O Cardeal Patriarca Latino de Jerusalém, que retornou ontem (09/10) a Israel, expressa tristeza e angústia pelo que está acontecendo no Oriente Médio, tranquiliza sobre as condições dos cristãos em Gaza e exorta a comunidade internacional, que "deve olhar novamente para a questão israelense-palestina e trabalhar para acalmar a situação também por meio de mediações não públicas".
Roberto
Cetera
Condenação
da violência em todas as suas formas, a necessidade de trabalhar para um
cessar-fogo e, acima de tudo, garantir que as armas sejam silenciadas para que
"outras vozes possam ser ouvidas". O cardeal Pierbattista Pizzaballa,
Patriarca Latino de Jerusalém, está triste, mas não totalmente surpreso com o
horror que está ocorrendo em Israel e em Gaza, pois ele mesmo já havia previsto
há muito tempo uma escalada de tensão, embora não a esse ponto. O cardeal
recém-nomeado, que retornou a Jerusalém ontem (09 de outubro), teme que a
guerra seja muito longa, pelo menos até que a questão palestina seja resolvida.
Eminência,
o senhor conseguiu voltar a Jerusalém. O que o senhor viu? Quais são suas
impressões?
Só consegui
voltar ontem à noite e também de forma bastante rude, com a ajuda das
autoridades civis e militares, tanto israelenses quanto jordanianas, porque
entrei pela Jordânia. Encontrei um país assustado, surpreso com o que está
acontecendo. Certamente esperava um aumento na violência, mas não nessas
formas, nessa extensão e com essa brutalidade. Também encontrei muita raiva e
muita expectativa de ouvir uma palavra de orientação, de conforto e também de
clareza sobre o que está acontecendo. Em resumo, encontrei um país que mudou
muito e imediatamente.
Tem
notícias específicas sobre a situação da comunidade cristã em Gaza?
Sim, todos
estão bem. Algumas famílias tiveram suas casas destruídas, mas estão seguras.
Todos estão reunidos nas instalações da paróquia e da nossa escola, até que não
sejam alvos. É claro que eles estão sob grande pressão. Eles têm reservas de
alimentos por algum tempo, mas se a situação de cerco continuar, será um
problema. Por enquanto, estamos felizes em saber que todos estão bem e estão
reunidos nas instalações da paróquia.
Muitos
comentários apontaram a imprevisibilidade dos eventos dessas horas, mas há
meses Vossa Eminência vem destacando uma escalada gradual da violência que
poderia ter degenerado em algo ainda mais sério, como está acontecendo
agora…
Infelizmente,
eu fui um profeta muito óbvio. A escalada do confronto estava lá para todos
verem. Mas uma explosão de tamanha violência, agressividade e brutalidade
ninguém havia previsto. Isso, no entanto, coloca sobre a mesa uma questão que
estava engavetada: a questão palestina, que alguns poderiam ter considerado
arquivada. Enquanto a questão palestina, a liberdade, a dignidade e o futuro
dos palestinos não forem levados em conta da maneira que é necessária hoje, as
perspectivas de paz entre Israel e a Palestina serão cada vez mais difíceis.
Eminência,
sei que, com os combates em andamento, é difícil fazer previsões, mas o senhor
consegue ver possíveis cenários para as próximas horas, para os próximos dias?
Certamente
é muito difícil fazer previsões neste momento. Está claro que não estamos em
uma operação militar, mas em uma guerra declarada. E temo que seja uma guerra
muito longa. Provavelmente, a resposta israelense não se limitará a
bombardeios, mas haverá uma operação terrestre. Está claro que, de repente,
entramos em uma nova fase na vida deste país e nas relações entre Israel e a
Palestina. Se é que podemos falar de relações.
O que
gostaria de dizer à comunidade internacional?
A comunidade internacional deve
começar a olhar novamente para o Oriente Médio e para a questão
israelense-palestina com mais atenção do que tem demonstrado até agora. E deve
trabalhar arduamente para acalmar a situação, para levar as partes à
razoabilidade por meio de mediações que não sejam necessariamente públicas,
porque deste modo não funcionarão. Precisamos de apoio para condenar todas as formas
de violência, para isolar os violentos e para trabalhar incansavelmente por um
cessar-fogo. Porque, enquanto as armas falarem, não será possível ouvir outras
vozes.
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2023-10/pizzaballa-temo-uma-gerra-muito-longa-10-outubro-2023.html
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