Silvia Correale, presente em
uma coletiva na Sala de Imprensa do Vaticano poucos dias antes da cerimônia
presidida pelo Papa, relembra a figura e o trabalho realizado pela
"primeira santa argentina" e a expectativa de todos os fiéis:
"Haverá vigílias noturnas, praças cheias e telões". Em seguida, ela
também relata o incentivo que recebeu do então dom Bergoglio quando foi nomeada
postuladora da causa.
Jean-Benoît Harel - Cidade do
Vaticano
Sra. Silvia Correale,
com que disposição os argentinos estão se preparando para vivenciar esse
evento?
Certamente,
todos estão muito felizes e há uma grande atmosfera de alegria em todo o país,
porque é um marco muito importante. O Papa, em sua audiência com os familiares
da nova santa, disse que é um grande presente, que essa canonização não foi
fácil de ser realizada. Todos a sentem, todos a vivem, especialmente na
arquidiocese de Buenos Aires e na província de Santiago del Estero, onde há uma
devoção popular muito forte e muito sincera. Lá, eles prepararam celebrações
muito especiais. Por causa da diferença de horário, a missa será transmitida na
Argentina às 5h30 da manhã: como é verão, eles prepararam uma vigília contínua
durante toda a noite nas praças de Buenos Aires e Santiago, e todas estarão
cheias. Será uma bela celebração. Também sei que em outras cidades as pessoas
instalaram telões para acompanhar a celebração.
Mama Antula é
considerada por muitos como a mãe da Argentina. Por quê? O que essa santa
representa para a população?
Mama
Antula nasceu em 1730 e morreu em 1799. Ela viveu em uma época em que Buenos
Aires era um pequeno vilarejo, um lugar muito pequeno... Nasceu a 1.000 km ao
norte e chegou lá depois de percorrer a pé todo o país. Foi para Salta,
Catamarca, La Rioca, morou quatro ou cinco anos na cidade de Córdoba e sempre
andou uma distância imensa. Em todos os lugares em que morava, tentava
organizar exercícios espirituais. Ela tinha um grande carisma e todos se
sentiam chamados a fazer os exercícios de Santo Inácio. É importante lembrar
que era uma época em que nosso país era dependente da coroa espanhola e o rei
Carlos III havia praticamente expulsado os jesuítas. Foi exatamente nessa época
que nasceu a vocação de Mamãe Antula, que era próxima da Companhia de Jesus e
colaborava como leiga consagrada (naquela época, os jesuítas tinham um ramo
leigo em que as mulheres ajudavam os padres no apostolado). Quando viu que os
jesuítas haviam sido forçados a partir para Roma e outros países, ela começou
sua peregrinação pelo país usando uma batina que um padre com quem trabalhava
havia lhe dado. Ela teve a permissão do bispo e do governador e percorreu o
país organizando os exercícios de Santo Inácio. Mais tarde, quando chegou a
Buenos Aires, não foi fácil porque a situação era um pouco mais delicada. No
entanto, mesmo assim, sua vida e seu testemunho de santidade acabaram levando-a
a receber autorização para construir a casa de exercícios espirituais em Buenos
Aires. Hoje, é a única casa da época colonial ainda existente na cidade, um
Museu Histórico Nacional. A partir desse local, Mama Antula iniciou seu
trabalho de evangelização por meio de exercícios espirituais. Naquela época,
todos os nossos pais da pátria faziam exercícios espirituais naquela casa, que
se tornou um centro não apenas religioso, mas também cultural. María Antonia de
San José foi a mãe espiritual de todos que colaboraram para a instituição do
nosso Estado. É por isso que ela é a "mãe".
O Papa celebrará a
cerimônia de canonização. O que significa para o seu pontificado proclamar a
primeira santa da Argentina?
Você
teria que perguntar ao Papa (risos). Conheci o Santo Padre em 1998, quando ele
ainda era dom Jorge Mario Bergoglio: estávamos na Praça de São Pedro e ele
tinha vindo para receber o Pálio. Conversamos sobre a causa de Mama Antula
porque eu havia sido nomeada postuladora em junho daquele ano. Tive que
apresentar pedidos para assumir a causa, a primeira referente a uma beatificação
que havia começado na Argentina no início do século XX, mas tive que seguir um
caminho muito complicado e demorado porque não existiam os contatos que temos
agora em todo o mundo. A própria Santa Sé tinha que ter certeza de muitas
coisas... Portanto, uma causa muito complicada, retardada pelas guerras, pelo
Concílio Vaticano II, mas que, no entanto, tinha todos os decretos necessários.
Eles não conseguiam encontrar um postulador para dar uma "acelerada"
e, no final, nomearam-me, que era muito jovem e argentina. Foi nesse exato
momento que conheci o dom Bergoglio e lembro-me dele me dizendo: "Agora
vamos começar um caminho, eu como bispo e você como postuladora". Esse
percurso, graças a Deus, terminou em seu pontificado. Embora o milagre da beatificação
tenha sido reconhecido sob o pontificado de Bento XVI. A cerimônia foi
realizada em Santiago del Estero em 27 de agosto de 2016 e, pouco tempo depois,
um ano e meio após a beatificação, tivemos a comunicação dessa graça do milagre
para a canonização, aprovada há alguns meses. E agora a celebração será
presidida por Francisco.
Qual é a ligação
entre o Papa e Mama Antula?
Acredito
que o Papa Francisco tem sua própria devoção por Mama Antula porque ele sabe
tudo o que ela fez pela Companhia de Jesus... Naqueles tempos difíceis, quando
chegavam as cartas de Mama Antula, nas quais ela contava os frutos dos
exercícios espirituais aos jesuítas em Roma - alguns dos quais tiveram que
deixar a Companhia e trabalhar como padres diocesanos -, isso revigorava seus espíritos
e os mantinha animados. As cartas foram traduzidas e enviadas a outros
religiosos de toda a Europa para mostrar como o Senhor continuava a fazer a
vida cristã crescer por meio dos exercícios espirituais.
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