Ao encontrar as Filhas da Caridade Canossianas no Vaticano, Francisco tocou no dia a dia das religiosas para falar da importância de seguir o exemplo de Maria e da fundadora Madalena de Canossa, que teve a dupla pertença ao se doar a Deus e aos pobres. O alerta do Papa para não cair na tentação de fazer fofoca e ser "Irmã Reclamona" dentro da comunidade e para voltar a praticar a oração de adoração.
Andressa Collet - Vatican News
"Mulheres da
Palavra. Como Maria. Porque as mulheres falam sempre, mas é preciso falar como
Maria, que é outra coisa. Ela é a mulher da Palavra, é a discípula."
Com o
exemplo da Mãe de Deus e do tema do XVII Capítulo
Geral das Filhas da Caridade Canossianas "Mulheres da Palavra que 'amam
sem medida'", o Papa Francisco abriu o discurso às religiosas
do Instituto durante audiência no Vaticano realizada na manhã desta sexta-feira
(26). Elas estão em Roma para o encontro que termina em 30 de agosto.
Mulheres
da Palavra
"Olhando para
ela (Maria), e também conversando com ela na oração, vocês podem aprender
sempre de novo o que significa ser 'mulheres da Palavra', o que não tem nada a
ver com 'mulheres da fofoca': por favor, não confundam isto, que não haja a
fofoca entre vocês".
O
Pontífice, assim, continuou encorajando as seguidoras de Madalena de
Canossa (1774-1835) a acolher a Palavra como Maria e em
diferentes fases da vida: quando idosas, ao testemunhar às jovens que, da sua
parte, podem compartilhar o entusiasmo das descobertas ressoadas com o
Evangelho. Já as mulheres da meia-idade, alertou o Papa, "estão mais em
risco, tenham cuidado, heim!", porque é uma idade de passagem e com
algumas armadilhas, inclusive com a facilidade de se "cair
no ativismo, mesmo sem se dar conta":
"Então, não são
mais mulheres da Palavra, mas mulheres do computador, mulheres do telefone,
mulheres da agenda, e assim por diante. Então, bem-vindo esse lema para todas!
Entrar de novo na escola de Maria, para se refocar-se na Palavra e ser mulheres
'que amam sem medida'. A Palavra, não o ativismo, não ... no centro."
Amar
sem medida
Esse 'amar
sem medida', refletiu o Papa, que "vem do Espírito Santo, não vem de
nós, do nosso esforço; vem de Deus, que sempre ama sem medida". E abrir os
corações para a sua ação em nossas vidas, acrescentou Francisco, é a própria
santidade - que também faz parte do tema de discussão do encontro das
Canossianas. Assim, santidade e missão, "duas dimensões constitutivas
da vida cristã e inseparáveis uma da outra".
Madalena
de Canossa
Como fez
Madalena de Canossa, guiada pela "docilidade do Espírito" a se doar a
Deus, e também aos pobres com o estilo do Senhor que pede "proximidade,
compaixão e ternura": uma missão que começou nas periferias da cidade
italiana de Verona, lembrou o Papa. Esse é o segredo da caridade de Cristo que
moldou o coração dela segundo o modelo de Maria, uma inspiração que hoje
atravessa oceanos já que são cerca de 4 mil Filhas da Caridade em missão pelo
mundo:
"Gostei do
número de noviças que vocês têm: isso indica fecundidade, fecundidade da
congregação. É uma taxa da fecundidade. É uma pena que aqui na Europa haja
pouca gente, mas é o inverno demográfico europeu, que em vez de filhos preferem
ter cães, gatos, que é um pouco como afeto programado: eu programo o afeto, me
dão o afeto sem problemas. E se houver dor? Bem, o veterinário que vem, ponto.
E isso é uma coisa ruim: por favor, ajudem as famílias a terem filhos. É um
problema humano, e também um problema patriótico."
O
perigo das "Irmãs Reclamonas"
Francisco
também lembrou da importância da alegria na missão, um dos frutos do Espírito e
sinal do Evangelho, que deve ser testemunhada junto aos mais vulneráveis, mas
também dentro da própria comunidade para não se transformar em "Irmãs
Reclamonas":
"Isto não é um
bom sinal, porque reclamam: 'Esta superiora...', aquilo, aquele problema ... Na
diocese antiga havia uma irmã que tinha esse hábito de reclamar, e todos a
chamavam de 'Irmã Reclamona'. Nenhuma de vocês é Irmã Reclamona, mas a tentação
de reclamar, de criticar... isso fere o corpo, fere. [...] A fofoca dói
tanto e faz a Palavra de Deus morrer. 'É difícil, Padre, resolver o problema da
tagarelice, porque chega a você, o comentário'. Sim, é como o doce, que vem até
você... Mas há um belo remédio, contra a fofoca, e é muito simples: se você tem
a tentação de fofocar sobre os outros, morda a sua língua, assim ela se incha
bem e você não vai conseguir falar. Entenderam? Por favor, nada de fofoca, isso
mata a vida comunitária."
Assim, o
Papa seguiu para o fim do discurso enaltecendo a atenção que se deve ter com a
vida comunitária, cuidando "uma da outra, e sem fofoca". Além disso,
Francisco encorajou a praticar a "oração de adoração" que
"sabemos o que é, mas não praticamos tanto", por isso, "não tenham
medo de adorar", enfatizou ele:
"Adorar. Adorar.
Em silêncio, diante do Senhor, diante do Santíssimo Sacramento: adorar. Oração
de adoração: e aqui novamente vocês podem seguir o testemunho da
fundadora."
Ao final
do encontro e depois da bênção às religiosas da congregação de todas as partes
do mundo, o Papa inclusive brincou com o tradicional pedido de oração por ele,
ao dizer: "por
favor não se esqueçam de rezar por mim: rezem a favor, não contra, eh!".
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