Inserida em um contexto multirreligioso e multiétnico, a Igreja Católica canadense é a maior denominação religiosa do país. Os batizados católicos são 44% dos população, seguidos por protestantes de várias denominações (quase um terço da população). Os ortodoxos são menos de 2%. Depois estão presentes várias minorias religiosas, incluindo muçulmanos (3%), judeus (1%), budistas (1%), hindus (1%).
As origens
A fé católica chegou ao Canadá após a descoberta
desses territórios pelos europeus no século XVI. Em 7 de julho de 1534 um
sacerdote francês que acompanhava o explorador Jacques Cartier celebrou a
primeira Missa nas praias da península de Gaspé, na então Nova França.
A colonização começou com a fundação da cidade de
Québec em 1608 e Ville Marie, hoje Montreal, em 1642. Muitas congregações
religiosas francesas enviaram homens e mulheres, iniciando um intenso trabalho
missionário entre as populações autóctones formadas por quatro grandes povos:
os Hurons e os Algonquians em territórios colonizados, os Sioux, a leste, e os
Inuit, ao norte.
Um papel de destaque foi desempenhado pelos
jesuítas que se voltaram em particular para as tribos Huron, entre os quais
suas missões prosperaram no século XVII. Seu trabalho missionário foi muito
frutífero, como destaca o testemunho de Kateri Tekakwitha, (1656-1680), a
primeira Santa indígena da América do Norte, canonizado por Bento XVI em 21 de
outubro de 2012 e depois proclamada Padroeira do Meio Ambiente juntamente com
São Francisco de Assis.
Por
que o Papa Francisco vai ao Canadá
A conquista inglesa do Canadá na metade do século
XVIII marcou uma fase delicada para a Igreja Católica. No entanto, após as
dificuldades iniciais, o caminho para a convivência civil foi rápido e quando
na Inglaterra os católicos tiveram seus direitos civis reconhecidos na primeira
metade do século XIX, o catolicismo pôde se difundir livremente nos territórios
de língua inglesa.
Em 1841, o Ato de União deu pleno reconhecimento
legal à Igreja no Canadá, cuja vitalidade também é testemunhada pelo nascimento
de várias ordens religiosas. Também as Igrejas de Rito Oriental desempenharam
um papel importante no desenvolvimento da Igreja Católica no Canadá,
especialmente na parte ocidental do País onde se registaram grandes migrações
da Europa do Leste, nomeadamente da Ucrânia. Hoje a Igreja ucraniana é a maior
Igreja Oriental presente em Canadá. Outras comunidades de rito oriental reúnem
os eslovacos, os armênios, os greco-melquitas, os maronitas, os caldeus e os
siro-malabares e siro-malancares.
O país foi visitado por São João Paulo II três
vezes: em 1984, em 1987 e finalmente em 2002, por ocasião da Jornada Mundial da
Juventude em Toronto.
A Igreja canadense hoje: desafios e
problemas
Inserida em um contexto multirreligioso e
multiétnico, a Igreja Católica canadense é a maior denominação religiosa do
país. Os batizados católicos são 44% dos população, seguidos por protestantes
de várias denominações (quase um terço da população). Entre estes últimos,
predominam os fiéis pertencentes à Igreja Unida (que desde 1925 reúne
congregacionistas, metodistas e dois terços dos presbiterianos), seguidos por
anglicanos, luteranos, batistas e pentecostais. Os ortodoxos são menos de 2%.
Depois estão presentes várias minorias religiosas, incluindo muçulmanos (3%),
judeus (1%), budistas (1%), hindus (1%).
O desafio da secularização
A complexidade e o pluralismo religioso, étnico e
cultural marcam fortemente portanto este país, em cuja história não faltaram
tensões e conflitos, o que teve um efeito profundo no “modo de ser” da Igreja
Católica no Canadá, em suas relações com outras Igrejas e denominações
religiosas e com a sociedade canadense como um todo. Uma sociedade que, como
todo o Ocidente, sofreu uma marcada secularização.
De fato, a partir da década de 1960, houve um
progressivo afastamento dos fiéis da Igreja e o declínio das vocações,
especialmente em Ontário e no berço do catolicismo canadense: Québec. A Igreja
nesta província perdeu o papel de centro de influência religiosa e cultural que
deteve por algumas décadas. Um indicador disso é a evolução do sistema escolar,
que assumiu uma fisionomia cada vez mais laica, além de outras escolhas
políticas, em franco contraste com a doutrina católica.
O Canadá, de fato, provavelmente hoje é a realidade
mais 'avançada' entre as sociedades ocidentais na experimentação de novas
formas sociais, culturais e jurídicas. Reprodução assistida, clonagem humana, o
status da família e do matrimônio, a eutanásia e o suicídio assistido: sobre
estes temas no centro do debate político nestes nas últimas duas décadas no
país, a Igreja tem feito ouvir repetidamente e com força a sua voz,
nomeadamente por meio da seu Organismo para a Família e a Vida (OCVF).
Ao compromisso da Igreja na questão da proteção da
vida, desde a concepção até a morte natural, junta-se àquela em favor da
família natural fundada na união entre o homem e mulher. Neste contexto se
insere sua oposição ao casamento entre pessoas do mesmo sexo (legal desde
2005), bem como à prática da barriga de aluguel (legal desde 2017 somente na
forma gratuita) e a promoção da ideologia de gênero nas escolas.
