“A Igreja que hoje me
persegue, amanhã tomará a minha defesa”, disse Padre Cícero Romão
Batista. Na manhã deste sábado, 20 de agosto de 2022, essa profecia se cumpriu
quando a Diocese de Crato anunciou a abertura do processo
para beatificação do “Patriarca do Nordeste”. Foi no largo da Capela
do Socorro, em Juazeiro do Norte, ao final da tradicional missa em sufrágio da
alma do sacerdote que o bispo de Crato, Dom Magnus Henrique, fez o pronunciamento.
“Queridos filhos e
filhas da Diocese de Crato e romeiros de todo o Brasil, é com grande alegria
que vos comunico nesta manhã histórica, que recebemos oficialmente da Santa Sé,
por determinação do Santo Padre, o Papa Francisco, a carta do Dicastério das
Causas dos Santos, datada de 24 de junho de 2022, comunicando a autorização
para a abertura do Processo de Beatificação do Padre Cícero Romão Batista, que,
a partir de agora, receberá o título de “Servo de Deus”. Deus Seja
Louvado!”, comunicou o pastor diocesano.
Este
dia histórico foi possível graças ao trabalho incansável de muitas mãos,
romeiros e romeiras, leigos e leigas, padres, bispos, religiosos e
religiosas. As lágrimas que banharam os rostos dos romeiros e
devotos no momento do anúncio foram sinais de gratidão e de alegria
traduzindo o sentimento de toda uma nação.
Para entender como
chegamos até aqui
Bispo
e romeiro, Dom Magnus Henrique, nos seis meses à frente da Diocese de Crato,
abraçou a causa do Padre Cícero Romão dando continuidade aos trabalhos
realizados por seus antecessores. Em 12 de maio de 2022, por ocasião da visita “Ad
Limina”, ele entregou ao Papa Francisco uma carta
expressando o sonho dos milhares de devotos. Assim escreveu:
“…recorremos à
vossa solicitude de Pastor Universal da Santa Igreja, para pedir especial
clemência para com este sacerdote católico, amado e venerado, no sentido de
permitir a abertura de uma causa de beatificação. Esperamos que Vossa Santidade,
na hora oportuna, examine com coração de Pai e como Sucessor de Pedro este
pedido ora formulado, cuja resposta é um anseio nosso e dos milhões de devotos
do Padre Cícero” (Trecho da carta
entregue ao Santo Padre Francisco, lida por Dom Magnus na missa deste dia 20).
Em
2001, a Diocese de Crato constituiu uma comissão a fim
de preparar uma revisão histórica sobre a causa de Padre Cícero. Após
cinco anos de trabalho, em 30 de maio de 2006, uma petição foi entregue
à Congregação para a Doutrina da Fé com a assinatura de 254 bispos
brasileiros pedindo um gesto concreto de reconhecimento das ações
pastorais e apostólicas do padrinho da nação romeira no desenvolvimento da
região. Oito anos depois, em 27 de outubro de 2014, a Congregação indicou o caminho
da reconciliação do Padre Cícero Romão na carta histórica assinada pela
Secretaria de Estado do Vaticano.
Servo de Deus
Com
a autorização para abertura do processo, Padre Cícero recebe o título de “Servo
de Deus”. Nessa fase inicial, é feita uma investigação das virtudes ou
martírio. Concluído o processo, o candidato passa a ser
considerado (a) venerável. Para se tornar beato ou beata é preciso a
comprovação de um milagre alcançado por meio de sua intercessão.
Acompanhe a
aqui: Coletiva de Imprensa
ANÚNCIO AOS ROMEIROS
DA APROVAÇÃO PARA A ABERTURA DO PROCESSO DE BEATIFICAÇÃO DO PADRE
CÍCERO ROMÃO BATISTA
“Este É o Dia Que o
Senhor Fez Para Nós, alegremo-nos e n’Ele exultemos” (Sl 117).
Na
beleza das terras nordestinas, terras de homens e mulheres fortes, como afirmou
Euclides da Cunha, desabrocharam grandes figuras que deixaram marcas indeléveis
no coração do sertanejo, seja na cultura, na musicalidade que embala a nossa
esperança, nas músicas que são verdadeiros salmos da nossa luta, na arte, na
literatura, na ciência, na Fé católica e em tantos outros que, no anonimato,
deixaram seus rabiscos, e sua alma expressam na vernissagem do tempo e no museu
do coração.
