Na tarde de hoje (08/09), após a passagem por Vanimo para um encontro com 20 mil pessoas na esplanada em frente à catedral, o Papa se deslocou para o vilarejo próximo de Baro, onde se encontrou, de maneira privada com quatro missionários argentinos que realizam um trabalho entre as comunidades mais isoladas da selva. Nas ruas, as pessoas ofereciam flores e saudavam o Pontífice, com danças e cantos tribais em sua homenagem.
Salvatore
Cernuzio - Enviado a Vanimo
Quantificá-los
seria impossível. Estavam de pé ao longo das estradas lançando folhas e pétalas
de flores, sentados em cadeiras de plástico ou no chão ao longo da parte de
terra, debruçados nas janelas das palafitas na beira do oceano. Surgiam por
trás dos arbustos ou debaixo de cabanas. À sombra de cartazes com o rosto do
Papa e a inscrição “Welcome” todos acompanharam os cerca de 6 km de percurso do
Papa da esplanada em frente à catedral de Vanimo até o vilarejo de Baro, uma
localidade ainda mais próxima à zona de fronteira da Papua Nova Guiné.
Papa vai a Vanimo e abraça o povo 'especialista em
beleza'
Francisco, de Port Moresby, voou por um dia com a Força Aérea
australiana para o noroeste de Papua Guiné para visitar essa cidade portuária
predominantemente católica, onde ...
O encontro com os missionários
Após o
encontro com 20 mil habitantes da diocese, a segunda cidade visitada na Papua
Nova Guiné, além da capital Port Moresby, Francisco quis ir a Baro para
encontrar os missionários argentinos que atuam ali há anos, entre eles o padre
Martin Prado, de 35 anos, seu velho conhecido e contato constante ao longo
desses anos. A Holy Trinity Humanistic School, uma escola católica gerida pela
paróquia da Holy Trinity e pelo Instituto do Verbo Encarnado, presente nesses
territórios desde 1997, foi o local do encontro. Um edifício escolar fundado em
1964 pelos Missionários Passionistas que, dividido em uma escola primária com
mais de 400 alunos e uma nova escola de ensino médio com 100 alunos, busca
oferecer aos estudantes uma educação humanística católica.
Danças e
cantos
Nesta
estrutura de dois andares, o Papa chegou após atravessar duas alas de multidão
dançante, com grupos que se diferenciavam pela pintura facial e pelos trajes.
Alguns estavam quase totalmente nus, outros usavam conchas, folhas e roupas de
madeira e palha. “Cada grupo étnico tem sua vestimenta de reconhecimento e os
chefes de aldeia se distinguem, por exemplo, por um certo tipo de penas ou
conchas”, explicou um missionário local. “As danças também são todas
diferentes. As oferecidas ao Papa nesses dias são danças reservadas às mais
altas autoridades e representam honra.” Durante boa parte do trajeto em um
carrinho de golfe, Francisco assistiu a essas homenagens, marcadas pelo som do
tambor 'kundu' ou por cantos típicos.
Ternura do Papa com as crianças
Aguardando-o
ali, havia um grupo incalculável de crianças vestindo a camiseta laranja do
instituto, todas alinhadas, no jardim ou nas varandas. A compostura é uma das
características da população do país, capaz de manifestações de entusiasmo além
de qualquer expectativa, mas também de passar do barulho total a um silêncio
religioso em uma fração de segundo. Em silêncio, se realizou, de fato, a
cerimônia de chegada do Pontífice, com duas crianças cegas que lhe ofereceram
colares de flores e penas. Francisco retribuiu com rosários e balas.
A apresentação da orquestra da escola
O silêncio
foi interrompido pelo coro na School & Queen of Paradise Hall, onde se
encontrava a orquestra do instituto, uma das iniciativas para fornecer aquela
formação humanística mencionada anteriormente. Ritmos com instrumentos de
cordas e percussões do repertório clássico foram oferecidas ao Papa, que
elogiou a habilidade dos estudantes. Mérito do maestro Jesus Briceño,
venezuelano que passa metade do ano na Venezuela e a outra metade na Papua Nova
Guiné. Com os jovens das tribos, o maestro utiliza o método Abreu, muito famoso
na América Latina, que consiste em usar a música para oferecer uma oportunidade
de redenção a jovens que, de outra forma, estariam em situações de
vulnerabilidade: “Eles começam a estudar e a fazer coisas belas”, conta
Briceño. Há cinco anos em Vanimo, Jesus agora lidera um grupo de cerca de 120
jovens, incluindo a pequena Maria Joseph, violinista, que compartilhou seu
testemunho com o Papa. “Estou orgulhoso desses resultados”, disse o maestro.
O trabalho
das religiosas
A parada
seguinte de Francisco foi em um pequeno palco montado com flores, plantas,
laços e algumas ‘composições’ com a imagem de Nossa Senhora de Luján, a Virgem
padroeira da Argentina, cuja devoção é fortemente vivida entre os habitantes da
vila que a chamam de Mama Luján. Mérito do padre Martin e dos outros missionários
argentinos, assim como das irmã que colaboram na missão, as Servidoras do
Senhor e da Virgem de Matará, que realizam vários apostolados nas paróquias,
dedicando-se especialmente aos doentes. À padroeira do povo porteño, também
deram o nome a uma estrutura, a "Casa de Luján", onde acolhem meninas
vítimas de violência e abusos, muitas vezes por parte de suas próprias famílias
que as acusam de bruxaria. Elas não vêm de Vanimo, mas de aldeias e regiões
vizinhas de onde fogem para escapar de uma morte certa.
A missão
nas tribos
As
religiosas, como mencionado, ajudam os missionários do Verbo Encarnado — dois
padres de vida ativa e dois monges — nessa evangelização nem sempre fácil em
lugares onde se vive um cristianismo das origens. Ou seja, onde os missionários
atuais são os primeiros a pisar nessas terras para levar a Boa Nova. As irmãs
cuidam das várias “capelas” e fazem longas viagens a lugares isolados, onde
permanecem por dias junto às comunidades. “Trabalhamos no processo de
inculturação com comunidades ligadas à natureza e ao relacionamento com a
terra.”
Este
serviço é um dos principais temas do encontro privado do Pontífice com seus
conterrâneos e um grupo de religiosas, algumas vindas das Ilhas Salomão e que,
por sua vez, entraram no pequeno salão para saudar Francisco. O padre Miguel de
La Calle contou aos meios de comunicação do Vaticano: “Falamos sobre a missão e
o Papa nos deu conselhos e sugestões. Conversamos sobre a Argentina, sobre o
nosso Instituto, mas o Santo Padre já sabe de tudo porque está sempre em
contato com o padre Martin, então não entramos em detalhes, foram conversas
gerais. Depois, Francisco experimentou o mate e a torta fria... Estamos muito
felizes que ele veio, assim como todos vocês”. “Estamos felizes”, diz também o
padre Martin, antes das últimas despedidas da partida para Port Moresby com o
C130 da Força Aérea Australiana: “Ainda não podemos acreditar que o Papa esteve
aqui conosco. Uma coisa belíssima, belíssima. "Un corazón muy grande o do
Santo Padre de vir até aqui.”
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Font https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2024-09/fronteira-entre-asia-e-oceania-papa-incente:iva-missionarios-08-09.html
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