Na
Praça São Pedro, diante de milhares de fiéis, o Papa falou do ancião Nicodemos
e comentou o mito da "eterna juventude", citando uma frase da atriz
italiana Anna Magnani, que não queria que suas rugas fossem tocadas, já que
havia levado uma vida inteira para tê-las.
Bianca Fraccalvieri – Vatican News
O Papa se inspirou na figura do ancião Nicodemos na
catequese desta quarta-feira, dando continuidade ao ciclo sobre a velhice.
Nicodemos é um dos chefes dos Judeus e está entre
as pessoas idosas mais relevantes nos Evangelhos. No seu diálogo com o Mestre,
manifesta-se o coração da Revelação de Jesus e de sua missão redentora: “Deus
amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer
não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16).
Quando Jesus lhe diz que é preciso “nascer do
Alto”, Nicodemos apresenta como objeção a velhice. Mas, à luz da palavra de
Jesus em resposta a esta objeção, descobrimos que a velhice não é um obstáculo
a este novo nascimento, e sim o tempo oportuno para entendê-lo. O “nascimento
do Alto”, que nos permite entrar no reino de Deus, é uma nova geração no
Espírito.
O mito da eterna juventude
Para o Pontífice, esta objeção é muito instrutiva,
pois a nossa época e a nossa cultura mostram uma tendência preocupante para
considerar o nascimento de um filho como uma simples questão de produção e
reprodução biológica do ser humano e cultivam então o mito da juventude eterna
como a obsessão - desesperada - da carne incorruptível.
A velhice, prosseguiu o Papa, é desprezada porque
traz a prova irrefutável do despedimento deste mito, que nos faria regressar ao
ventre da mãe, para sermos eternamente jovens no corpo. Uma coisa é o
bem-estar, disse , outra coisa é a alimentação do mito, com inúmeras cirurgias
e tratamentos estéticos. O Papa citou uma frase da atriz Anna Magnani, que não
queria que suas rugas fossem tocadas, já que havia levado uma vida inteira para
tê-las.
“É
isto: as rugas são um símbolo da experiência, um símbolo da vida, um símbolo da
maturidade, um símbolo do caminho percorrido. Não tocá-las para se tornar
jovens, mas jovens no rosto: o que interessa é toda a personalidade, o que
interessa é o coração, e o coração permanece com aquela juventude do vinho bom
que quanto mais envelhece, melhor fica.”
Os idosos são os mensageiros da
ternura
A vida em nossa carne mortal é uma belíssima obra
inacabada, como algumas obras de arte que, apesar de incompletas, possuem um
fascínio único. Porque a nossa vida aqui na terra é iniciação, e não
consumação. A fé, que acolhe o anúncio evangélico do reino de Deus ao qual
estamos destinados, nos torna capazes de ver os sinais de esperança nesta nova
vida em Deus. A velhice é a condição na qual o milagre do “nascimento do alto”
pode ser assimilado intimamente e tornar-se sinal de credibilidade para a
humanidade.
Nesta perspetiva, a velhice tem uma beleza única:
caminhamos rumo ao Eterno. Ninguém pode voltar a entrar no ventre da mãe, nem
sequer no seu substituto tecnológico e consumista. Isso seria triste, mesmo que
fosse possível. O velho caminha para a frente, em direção ao destino, rumo ao
céu de Deus. A velhice, por conseguinte, é um tempo especial para dissolver o
futuro da ilusão tecnocrática de uma sobrevivência biológica e robótica, mas
sobretudo porque se abre à ternura do útero criador e gerador de Deus.
O Papa então destacou uma palavra: a ternura dos
idosos, a ternura com a qual se relacionam com os netos. Estar ternura nos
ajuda a compreender a ternura de Deus. "Deus é assim, sabe
acariciar."
“Os
idosos são os mensageiros do futuro, os mensageiros da ternura, os mensageiros
da sabedoria de uma vida vivida. Vamos em frente e olhemos para os idosos.”
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