o advogado da família está cuidando disso. Perguntada se está sendo feito exame de DNA, desconversou dizendo. “Nossa parte foi feita. Eu não sei o que está sendo feito pelo lado que está querendo aparecer”.
Antônio VicelmoRepórter /
Diário do Nordeste
A filha e a neta de Lampião estiveram no local onde ele e Maria Bonita morreram, a Grota de Angicos, em SergipePoço Redondo (SE). Com uma missa celebrada na Grota de Angicos, local onde foram assassinados Lampião, Maria Bonita e mais nove cangaceiros, foi encerrada a programação comemorativa aos 70 anos de morte de Virgulino Ferreira da Silva, na segunda-feira. A missa contou com a presença de Expedita e Vera Ferreira, filha e neta do Rei do Cangaço, respectivamente. “Só Deus e a história têm condições de julgar Lampião e seus companheiros”, disse o padre Cícero, vigário de Poço Redondo, justificando que “os cangaceiros foram frutos de uma época, assim como Santa Joana D´arc foi obrigada a lutar para defender a França”.Expedita nasceu em Porto da Folha, no Interior de Sergipe, e viveu só 21 dias com os pais, sendo dada a um casal com 11 filhos. Aos oito anos, um juiz de menores a levou para a Bahia, onde foi encontrada pelo tio João Ferreira, o único da família de Lampião que não entrou para o Cangaço. Aos 18 anos, casou-se em Aracaju e hoje tem quatro filhos e três netas.Ao voltar à Grota de Angicos para rever o local onde seu pai e sua mãe foram assassinados, ela confessa que não se emociona. “Estou calejada de tanto sofrimento. Não tenho mais lágrimas para derramar”. O desabafo vem acompanhado de uma lembrança. “Meus pais de criação nunca esconderam que eu tinha pais verdadeiros. Quando era criança, costumava ouvir frases como ‘raça de Lampião não presta’, mas, como ninguém me contava nada, eu também não perguntava”.“Eu criei meus filhos dentro de casa, para não serem agredidos”. Ao relembrar os preconceitos sofridos, Expedita demonstra revolta com o assédio da imprensa e dos escritores. “Agora, não me deixam sossegada. Estão ganhando muito dinheiro com o nome de Lampião”, lamenta.Expedita reclama também dos fotógrafos que a cercam. Ameaça cobrar R$ 100,00 por cada foto. Levanta a voz e retoma o desabafo. “Agora estão inventando até outros filhos de Lampião. Descobriram mais dois filhos de meu pai em São Paulo e Salvador. Antes, ninguém queria parentesco com ele. Hoje estão aparecendo estes irmãos”, disse. Ao fazer o protesto, Expedita adverte. “Eu não quero nem ver a cara deles. Passei 75 anos sem irmãos. Quero viver o resto de minha vida sossegada”, diz.“Voltar à Grota de Angicos é sempre uma emoção. O silêncio do local nos leva a fazer uma reflexão. Ali não houve um combate, foi um massacre”. A afirmação é de Vera Ferreira, neta de Lampião, acrescentando que, visitar o local onde eles morreram, ter o contato físico com aquela região, foi relevante para ter uma relação afetiva com a história.Depois de 70 anos da morte de Lampião, finalmente, os pesquisadores, segundo Vera, estão se aproximando da verdade. Ela critica a maioria dos filmes e dos documentários feitos, até agora, sobre o Cangaço, ressaltando, porém, dois: “O último dia de Lampião”, feito pela Rede Globo, e “Memórias do Cangaço”, de Gil Soares.O sonho da neta é transformar a Grota de Angicos em Parque Temático. Apesar de não levar muita fé na concretização do sonho da filha, Expedita sabe que ela não vai sossegar. Com a mesma indignação da mãe, Vera confirma os preconceitos sofridos quando criança. “As pessoas diziam que esta raça de Lampião não presta”.Vera também não quer ouvir sobre outros netos. Ela diz que o advogado da família está cuidando disso. Perguntada se está sendo feito exame de DNA, desconversou dizendo. “Nossa parte foi feita. Eu não sei o que está sendo feito pelo lado que está querendo aparecer”.
Antônio VicelmoRepórter /
Diário do Nordeste
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