A Rede Eclesial Pan-Amazônica, a
Repam-Brasil, por meio da sua presidência, divulgou na tarde da última
quarta-feira, 15 de junho, uma nota na qual exige providências urgentes do
governo frente às mortes e degradação no território amazônico.
“É indispensável o desenvolvimento de
ações rápidas do Estado brasileiro, por meio do Governo Federal, Congresso
Nacional e Ministério Público, para conter o avanço destruidor sobre a
Amazônia. É necessário não só prestar esclarecimentos sobre o desaparecimento
de Bruno e Dominic, mas agilidade nas apurações, e punição dos responsáveis por
tantas mortes e tanta dor que pesam sobre a Amazônia, seus povos e seus
defensores”, diz trecho da nota.
O presidente da Repam-Brasil, dom
Evaristo Pascal Spengler conversou com a Rádio Vaticano – Vatican News:
“A morte do jornalista dom Phillips e
do indigenista Bruno Araújo Pereira traz à tona a insegurança e as ameaças em
que há décadas vivem os defensores dos direitos dos povos da Amazônia e de seus
territórios como os indígenas, os quilombolas e os ribeirinhos. Essa situação
persiste porque na Amazônia impera a ilegalidade em vários setores,
principalmente na pesca predatória, na mineração, e na extração de madeira.
Constantemente esses setores ilegais aliam-se ao tráfico de drogas, ao tráfico
de armas, e ao tráfico de pessoas. É conhecida a dificuldade logística na
região Amazônica, e o Estado brasileiro é ausente, inerte, omisso em muitas
partes da Amazônia.
O Vale do Javari onde ocorreram as
mortes recentes é um retrato fiel dessa realidade. É imperativo na Amazônia uma
presença firme do Estado para curar não só as mortes do Dom Phillips e do
Bruno, talvez esse fato repercutiu, porque envolveu um estrangeiro.
Muitos defensores dos direitos dos
povos, dos territórios, e das florestas são constantemente assassinados, isso
já encarado como um fato normal, quem apurou as suas mortes? A Igreja cobra do
Estado brasileiro uma apuração séria dos que foram assassinados por defenderem
os povos e o bioma amazônico, e pede proteção a todos aqueles que se encontram
ameaçados na Amazônia”, disse dom Evaristo.
A Rádio Vaticano – Vatican News
também ouviu a professora Márcia Maria de Oliveira, da Universidade Federal de
Roraima (UFRR), assessora da Repam:
“O posicionamento da nota emitida
pela Rede Eclesial Pan-Amazônica com muita coragem exigindo que se faça
investigação séria, que se faça justiça no caso do assassinato covarde do
indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips é uma mensagem de muita
esperança no contexto em que todos os dias defensores e defensoras da Amazônia
estão sendo ameaçados, torturados e assassinados. O caso desses dois
companheiros nesta semana não são casos isolados, todos os dias ocorrem assassinatos
em toda a região pan-amazônica.
Somente de 2019 para cá foram seis
indígenas, lideranças do Movimento em defesa da Amazônia que foram
assassinados. Famílias inteiras, como o que vem ocorrendo também com os
camponeses que se posicionam em defesa da Amazônia.
Então, os defensores e defensoras da
floresta correm risco de vida o tempo todo por defenderem a criação, por
defenderem a casa comum e se posicionarem firmemente com os valores da ecologia
integral exigindo que os bens que aqui estão, sejam bens compartilhados entre
os que vivem nessa região e não levados, de forma comercializada, por aqueles
que não vivem e não cuidam da região. Por aqueles que só querem extrair de
forma predatória os recursos que alimentam, que garantem a vida dos povos que vivem
na Amazônia.
É uma questão de justiça, é uma
questão de cuidar da Casa Comum, de se posicionar firmemente frente à obra da
criação, mas que tem custado muitas vidas. Então, todo apoio, toda a pressão
internacional que nós conseguirmos neste momento será muito importante para
fazer justiça no caso de Bruno e Dom mas também nas diversas situações de morte
que nós tivemos nos últimos anos na Amazônia. De modo especial por conta de um
posicionamento do governo que realmente assumiu extrair da região todas as suas
riquezas, todos os seus recursos, por grupos que não tem nenhum compromisso com
a Amazônia, não tem nenhuma vivência nenhuma relação com a Amazônia”, disse.
Por Silvonei José - Vatican News
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