"A
unidade para a qual caminhamos sobrevive na diferença. Não nos encerra na
uniformidade, mas predispõe-nos para nos acolhermos nas diferenças. Isso
acontece a quem vive segundo o Espírito: aprende a encontrar cada irmão e irmã
na fé como parte do corpo a que pertence. Este é o espírito do caminho
ecumênico", disse o Papa em seu discurso na Catedral de Nossa Senhora da
Arábia, no Bahrein.
Mariangela Jaguraba - Vatican News
Após
o encontro com o Conselho Muçulmano de Anciãos, na Mesquita do Palácio Real Sakhir,
o Papa Francisco se dirigiu para a Catedral de Nossa Senhora da Arábia, em
Awali, onde se realizou o Encontro ecumênico e oração pela paz
Em sua alocução, Francisco recordou a passagem dos Atos dos
Apóstolos que fala que, em Jerusalém, no dia de Pentecostes, cada um ouvia os
discípulos falarem das maravilhas de Deus em sua própria língua. Apesar de
virem de muitas regiões, as pessoas se sentiram unidas num só Espírito.
"Hoje, como então, a variedade de origens e línguas não é um problema, mas
um recurso", disse o Papa, reiterando que "isto é válido também para
nós, porque, «num só Espírito, fomos todos batizados para formar um só
corpo»".
Quanto
nos une, supera em muito quanto nos divide
Infelizmente, com as
nossas dilacerações, ferimos o corpo santo do Senhor, mas o Espírito Santo, que
une todos os membros, é maior do que as nossas divisões carnais. Por isso é
justo afirmar que, quanto nos une, supera em muito quanto nos divide e que,
quanto mais caminharmos segundo o Espírito, tanto mais seremos levados a
desejar e, com a ajuda de Deus, a restabelecer a plena unidade entre nós.
Voltando
ao texto de Pentecostes, o Papa citou dois elementos úteis para o caminho de
comunhão entre os cristãos: "A unidade na diversidade e o testemunho de
vida". "O povo cristão é chamado a reunir-se, para que aconteçam as
maravilhas de Deus. O fato de estar aqui no Bahrein como um pequeno rebanho de
Cristo, disperso em vários lugares e confissões, ajuda a sentir a necessidade
da unidade, da partilha da fé: assim como neste arquipélago não faltam ligações
seguras entre as ilhas, assim aconteça também entre nós, para não estarmos
isolados, mas em comunhão fraterna", sublinhou.
O
louvor e a adoração nos conduzem às fontes do Espírito
"Como
fazer para aumentar a unidade, se a história, o hábito, as obrigações e as
distâncias nos parecem atrair para outras partes? Qual é o «lugar de encontro»,
o «cenáculo espiritual» da nossa comunhão?", perguntou Francisco,
respondendo que "é o louvor a Deus, que o Espírito suscita em todos. A
oração de louvor e adoração é gratuita e incondicional, atrai a alegria do
Espírito, purifica o coração, reconstitui a harmonia, sanifica a unidade. O
louvor e a adoração nos conduzem às fontes do Espírito, levando-nos de novo às
origens, à unidade".
O Papa disse
que "a unidade para a qual caminhamos sobrevive na diferença. Não nos
encerra na uniformidade, mas predispõe-nos para nos acolhermos nas diferenças.
Isso acontece a quem vive segundo o Espírito: aprende a encontrar cada irmão e
irmã na fé como parte do corpo a que pertence. Este é o espírito do caminho
ecumênico".
A seguir,
Francisco disse: "Perguntemo-nos, como avançamos neste caminho. Eu,
pastor, ministro, fiel, sou dócil à ação do Espírito? Vivo o ecumenismo como um
peso, como um compromisso extra, como um dever institucional, ou então como o
desejo veemente de Jesus de que nos tornemos «um só», como uma missão que brota
do Evangelho? Concretamente, que faço eu por aqueles irmãos e irmãs que
acreditam em Cristo e não são dos «meus»? Conheço-os, procuro-os, interesso-me
por eles? Mantenho as distâncias comportando-me de maneira formal ou então
procuro compreender a sua história e apreciar as suas particularidades, sem as
considerar obstáculos intransponíveis?"
Voltar
a descobrir e praticar a caridade
Depois da
unidade na diversidade, o Papa passou ao segundo elemento: o testemunho de
vida. No dia de Pentecostes, os discípulos se abrem, saem do Cenáculo e vão a
todos os lugares do mundo. "Jerusalém, que parecia o seu ponto de chegada,
torna-se o ponto de partida de uma aventura extraordinária", sublinhou
Francisco, reiterando que "o nosso anúncio não é tanto um discurso feito
de palavras, mas um testemunho a ser mostrado com os fatos; a fé não é um
privilégio a ser reivindicado, mas um dom a ser partilhado".
O fato de estar aqui,
no Bahrein, permitiu a muitos de vocês voltar a descobrir e praticar a genuína
simplicidade da caridade: penso na assistência aos irmãos e irmãs que chegam,
numa presença cristã que com humildade quotidiana testemunha, nos locais de
trabalho, compreensão e paciência, alegria e mansidão, benevolência e espírito
de diálogo. Numa palavra: paz.
Unidade
e testemunho são coessenciais
Francisco
disse que devemos "nos interrogar também sobre o nosso testemunho, porque,
com o passar do tempo, podemos ir em frente apenas por inércia e esmorecer em
mostrar Jesus através do espírito das Bem-aventuranças, a coerência e a bondade
da vida, a conduta pacífica". "Agora que nos encontramos a rezar
juntos pela paz, perguntemo-nos: Somos realmente pessoas de paz? Estamos
possuídos pelo desejo de manifestar, por todo o lado e sem esperar nada em
troca, a mansidão de Jesus? Fazemos nossas as fadigas, as feridas e as
desuniões que vemos ao nosso redor?"
O Papa
concluiu, dizendo que a "unidade e testemunho são coessenciais: não se
pode testemunhar verdadeiramente o Deus do amor, se não estivermos unidos entre
nós como Ele deseja; e não se pode estar unido, permanecendo cada um por conta
própria, sem se abrir ao testemunho, sem dilatar os confins dos nossos interesses
e de nossas comunidades em nome do Espírito que abraça toda a língua e anseia
por alcançar a cada um. Ele une e envia, reúne em comunhão e manda em missão.
Na oração, confiemos-Lhe o nosso percurso comum e invoquemos sobre nós a sua
efusão, um renovado Pentecostes que dê olhares novos e passos ligeiros ao nosso
caminho de unidade e paz".
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