Hoje, lembramos do santo que se tornou o fundador da Ordem dos
Cartuxos com seus seis companheiros. Essa Ordem é considerada a mais rígida de
todas as Ordens da Igreja, pelo exercício do silêncio, solidão, jejuns,
penitências e orações, e que atravessou a história sem reformas e perdura até
hoje na mesma radicalidade. Filho de família nobre de Colônia (Alemanha),
nasceu em 1030. Quando alcançou idade, ele foi chamado pelo Senhor ao
sacerdócio e se deixou seduzir. Amigo e admirado pelo Arcebispo de Reims,
Bruno, inteligente e piedoso, começou a dar aulas na escola da Catedral desse
local e chegou a estudar na escola catedralícia de Reins. Adquirido o grau de
doutor e nomeado Cônego do Capítulo da catedral, foi designado em 1056
escolaster, isto é, Reitor da Universidade. Foi um dos maestros mais renomados
de seu tempo : “(…)um homem prudente, de palavra profunda”.
Bruno
encontra-se cada vez menos à vontade numa cidade onde existem muitos motivos de
escândalo por parte do alto clero e, inclusive, do Arcebispo. Depois de ter
lutado com sucesso contra esses problemas, Bruno experimenta o desejo de uma
vida mais entregue exclusivamente a Deus. Em 1080, Concílio de Lyon, a ordem de
Gregório VII, o Papa destitui definitivamente o arcebispo Manasés e ordena a
sua expulsão de Reims. Ao voltar para sua cidade, Bruno recebe o convite para o
arcebispado, mas recusa o cargo. Tornando-se cinquentenário e cônego, ele
amadureceu na inspiração de servir a uma Ordem religiosa. Após curto estágio
num mosteiro beneditino, retirou-se para uma região chamada Cartuxa, com a
aprovação e bênção de São Hugo, Bispo de Grenoble, o qual lhe ofereceu um
lugar. No mês de junho de 1084, o mesmo bispo conduziu Bruno e seus seis
colegas (fundadores da Ordem) ao deserto do maciço montanhoso de Chartreuse
(Cartuxa), que dará seu nome à Ordem. Ali constroem seu eremitério formado com
algumas casinhas de madeira que se abrem a um corredor largo e comprido, que
permite acesso, sem sofrer muito com as mudanças de clima e tempo, aos lugares
de vida comunitária: a igreja, o refeitório e o Capítulo. Assim, eles viveriam
em quartos chamados celas isolados, mas com esse corredor que dava acesso aos
ambientes comuns. São Hugo os levou para esse local por conta de um sonho que
ele teve. Nesse sonho, apareciam-lhe sete estrelas que caíam aos seus pés para,
logo em seguida, levantarem-se e desaparecerem no deserto montanhoso. Após esse
sonho, o Bispo recebeu a visita de Bruno, que estava acompanhado por seis
companheiros monges. Ao ver os sete homens, o Bispo Hugo reconheceu imediatamente
neles as sete estrelas do sonho e concedeu-lhes as terras. Nelas, São Bruno
iniciou a Ordem gloriosa da Cartuxa, com o coração abrasado de amor por Jesus e
pelo Reino de Deus.
Com
os monges companheiros, observava-se absoluto silêncio, a fim do aprofundamento
na oração e meditação das coisas divinas, nos ofícios litúrgicos comunitários,
na obediência aos superiores, nos trabalhos agrícolas, na transcrição de
manuscritos e livros piedosos. O lema da Ordem é: “Stat Crux dum volvitur orbis” (A Cruz permanece intacta enquanto
o Mundo dá sua órbita), o que nos faz perceber que tudo passa nessa vida menos
a salvação de Cristo na cruz, o mundo gira mas a cruz permanece.
Quando
um dos discípulos de São Bruno tornou-se Papa (Urbano II), em 1088, logo o
chamou para assessor e conselheiro em 1090. Além disso, quis lhe fazer
arcebispo, porém, o santo recusou novamente. Um ano depois, pediu com
insistência ao Sumo Pontífice e conseguiu voltar à vida religiosa, quando,
juntamente com amigos de Roma, fundou, no sul da Itália, o Mosteiro de Santa
Maria da Torre, nos bosques da Calábria. Lá veio a falecer, no dia 6 de outubro
de 1101, tendo suas últimas palavras uma profissão de fé Eucarística: “Eu creio
nos Santos Sacramentos da Igreja Católica, em particular, creio que o pão e o
vinho consagrados, na Santa Missa, são o Corpo e Sangue, verdadeiros, de Jesus
Cristo”. O corpo foi enterrado no cemitério de Nossa Senhora da Torre e foi
encontrado incorrupto em 1515. Em 1514, Leão X autorizou aos cartuxos o culto
do fundador. Logo, em 1623, Gregório XV libera o culto a toda a Igreja. O
pensamento da morte e do inferno levou-o a fugir da glória e dos homens, mas a
glória e os homens o seguiu mesmo depois da morte. Os seus discípulos
espalharam-se pelo mundo inteiro, apregoando a santidade do Mestre e a glória
do escudo das setes estrelas. Ásperas penitências, prolongadas vigílias,
silêncio perpétuo com os homens e conversação incessante com Deus. À porta da
cela dos Cartuxos, morrem os rumores do mundo e começa o limiar do céu.
Um
depoimento de um de seus irmãos da Calábria: por muitos motivos merece Bruno
ser louvado, mas sobretudo por um: foi um homem de caráter sempre igual
(estável). De rosto sempre alegre e palavra modesta. Juntava a autoridade dum
pai à ternura de uma mãe. Ante ninguém fez ostentação de grandeza, senão que se
mostrou sempre manso como um cordeiro. Foi nesta vida, o verdadeiro israelita.
Tocamos
aqui, ao que parece, um ponto essencial na atitude espiritual de nosso Santo:
alegria, ação de graças. A carta aos monges da Cartuxa extravasava estes
sentimentos: “Alegrai-vos, pois, meus caríssimos irmãos, por vossa ditosa sorte
e pela liberal mão da graça de Deus para com vocês… Alegrai-vos por ter
atingido o repouso calmo e seguro do mais resguardado porto, que não se concedeu
a outros muitos pese a seus desejos e esforços”.
O
amor à solidão, consagração total a Deus dedicando-se ao único necessário,
firmeza de vontade, estabilidade e também sensatez, prudência, equilíbrio
humano; natureza inclinada à amizade e à bondade, suavidade nas relações com
seus inferiores; enfim, sólidas virtudes espirituais; todos esses rasgos se
fundem num conjunto harmonioso que se manifesta pela igualdade de ânimo de São
Bruno entre os seus. A raiz de tudo isso está na intimidade que teve sempre o
Santo com Cristo.
São
Bruno, rogai por nós!
Fonte:
Canção Nova Notícias
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