O compromisso com a paz, o meio
ambiente e os direitos humanos
Mas a Igreja no Canadá sempre esteve muito presente
também em outros temas fortes como a paz mundial, o desarmamento, o
desenvolvimento sustentável, o meio ambiente, a justiça social, a defesa dos direitos
das populações nativas canadenses, imigrantes e refugiados e de todos os
excluídos da sociedade de bem-estar. Um compromisso assumido pela Comissão
episcopal para a Justiça e a Paz juntamente com a Comissão Permanente para o
Desenvolvimento e a Paz. Desde 2010, este último organismo atua como interface
entre a CECC e o OCCDP, a Organização católica canadense fundada em 1967 com o
duplo objetivo de oferecer ajuda ao desenvolvimento aos países mais pobres, aos
refugiados e às vítimas de guerras e desastres natural, bem como sensibilizar
os católicos canadenses sobre essas questões.
Não menos intenso o compromisso em defesa dos
direitos humanos: inúmeras denúncias e apelos dos bispos para que o Canadá faça
ouvir a sua voz em favor dos cristãos perseguidos e por todas as vítimas de
perseguições, guerras e violência no mundo.
A Igreja canadense compartilha também as crescentes
preocupações da sociedade civil com o meio ambiente. Para ajudar os fiéis a
refletir e contribuir para a construção de uma nova cultura ambiental, em 2013
o Comissão de Justiça e Paz disponibilizou para dioceses e paróquias um pequeno
compêndio de oito grandes temas abordados no ensino mais recente da Igreja
sobre o meio ambiente: a criação à imagem de Deus; a ordem intrínseca da
Criação; a relação entre "ecologia humana" e "ecologia
ambiental"; a responsabilidade do homem para com a criação; a
solidariedade; a Criação e a espiritualidade e as respostas necessárias aos
problemas ambientais de hoje.
Publicado antes da Encíclica do Papa
Francisco Laudato si’ sobre o cuidado da casa comum, o
documento é acompanhado de várias citações significativas retiradas de
mensagens, discursos, homilias e Encíclicas do Papa São João Paulo II e de
Bento XVI.
Sempre no contexto da defesa do meio ambiente e dos
direitos humanos, os bispos do Canadá intervieram em várias ocasiões na questão
da exploração mineral em países do Sul do mundo (no qual muitas empresas
canadenses também estão envolvidas), denunciando os danos e injustiças
ambientais e afirmando que a atividade econômica deve ser sempre realizada com
respeito aos direitos humanos e ao ambiente.
Preocupação com as Primeiras Nações
Em relação às questões internas, a Igreja canadense
tem há anos uma particular preocupação pastoral pelos povos indígenas (Primeira
Nações, Inuit e Métis) que ainda hoje pagam as consequências da colonização
europeia. Se na história da evangelização destas populações numerosos são os
exemplos de missionários e bispos comprometidos com a defesa dos direitos dos
ameríndios, uma parte da Igreja tornou-se corresponsável pelo sofrimento
infligido pelos colonos europeus.
Responsabilidades reconhecidas pelos bispos que
assinaram a Declaração de Nações Unidas 2007 sobre os direitos dos povos
indígenas, com especial referência à liberdade religiosa. O caso das escolas
residenciais indígenas é particularmente doloroso. Por mais de um século elas
abrigam mais de 150 mil crianças indígenas tiradas à força de suas famílias
para serem educadas na cultura europeia, no contexto das políticas de
assimilação conduzidas pelo governo canadense.
Depois do clamor suscitado no verão de 2021 com a
descoberta no terreno de algumas antigas escolas residenciais católicas dos
restos mortais de algumas crianças indígenas, a Conferência Episcopal solicitou
formalmente perdão pelo mal causado e se empenhou em colaborar com os líderes
das Primeiras Nações para apurar a verdade, bem como para financiar caminhos de
cura e reconciliação.
Neste contexto, se insere a visita ao Vaticano -
programada para se realizar inicialmente em dezembro de 2021, mas adiada devido
à Covid – de uma delegação formada por sobreviventes, bispos e líderes indígenas
para se encontrarem com o Papa Francisco.
A recordar que a Igreja Católica canadense vem
há algum tempo apoiando ativamente a causa das Primeiras Nações pelo
reconhecimento de seus direitos (a começar por aquele à terra e acesso aos
recursos naturais do país) por meio de um intenso trabalho de denúncia,
educação e conscientização da opinião pública. Soma-se a tudo isso os numerosos
programas promovidos em colaboração com a Assembleia das Primeiras Nações (ANP)
para melhorar as condições dos povos indígenas. Às First Nations é dedicada uma
seção especial do site da CECC-CCCB.
O diálogo com outras Igrejas e
confissões religiosas
Neste, como em outros âmbitos, a Igreja Católica
trabalha em estreita colaboração com outras comunidades cristãs, por meio do
Conselho Canadense de Igrejas, do qual passou a fazer parte de forma permanente
em 1997, mas também com outras confissões religiosas presentes no Canadá com as
quais existem relações baseadas no respeito mútuo e valores de convivência e
solidariedade.
A
colaboração e solidariedade com as outras comunidades religiosas é um dos
frutos mais visíveis do empenho da Igreja canadense com a promoção do diálogo
ecumênico e inter-religioso iniciado durante o Concílio Vaticano II, com a
participação em 1965 no diálogo teológico católico-ortodoxo norte-americano e
continuado com o nascimento de uma Comissão Anglicana-Católica em 1971, com
aquela para o diálogo com a Igreja Unida em 1974 até aquela com os bispos
ortodoxos canadenses em 2001, sem esquecer o Grupo de trabalho judaico-cristão,
ativo desde 1977.
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