Estou preocupado com os poucos nascimentos. Há uma "cultura de despovoamento" que vem do número reduzido de nascimentos de crianças. É verdade que todo mundo pode ter um cachorrinho, mas é preciso criar filhos. Itália, Espanha... precisam de crianças. Basta pensar que um desses países mediterrâneos tem uma idade média de 46 anos! Precisamos levar o problema da natalidade a sério: foi a exortação do Papa à Associação para a Subsidiariedade e Modernização das Entidades Locais italianas (ASMEL)
Manoel Tavares/Raimundo de
Lima - Vatican News
Em seu
discurso, o Santo Padre falou dos territórios, de onde provêm os membros da
Associação, submetidos por algumas contradições da sociedade atual e por seu
modelo de desenvolvimento:
“Os
pequenos Municípios, sobretudo os que fazem parte das chamadas áreas internas,
que são a maioria, são, muitas vezes, negligenciados e se encontram em uma
situação de marginalização. Os cidadãos que ali vivem, que representam uma
parte significativa da população, sofrem por lacunas significativas, em termos
de oportunidades, que constituem uma fonte de desigualdade”.
Ouvir o
grito da terra, ouvir o grito dos pobres
À raiz de
tais lacunas encontra-se o fato de se tornar muito caro oferecer a esses
territórios a mesma quantidade de recursos dedicada a outras áreas do país.
Exemplo concreto disso é a “cultura do desperdício”: “Tudo o que não serve para
lucrar é descartado”. Isso, disse o Papa, desencadeia um círculo vicioso: a
falta de oportunidades, muitas vezes, leva a maioria da comunidade
empreendedora da população a ir embora, deixando seus territórios à mercê da
marginalidade e exclusão. Os que permanecem são, sobretudo, idosos e os que
lutam para encontrar alternativas. Daí, aumenta a necessidade da presença de um
Estado social, enquanto diminuem seus recursos. Aqui, Francisco acrescentou
outro aspecto desta dinâmica:
“Nas áreas
internas, marginais, encontra-se a maior parte do patrimônio natural, como as
florestas, áreas protegidas, de importância estratégica, em termos ambientais.
A redução progressiva da população complica ainda mais o cuidado do território.
Assim, os territórios abandonados tornam-se mais frágeis e a sua instabilidade
é a causa de calamidades e emergências extremas: chuvas torrenciais,
inundações, deslizamentos de terra, seca, incêndios e vendavais e assim por
diante.”
A partir
destas mudanças climáticas, afirmou Francisco, confirma-se a necessidade de
‘ouvir o grito da terra’, que significa ‘ouvir o grito dos pobres e
abandonados’. Na fragilidade das pessoas e do ambiente descobrimos que tudo
está interligado. Logo, a busca de soluções requer a leitura conjunta de
fenômenos, que, muitas vezes, são considerados separados.
Cuidar da nossa Casa comum
Diante de
tal realidade, o Santo Padre aproveitou para agradecer o compromisso e o
trabalho da Associação ASMEL, que busca contribuir para a proteção da dignidade
das pessoas e cuidar da nossa Casa comum, apesar de recursos escassos e entre
milhares de dificuldades.
Por isso, o
Papa recordou a necessidade de um compromisso sempre maior e convida a não
baixar a guarda e tampouco desanimar. Mas, para além da qualidade de vida e do
cuidado dos territórios, certas regiões marginais, hoje, podem ser convertidas em
verdadeiros laboratórios de inovação social, com formas de mutualidade e
reciprocidade, a benefício de todos.
Neste
sentido, o Pontífice sugeriu a dar maior atenção à busca de novas relações
entre o público e o privado, sobretudo o setor social privado. A escassez de
recursos nas áreas marginalizadas torna as pessoas mais dispostas a colaborar
para o bem comum e a participar de uma maior renovação da democracia.
Levar o
problema da natalidade muito a sério
Ao término
do seu discurso, Francisco falou aos presentes outra tendência promissora: a
das novas tecnologias, em particular a utilização de diferentes formas de
inteligência artificial:
“Estamos
descobrindo quanto elas podem revelar-se poderosos instrumentos de morte.
Quanto este poder poderia ser benéfico se fosse utilizado não para a
destruição, mas para o cuidado das pessoas, cuidado das comunidades, cuidado
dos territórios e cuidado da Casa comum.”
E por falar
em cuidados, disse por fim Francisco, estou preocupado com os poucos
nascimentos. Há uma "cultura de despovoamento" que vem do número
reduzido de nascimentos de crianças. É verdade que todo mundo pode ter um
cachorrinho, mas é preciso criar filhos. Itália, Espanha... precisam de
crianças. Basta pensar que um desses países mediterrâneos tem uma idade média
de 46 anos! Precisamos levar o problema da natalidade a sério, levá-lo a sério
porque o futuro da pátria está em jogo aí, o futuro está em jogo aí. Ter filhos
é um dever para sobreviver, para seguir adiante. Pensem nisto: esse não é um
anúncio de uma agência de natalidade, mas quero enfatizar o drama das baixas
taxas de natalidade, que devem ser levadas muito a sério.
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