A arquidiocese de Manaus enviou na segunda-feira, 21 de abril, uma carta de solidariedade à diocese de Roraima, devido aos acontecimentos sobre as terras indígenas da Reserva Raposa Terra do Sol. Segue, na íntegra, a mensagem:
Carta de Solidariedade da Igreja de Manaus à Igreja de Roraima.
“Felizes os que têm fome e sede de justiça,
porque serão saciados” (Mt 5,6)
“Os indígenas e afro-americanos são, sobretudo outros,
diferentes que exigem respeito e reconhecimento...
a Igreja os acompanha nas lutas por seus legítimos direitos” (DA 89)
Nós, Igreja de Manaus, diante dos recentes acontecimentos em torno das terras indígenas da Reserva Raposa Serra do Sol, queremos expressar nossa solidariedade para com a Igreja de Roraima e com as populações indígenas afetadas; o fazemos irmanados pelos laços de comunhão que une nossas Igrejas do Regional Norte I e pelo imperativo do Evangelho de Jesus Cristo, para que n´Ele nossos povos tenham vida.
Fazemos memória neste momento, do que nossos pastores afirmaram no IX Encontro de Bispos da Amazônia.
Primeiramente a alegria de ver estas populações crescerem nas suas organizações e assumindo o papel de protagonistas sociais nessa amazônia, mas ao mesmo tempo a preocupação pelo futuro desses povos, estruturalmente ameaçado pela incompatibilidade de seu modo de vida com o modelo capitalista neoliberal (cf. DMA 37)
A missão da Igreja de anunciar o Reino de Deus, em meio às populações indígenas, propõe transformações profundas e nos coloca na contramão do serviço econômico vigente. Ao defender estes povos estamos no meio de conflitos estruturais de nossa sociedade. Nesses conflitos estamos ao seu lado, porque a missão do Evangelho nos compele a lutar por um mundo que seja de todos. (Cf DMA 35).
A proximidade da Igreja junto destes povos faz perceber graves situações de injustiça como a presença do agronegócio em suas terras (cf DMA 38);
· Diante dos discursos emergentes sobre a já homologada Reserva Raposa Serra do Sol, “preocupam-nos as afirmações de organismos estatais e de políticos que defendem a diminuição das terras indígenas já homologadas. Entre estes é voz corrente que os povos indígenas são empecilho no desenvolvimento da região, mentalidade esta divulgada pela imprensa a serviço das grandes empresas” (DMA 39).
Diante deste quadro, lembramos que nossas Igrejas se comprometeram a:
Reforçar a presença, solidária e constante no mundo dos povos indígenas ... (DMA 53
Continuar as denúncias frente aos grandes projetos governamentais ou grupos econômicos que desrespeitam as populações locais (DMA 53d);
· Ter atitudes proféticas, oferecendo um julgamento ético sobre as opções e planos do Estado (DMA 69a).
Temos consciência que neste demorado e complexo processo de conquista dos direitos dos povos indígenas, somos tentados ao desânimo ou ao desespero que nos impelem a busca de outros caminhos carregados de ambigüidades. Nesta hora é importante que nossa Igreja tenha a sabedoria para uma atuação que alimente a esperança e fortaleça a resistência. Felizes os mansos, porque receberão a terra em herança! (Mt 5,5). Insistimos na mansidão, sem abrir mão da herança da terra!
Nos colocamos ao lado desta sofrida e pascal Igreja de Roraima para oferecer o apoio necessário a fim de que sejam garantidos os direitos já assegurados quando na Homologação das Terras Indígenas (contínuas, não em ilhas) da Reserva Raposa Serra do Sol. Como Igrejas locais que gestaram uma pastoral com algumas características comuns, estamos assumindo a vida do povo celebrando o mistério pascal a partir de suas características culturais... ,indicando um espírito de resistência (cf.. DMA 71b) e respondendo com o Evangelho ás forças destrutivas da vida, fomentando o cuidado pela vida, na perspectiva da civilização do amor (DMA 78e).
Manaus, 21 de abril de 2008
CNBB
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