A
Igreja Católica Apostólica Romana gerou e continua gerando em seu seio tantos
cientistas, escritores, Santos que transformaram as realidades do mundo da
educação, da arte, da saúde e da política e, no caminho da santidade, continuam
incansavelmente lutando todos os dias.
O
desabrochar da santidade não precisa das cátedras das universidades, embora
muitos santos foram mestres e doutores. Em nossa realidade, Deus escolheu os
fracos e pequeninos para confundir os fortes, transformando o que o mundo
acreditava ser glória em ruínas, das quais só nos restaram as sombras de um
passado pouco iluminado; logo, sombras esmaecidas. A glória no coração de Deus
passa despercebida aos olhos dos grandes deste mundo.
Dentre
tantos homens e mulheres que estão escritos nos Cânones da Igreja, existem muitos
que, no silêncio, viveram a santidade e outros fizeram seus caminhos entre
sombras e luzes, como no asseverou o Apóstolo São Paulo: “tenho
o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo. Pois o que faço não
é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer esse eu continuo fazendo”
(cf. Rm 7,18-21).
No
espírito da Lumem Gentium, somos impelidos a tomar
consciência dessa vocação universal: “Todos os fiéis cristãos, de
qualquer estado ou ordem são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição
da caridade” (LG 40). Todos somos chamados à santidade:
“Deveis ser perfeitos como vosso Pai Celeste é perfeito” (Mt 5,48).
O
Santo Padre Francisco, em sua Exortação Apostólica sobre a santidade no mundo
de hoje, interpela-nos: “Deixemo-nos estimular pelos sinais de santidade que o
Senhor nos apresenta através dos membros mais humildes deste povo que
‘participam também da função profética de Cristo, difundindo o seu testemunho
vivo, sobretudo pela vida de fé e de caridade’. Como nos sugere Santa Teresa
Benedita da Cruz, pensemos que é através de muitos deles que se constrói a
verdadeira história: ‘Na noite mais escura, surgem os maiores profetas e os
santos. (…) Certamente, os eventos decisivos da história do mundo foram
essencialmente influenciados por almas sobre as quais nada se diz nos livros de
história’” – e nos proclama categoricamente o Santo Padre: “A santidade é o
rosto mais belo da Igreja” (cf. Gaudete et exsultate,
8-9).
Em
carta que entreguei nas mãos do Santo Padre por ocasião da visita “ad
limina” no dia 12 de maio de 2022, expressei o sonho e a
história de um povo, quando assim relatei: “…recorremos à vossa solicitude de
Pastor Universal da Santa Igreja, para pedir especial clemência para com este
sacerdote católico, amado e venerado, no sentido de permitir a abertura de uma
causa de beatificação. Esperamos que Vossa Santidade, na hora oportuna, examine
com coração de Pai e como Sucessor de Pedro este pedido ora formulado, cuja
resposta é um anseio nosso e dos milhões de devotos do Padre Cícero” (Carta
entregue ao Santo Padre Francisco).
É
com os sentimentos de gratidão, alegria, júbilo e esperança que agradecemos o
trabalho incansável de tantos romeiros e romeiras, leigos e leigas, padres,
religiosos e religiosas, como também ao meu predecessor Dom Gilberto Pastana.
Quero
registrar um agradecimento todo especial, repleto de sentimentos de gratidão e
em nome deles, extensivo a todos que colocaram um chapéu de palha na cabeça ou
no coração e ergueram as mãos aos céus e cantaram uma prece, são eles: Dom
Fernando Panico, Bispo Emérito, e a Irmã Annette (in memoriam). Deus seja
louvado! Pois “Deus nunca deixou trabalho sem recompensa, nem
lágrimas sem consolação” (Padre Cícero).
Queridos filhos e
filhas da Diocese de Crato e romeiros de todo o Brasil, é com grande alegria
que vos comunico nesta manhã histórica, que recebemos oficialmente da Santa Sé,
por determinação do Santo Padre, o Papa Francisco, a carta do Dicastério das
Causas dos Santos, datada de 24 de junho de 2022, comunicando a autorização
para a abertura do Processo de Beatificação do Padre Cícero Romão Batista, que,
a partir de agora, receberá o título de “Servo de Deus”. Deus Seja Louvado!
Dom Magnus Henrique
Lopes, OFMCap.
Bispo da Diocese de
Crato
—
Por:
Jornalistas Mychelle Santos e Patrícia Mirelly
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