Desde cedo, Roque preocupou-se com a sorte dos índios, cuja
língua dominava. Pouco a pouco e vida afora, passou a conhecer e atingir
profundamente a alma guarani. Sentia, porém, mais que tudo a exploração indigna
e inumana, de que o índio era alvo constante da maioria dos “encomenderos”.
Estudou com os jesuítas. Foi ordenado sacerdote em Assunção, contando apenas 22
anos de idade.
Recém-ordenado, o padre Roque já teve sua primeira missão junto
aos índios ervateiros — que trabalhavam em verdadeira escravidão — na serra de
Maracaju, ao norte de Assunção. Fez-se aí tudo para todos, mas regressou para
Assunção por ordem superior e foi nomeado cura da catedral. Ao que parece, não
teve aceitação de todos, sobretudo de espanhóis e “encomenderos”, porque se
preocupava demais com os índios, e por isso foi considerado iletrado — já havia
estudado apenas em Assunção, e não em Alcalá e Salamanca, as grandes centrais
do conhecimento. Todavia, espalhava-se sua fama de sacerdote virtuoso, dedicado
e prudente. Não queria honrarias, por isso recusou o cargo de Provisor e
Vigário Geral da diocese, e buscou as fileiras da Companhia de Jesus, na qual
entrou a 9 de maio de 1609, sentindo-se à vontade entre os filhos de santo
Inácio, reconhecendo aí sua verdadeira vocação. Decidiu, então, tomar carreira
jesuítica.
Pouco após sua entrada, foi-lhe confiada, junto com o
experimentado padre Vicente Griffi, uma das tarefas mais difíceis e perigosas:
a pacificação dos terríveis, belicosos e valentes guaicurus do Chaco. Depois o
chamaram de “o segundo fundador”, “santo Inácio Guaçu”. Em 1611, ganhou do
padre Torres Bollo (provincial) um quadro de Nossa Senhora da Conceição, que,
depois, se tornou a célebre “conquistadora”, que haveria de acompanhar o padre
Roque em todas as suas longas e arriscadas empresas missionárias no Paraná e no
Uruguai. Pestes, fomes, doenças, catequese, educação rural e agrícola… Essas
foram as ocupações dele. Superava a tudo e a todos com a sua caridade e o seu
fervor. Muitos missionários jovens foram mandados fazer estágio com ele.
A 3 de maio de 1626, celebrou a Santa Missa, a primeira no solo
gaúcho brasileiro, batizando a nova fundação de “São Nicolau’’; era a primeira
semente do Evangelho, da fé e da civilização nessa região, que desabrochou,
depois, de forma esplêndida. Em 1628, fundou outras quatro reduções:
Candelária, Caaçapá-Mirim, Caaró e Assunção do Ijuí ou Pirapó. Mas o seu
trabalho missionário atraía o ódio dos feiticeiros e dos maus índios. E assim,
a 15 de novembro de 1628, logo após a Santa Missa, emissários do soberbo
feiticeiro Nheçu, que dominava a região próxima, descarregaram dois violentos
golpes de itaiçá (clava de pedra) na cabeça de Roque. Pouco depois,
assassinaram também o companheiro de Roque, padre Afonso Rodrigues. E no dia 17
foi a vez do padre João de Castilho, a 50 km de Caaró.
No dia seguinte, ao procurarem reunir lenha para queimar as
vítimas, os indígenas enfurecidos ouviram uma voz: “Matastes a quem tanto vos
amava e queria! Matastes, porém, meu corpo apenas, pois minha alma está nos
céus. Virão meus filhos castigar-vos, sobretudo pelo fato de haverdes
maltratado a imagem da Mãe de Deus (a ‘Conquistadora’). Voltarei, contudo,
através de meus sucessores, para vos ajudar nos muitos trabalhos, que, por
causa da minha morte, vos hão de sobrevir”. Atribuíram essa voz ao coração do
padre Roque; então, arrancaram-no e transpassaram. Hoje, o coração está
conservado num relicário.
Em 1988, o Papa João Paulo II canonizou os três primeiros
mártires sul-americanos: São Roque González, Santo Afonso Rodríguez e São João
del Castillo.
São Roque González e companheiros mártires, rogai por nós!
Fonte: Canção Nova Nnotícias
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